82. O fenômeno de que tratamos são provocados. Mas acontece às vezes que ocorrem de maneira espontânea. Não intervém então à vontade dos participantes, e longe disso, pois se tornam quase sempre muito importunos. O que exclui, além disso, a suposição de serem efeitos de sua imaginação superexcitada pelas idéias espíritas é que ocorrem entre pessoas que nunca ouviram falar a respeito e quando menos elas podiam esperar. Esses fenômenos, cujas manifestações se poderia considerar como de prática natural, são muito importantes porque excluem as suspeitas de conivência. Recomendamos, por isso, às pessoas que se ocupam de fenômenos espíritas, coletarem todos os fatos desse gênero de que tiverem conhecimento, mas sobretudo constatarem cuidadosamente a sua realidade através de minucioso estudo das circunstâncias, para se assegurarem de não se tratar de simples ilusão ou mistificação(1)
83. De todas as manifestações espíritas, as mais simples e freqüentes são os ruídos e as pancadas. Mas é sobretudo nesses casos que devemos temer a ilusão, pois há muitas causas naturais que podem produzi-las: o vento que assobia ou sacode um objeto, algo que a gente mesmo está movendo sem perceber, um efeito acústico, um animal oculto, um inseto e assim por diante, e até mesmo brincadeiras de mau gosto. Os ruídos espíritas têm, aliás, características inconfundíveis, com intensidade e timbre muito variados. São facilmente reconhecíveis e não podem ser confundidos com os estalidos da madeira, o crepitar do fogo ou o tique-taque de um relógio. São golpes secos, ás vezes surdos, fracos e leves, de outras vezes claros, distintos, até mesmo barulhentos, que mudam de lugar e se repetem sem nenhuma regularidade mecânica. De todos os meios de controle, o mais eficaz e que não deixa nenhuma dúvida quanto à origem é submetê-lo à nossa vontade. Se eles se fizeram ouvir ao lado que indicamos, se responderem ao nosso pensamento dando o número que pedimos, aumentando ou diminuindo sua intensidade, não podemos negar a presença de uma causa inteligente. Mas a falta de resposta nem sempre prova o contrário.
84. Admitindo, porém, depois de minuciosa constatação, que os ruídos ou qualquer outro efeito são manifestações reais, seria racional que nos amedrontássemos? Seguramente não. Porque em caso algum oferecerá o menor perigo. Só podem ser afetadas de maneira prejudicial às pessoas que acreditam tratar-se do Diabo, como as crianças que temem o lobisomem ou bicho-papão. Essas manifestações, em certas circunstâncias, aumentam e adquirem persistência desagradável. É necessária uma explicação a respeito, pois é natural que então se queira afastá-las.
85. Já dissemos que as manifestações físicas têm por fim chamar a nossa atenção para alguma coisa e convencer-nos da presença de um poder superior ao homem. Dissemos também que os Espíritos elevados não se ocupam dessas manifestações, servindo-se dos inferiores para produzi-las, como nos servimos de criados para serviços grosseiros, e por isso com a finalidade que acima indicamos. Atingida essa finalidade, cessa a manifestação, que não é necessária. Um ou dois exemplos tornarão a questão mais compreensível.
86. Há muitos anos, quando iniciava meus estudos de Espiritismo, trabalhando uma noite nesse assunto, ouvi golpes que soaram ao meu redor durante quatro horas seguidas. Era a primeira vez que isso me acontecia. Verifiquei que não tinham nenhuma causa acidental, mas no momento não pude saber nada mais. Nessa época eu me encontrava sempre com um excelente médium escrevente. Logo no dia seguinte perguntei ao Espírito que se comunicava por ele qual era a casa dos golpes. Respondeu-me: Era o teu Espírito Familiar que queria falar-te. – E o que queria dizer-me? – Resposta: Podes perguntar a ele mesmo, que está aqui.Interroguei-o e ele se deu a conhecer por um nome alegórico. (Soube, depois, por outros Espíritos, que ele pertence a uma ordem muito elevada e que desempenhou na Terra um papel importante), indicou erros no meu trabalho, apontando as linhas em que eu os encontraria, deu-me útil e sábio conselho e acrescentou que estaria sempre comigo e me atenderia quando eu quisesse interrogá-lo. Desde então, realmente, esse Espírito jamais me deixou.(2)
Deu-me numerosas provas de grande superioridade e sua intervenção benévola e eficaz socorreu-me tanto nos problemas da vida material quanto nos metafísicos. Mas desde essa primeira conversa os golpes cessaram. O que desejava ele, com efeito? Estabelecer comunicação regular comigo, e para isso precisava me avisar. Dado o aviso, explica a sua razão e estabelecidas as relações regulares, os golpes não eram mais necessários. Não se toca mais o tambor para acordar os soldados, quando eles já se levantaram.
