LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
CAPÍTULO
VI– VIDA ESPÍRITA
VII- Relações Simpáticas
e Antipáticas dos Espíritos
Metades Eternas
(Questões 291 à 303)
Além da simpatia geral, determinada pelas semelhanças, há afeições
particulares entre os Espíritos, como entre
os homens. Mas o liame que une os Espíritos é mais forte na ausência do corpo,
porque não está mais exposto às vicissitudes das paixões.
Não há aversões entre os Espíritos, senão entre
os Espíritos impuros, e são estes que excitam entre vós as inimizades e as
dissensões.
Dois seres que foram inimigos na Terra não conservarão os seus ressentimentos
no mundo dos Espíritos; compreenderão que sua dissensão era estúpida e o
motivo, pueril. Apenas os Espíritos imperfeitos conservam uma espécie de
animosidade, até que se purifiquem. Se não foi senão um interesse material o
que os separou, não pensarão mais nele por pouco desmaterializados que estejam.
Se não houver antipatia entre eles, o motivo da dissensão não mais existindo,
podem rever-se com prazer.
Comentário de Kardec: Da mesma maneira que dois escolares,
chegando à idade da razão, reconhecem a puerilidade de suas brigas infantis e
deixam de se malquerer.
A lembrança das más ações que dois homens cometeram, um contra o outro, é
obstáculo à sua simpatia, pois que ela os leva
a se distanciarem.
O sentimento que experimentam, após a morte, aqueles a quem fizemos mal
neste mundo, se são bons, perdoam, de acordo com o vosso
arrependimento. Se são maus, podem conservar o ressentimento, e por vezes vos
perseguir até numa outra existência. Deus pode permiti-lo, como um castigo.
As afeições dos Espíritos não são suscetíveis de alteração, porque
eles não podem enganar-se, não usam mais a máscara sob a qual se ocultam
os hipócritas, e é por isso que as suas afeições são inalteráveis, quando eles
são puros. O amor que os une é para eles fonte de uma suprema felicidade.
A afeição que dois seres mantiveram na Terra prossegue sempre no
mundo dos Espíritos, sem dúvida, se ela se baseia numa verdadeira
simpatia: mas se as causas de ordem física tiverem maior influência que a
simpatia, ela cessa com as causas. As afeições, entre os Espíritos, são mais
sólidas e mais duráveis que na Terra, porque não estão subordinadas ao capricho
dos interesses materiais e do amor-próprio.
As almas que se devem unir não estão predestinadas a essa união desde a
sua origem, nem cada um de nós tem, em alguma parte do Universo, a sua metade,
à qual algum dia se unirá fatalmente; não existe
união particular e fatal entre duas almas. A união existe entre os Espíritos,
mas em graus diferentes, segundo a ordem que ocupam, ou seja, de acordo com a
perfeição que adquiriram: quanto mais perfeitos, tanto mais unidos. Da
discórdia nascem todos os males humanos; da concórdia resulta felicidade
completa.
Seria inexato entender a palavra metade, para designar que certos
Espíritos se servem, e para designar os Espíritos simpáticos; pois se
um Espírito fosse a metade de outro, quando separado estaria incompleto.
Todos os
Espíritos são unidos entre si. Falo dos que já atingiram a perfeição. Nas
esferas inferiores, quando um Espírito se eleva, já não tem a mesma
simpatia pelos que deixou.
Dois Espíritos simpáticos são se unem pela simpatia que é o resultado de
uma afinidade perfeita. A simpatia que atrai um Espírito para outro é o
resultado da perfeita concordância de suas tendências, de seus instintos; se um,
devesse completar o outro, perderia a sua individualidade.
A afinidade necessária para a simpatia perfeita consiste apenas na igualdade
dos graus de elevação.
Os Espíritos que hoje não são simpáticos podem sê-lo mais tarde,
todos o serão. Assim, o Espírito que está numa determinada esfera inferior,
quando se. Aperfeiçoar, chegará à esfera em que se encontra o outro. Seu
encontro se realizará mais prontamente se o Espírito mais elevado, suportando
mal as provas a que se submetera, tiver permanecido no mesmo estado.
Certamente, dois Espíritos simpáticos podem deixar de sê-lo,
se um deles é preguiçoso.
Comentário de Kardec: A teoria das
metades eternas é uma imagem que representa a união de dois Espíritos
simpáticos. E uma expressão usada até mesmo na linguagem vulgar e que não deve
ser tomada ao pé da letra. Os Espíritos que dela se servem não pertencem à
ordem mais elevada. A esfera de suas ideias é necessariamente limitada, e
exprimiram o seu pensamento pelos termos de que se teriam servido na vida
corpórea É necessário rejeitar esta ideia de que dois Espíritos, criados um
para o outro devem um dia fatalmente reunir-se na eternidade, após terem
permanecido separados durante um lapso de tempo mais ou menos longo.
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