Caso quase semelhante ocorreu com um de nossos amigos. Há tempos que no seu quarto ressoavam barulhos diversos, que já se tornavam cansativos. Tendo a oportunidade de interrogar o Espírito de seu pai por um médium escrevente, soube o que dele queriam, atendeu o pedido e não ouviu mais os barulhos. Assinalemos que as pessoas que dispõem de meio regular e fácil de comunicação com os Espíritos, como se compreende, estão muito menos sujeita a manifestações desse gênero.
87. As manifestações espontâneas nem sempre se limitam a ruídos e batidas. Degeneram às vezes em verdadeira barulheira e em perturbações. Móveis e objetos são revirados, projéteis diversos são atirados de fora, portas e janelas são abertas e fechadas por mãos invisíveis, vidraças se quebram e tudo isso não pode ser levado à conta de ilusão.
Toda essa desordem é muitas vezes real, mas algumas vezes é apenas aparente. Ouve-se gritaria num cômodo ao lado, barulho de louça que cai e se despedaça, de achas de lenha rolando no assoalho. Corre-se para ver e encontra-se tudo tranqüilo em ordem. Mas a gente se retira, porém, e o tumulto recomeça.
88. Essas manifestações não são raras nem novas. São poucas as crônicas locais que não incluem alguma estória desse gênero. O medo, sem dúvida, freqüentemente exagerou esses fatos, dando-lhes, proporções enormemente ridículas em sua transmissão oral. Com a ajuda das superstições,as casas em que se verificam foram consideradas como assombradas pelo Diabo. Daí todos os contos maravilhosos ou terríveis de fantasmas. A trapaça, por sua vez, não perdeu a ocasião de explorar a credulidade, quase sempre em proveito pessoal. Compreende-se ainda a impressão que fatos dessa espécie, mesmo reduzidos á realidade, podem produzir em caracteres fracos e predispostos pela educação às idéias supersticiosas. O meio mais seguro de prevenir os inconvenientes que possam acarretar, pois não se pode impedi-los, é dar a conhecer a verdade. As coisas mais simples tornam-se assustadoras quando ignoramos as causas. Havendo familiaridade com os Espíritos, e os que recebem suas comunicações não mais acreditando que se trata de demônios, o medo desaparecerá.(3)
Muitos fatos autênticos desse gênero podem ser lidos na Revista Espírita. Entre outros, o do Espírito batedor de Bergzabem, cujas estripulias duraram mais de oito anos (Nº de maio, junho e julho de 1858); o de Dibbelsdorf (agosto de 1858); o do Padeiro das Grandes Vendas, próximo a Dieppe (março de 1860); o da Rua de Noyers, em Paris (agosto de 1860); o do Espírito de Casstelnaudary, sob o título de História de Um Danado o da fabricante de São Petersburgo (abril de 1860), e assim por diante.(4)
89. Essas manifestações freqüentemente assumem o caráter de verdadeira perseguição. Conhecemos seis irmãs que moravam juntas e que, durante muitos anos, encontravam de manhã suas roupas esparramadas, ás vezes escondidas no teto, rasgadas e cortadas em pedaços, apesar das precauções que tomavam, guardando-as à chave. Tem acontecido muitas vezes que pessoas deitadas, mas perfeitamente acordadas, viam sacudir as cortinas, arrancarem-lhes violentamente as cobertas e os travesseiros, foram erguidos no ar e às vezes até mesmo atirados fora do leito. Esses fatos são mais freqüentes do que se pensa, mas a maioria das vítimas não os conta por medo do ridículo. Soubemos que tentaram curar algumas pessoas, por entenderem que se tratava de alucinações, submetendo-as ao tratamento dos alienados, o que as deixou realmente loucas.
A Medicina não pode compreender esses fatos, por que só admite causas materiais, do que resultaram negligências funestas. A História relatará um dia certos tratamentos do século XIX como hoje se relatam certos processos da Idade Média.(5)
Admitimos perfeitamente que alguns casos são obra da malícia ou da malvadez, mas quando se averiguou suficientemente que não são produzidos por ninguém, temos de convir que são, para uns, obra do Diabo, e para nós dos Espíritos. Mas de que Espíritos?
90. Os Espíritos superiores, como os homens sérios entre nós, não gostam de fazer travessuras. Muitas vezes interpelamos esses Espíritos sobre o motivo de perturbarem o sossego alheio. A maioria quer apenas divertir-se. São Espíritos antes levianos do que maus. Riem dos sustos que pregam e do trabalho que dão para descobrir a causa do tumulto. Muitas vezes apegam-se a uma pessoa e se divertem a incomodá-la por toda parte. De outras vezes se apegam a um lugar por simples capricho. Algumas vezes também se trata de uma vingança, como veremos. Em certos casos sua intenção é a mais louvável: querem chamar a atenção e estabelecer comunicação, seja para transmitir à pessoa um aviso útil, seja para fazer um pedido. Vimo-los muitas vezes pedir preces, o cumprimento de um voto que em vida não puderam realizar, e outros quererem, para o seu próprio sossego, reparar uma maldade praticada em vida. Em geral, é um erro amedrontar-se com a sua presença que pode ser importuna mas não perigosa.
Compreende-se o desejo de livrar-se deles, mas para isso geralmente se faz o contrário do que se deve. Quando se trata de Espíritos que se divertem, quanto mais se levá-los a sério, mais persistirão, como as crianças traquinas que impacientam as pessoas e assustam os medrosos. Se, pelo contrário, as pessoas também rirem com as suas peças, acabaram por se cansar e deixá-las em paz. Conhecemos alguém que em vez de se irritar os excitava, os desafiava a fazer isto ou aquilo,de maneira que em alguns dias se afastaram. Mas como dissemos, há os que agem por motivos menos frívolos. Por isso é sempre útil saber o que eles desejam. Se pedirem alguma coisa, é certo que cessarão suas visitas quando forem satisfeitos. O melhor meio de informação é evocá-los através de um bom médium escrevente. Pelas suas respostas, logo se verá quem são e se poderá agir convenientemente. Se for um Espírito infeliz, a caridade manda tratá-lo com as atenções que merece; se um brincalhão, pode tratá-lo sem rodeios; se um malvado, deve pedir a Deus que o melhore. Em todos os casos a prece só pode dar bons resultados. Mas a solenidade das fórmulas de exorcismo lhes provoca o riso: não lhe dão nenhuma importância. Se puder entrar em comunicação com eles, é preciso desconfiar dos qualificativos burlescos ou assustadores que algumas vezes se dão, para se divertirem com a credulidade dos ouvintes.
Voltaremos a tratar deste assunto com mais detalhes, bem como das causas que freqüentemente tornam as preces ineficazes, nos capítulos: Lugares Assombrados(IX) e DA Obsessão (XXIII).
91. Embora produzidos por Espíritos inferiores, esses fenômenos são freqüentemente provocados por Espíritos de ordem mais elevada, com o objetivo de demonstrar a existência dos seres incorpóreos, dotados de poderes superiores aos humanos. A repercussão que alcançam, o próprio horror que chegam a causar, desperta a atenção para o assunto e acabam por abrir os olhos dos mais incrédulos. Estes acham mais simples considerar os fenômenos como efeitos da imaginação, explicação muito cômoda e que dispensa a busca de outras. Mas quando os objetos são revirados ou atirados á cabeça das pessoas, só uma imaginação muito complacente poderia estar em jogo para que os fatos não sejam reais. Se alguma coisa acontece, tem forçosamente uma causa, e se uma fria e serena observação demonstra que esse efeito independe da vontade humana, e de toda causa material, e que além disso apresenta sinais evidentes de inteligência e vontade próprias, o que é o seu traço mais característicos, somos forçados a atribuí-la a uma inteligência oculta.Mas que seres misteriosos são esses? É o que os estudos espíritas nos revelam de maneira dificilmente contestável, graças aos meios que nos proporcionam de nos comunicarmos com eles.
Aliás, os estudos espíritas nos ensinam também a distinguir o que há de real, de falso ou de exagero nos fenômenos que examinamos. Quando um efeito estranho se produz: um ruído, um movimento, ou mesmo uma aparição, o primeiro pensamento que devemos ter é o de que a sua causa é natural, porque é a mais provável. Devemos então procurar essa causa com o maior cuidado, não admitindo a intervenção dos espíritos senão quando bem averiguada. Esse é o meio de evitarmos a ilusão. Aquele, por exemplo, que recebesse uma bofetada ou bordoada nas costas, sem estar perto de ninguém, como já se tem visto, não poderia duvidar da presença de um ser invisível.(6)
Devemos acautelar-nos contra os relatos que podem ser considerados muito ou pouco exagerados, e também contra as nossas próprias impressões, para não atribuirmos origem oculta a tudo quanto não pudermos explicar. Há muitas causas simples e naturais que podem produzir efeitos estranhos à primeira vista, e seria evidentemente supersticioso ver Espíritos por toda à parte, ocupados em derrubar móveis, quebrar louçaria, provocar todos esses distúrbios domésticos que é mais razoável atribuirmos ao descuido.
92. A explicação do movimento dos corpos inertes aplica-se naturalmente a todos os efeitos de que acabamos de tratar. Os ruídos, embora mais fortes que os golpes na mesa, tem a mesma causa; o lançamento ou deslocação de objetos é produzido pela mesma força que levanta objetos. Há mesmo uma circunstância que serve de apoio a essa teoria. Poderíamos perguntar onde se encontra o médium, nesses casos. Os Espíritos explicaram que há sempre alguém cujas forças são usadas á sua revelia. As manifestações espontâneas raramente ocorrem em lugares isolados. È quase sempre em casas habitadas que elas se verificam, em virtude da presença de certas pessoas que exercem sem querer a sua influência. Trata-se de verdadeiros médiuns que ignoram as suas faculdades e por isso os chamamos de médiuns naturais. Estão para os outros médiuns na condição dos sonâmbulos naturais para os sonâmbulos magnéticos, e são como eles dignos de observação.
93. A intervenção voluntária ou involuntária de pessoa dotada de aptidão especial parece necessária, na maioria dos casos, para a produção desses fenômenos, embora haja aqueles em que o Espírito parece agir sozinho. Mas ainda nesse caso ele poderia tirar o fluido animalizado de uma pessoa distante. Isso explica por que os Espíritos que nos cercam incessantemente não produzem perturbações a cada instante. É necessário primeiro que o Espírito queira, que tenha um objetivo, um motivo para fazê-lo. A seguir, que encontre, precisamente no lugar em que pretende agir, uma pessoa apta a ajudá-lo, coincidência que só raramente ocorre. Se essa pessoa aparece inesperadamente, ele a aproveita. Mas apesar das circunstâncias favoráveis, ele poderia ainda ser impedido por uma vontade superior que não lhe permitisse agir como quer. Pode também só lhe ser permitido agir dentro de certos limites, nos casos em que essas manifestações sejam consideradas úteis, seja para servirem com meio de convicção ou de experiência para a pessoa que as suporta.
94. Citaremos a respeito à conversação suscitada pelos fatos verificados em junho de 1860 na rua Dês Noyers, em Paris. Os pormenores se encontram na Revista Espírita de agosto de 1860.
1. (A São Luís) Teria a bondade de nos dizer se os fatos que dizem ter ocorrido na rua Dês Noyers são reais? Quanto á sua possibilidade não temos dúvidas.
— Sim, esses fatos são verdadeiros, mas a imaginação do povo os exagerou, seja por medo ou por ironia. Entretanto, repito, são verdadeiros. Foram manifestações de um Espírito que se diverte um pouco com os moradores.
2. Há alguém, na casa, que dê motivo a essas manifestações?
— Elas são sempre provocadas pela presença de uma pessoa detestada. O Espírito perturbador se aborrece com o habitante do lugar em que ele se encontra e quer pregar-lhe algumas peças ou fazê-lo mudar-se.
3. Perguntamos se há, entre os moradores, alguém que seja a causa dos fenômenos, em virtude de mediunidade espontânea e involuntária.
— Isso é necessário, pois sem isso o fato não poderia se dar. Um Espírito mora num lugar de sua predileção. Enquanto ali não aparece uma pessoa de que se possa servir, fica sem ação. Quando essa pessoa aparece, então ele se diverte quanto pode.
4. A presença dessa pessoa no próprio lugar é indispensável?
— É o mais comum e foi o que aconteceu no caso citado. Por isso eu disse que sem isso o fato não teria ocorrido. Mas não quis generalizar. Há casos em que a presença no local não é necessária.
5. Sendo esses espíritos de ordem inferior,a aptidão para lhes servir de auxiliar é uma indicação desfavorável para a pessoa? Indica uma simpatia de sua parte para com os seres dessa natureza?
— Não precisamente, porque essa aptidão decorre de uma disposição física. Mas indica quase sempre uma tendência material que seria preferível não possuir, pois quanto mais elevada moralmente, mais à pessoa atrai os Bons Espíritos, que necessariamente afastam os maus.
6. Onde o espírito vai buscar os objetos que atira?
— Esses objetos são quase sempre encontrados no próprio lugar ou na vizinhança. Uma força que sai do Espírito os lança no espaço e os faz cair onde ele quer.
7. Desde que as manifestações espontâneas são muitas vezes permitidas e até mesmo provocadas com o fim de convencer, parece-nos que se alguns incrédulos fossem o seu alvo seriam forçados a render-se à evidência. Eles às vezes se queixam de não haver testemunhado fatos concludentes. Não dependeria dos Espíritos dar-lhes alguma prova sensível?
— Os ateus e os materialistas não testemunham cada instante os efeitos do poder de Deus e do pensamento? Mas isso não os impede de negar a Deus e a Alma. Os milagres de Jesus converteram todos os seus contemporâneos? Os Fariseus que lhe diziam: “Mestre, fazei-nos ver algum prodígio”, não se pareciam com esses que hoje vos pedem para ver manifestações? Se não se deixam convencer pelas maravilhas da Criação, não seriam mais tocados pelo aparecimento de um Espírito, mesmo da maneira mais evidente, pois o seu orgulho os transforma em animais empacados. Não lhes faltariam ocasiões de ver, se eles as procurassem de boa fé. É por isso que Deus não julga conveniente fazer por eles mais do que não faz nem mesmo para aqueles que sinceramente buscam instruir-se, porque ele só recompensa os homens de boa vontade Essa incredulidade não impedirá que se cumpra à vontade de Deus. Já vistes que ela não impediu a expansão da doutrina. Não vos inquieteis, pois, com a sua oposição, que é para a doutrina como a sombra numa pintura: dá-lhe maior relevo. Que méritos teriam eles se fossem convencidos à força? Deus lhes deixa a responsabilidade da teimosia, e essa responsabilidade é mais pesada do que pensais. Felizes os que crêem sem ter visto, disse Jesus, porque eles não duvidam do poder de Deus.
8. Achas convenientes evocar esse Espírito para lhe pedirmos algumas explicações?
— Evoca-o se o quiseres, mas é um Espírito inferior,que só dará respostas de pouca significação
95. Conservação com o Espírito perturbador da rua Dês Noyers:
1. Evocação.
— Por que me chamaste? Queres, acaso, umas pedradas? Então é que se veria um belo corre-corre, apesar do teu ar de bravura!
2. Mesmo que nos desses pedradas, isso não nos assustaria. Pedimos até, se puderes, que nos dês algumas.
— Aqui talvez eu não pudesse. Tendes um guardião que vela muito bem por vós.
3. Na rua Dês Noyers havia alguém que te servia de auxiliar nas peças que pregavas aos moradores?
— Certamente. Encontrei um bom instrumento. E não havia nenhum Espírito douto, sábio e prudente para me impedir. Porque eu sou alegre e gosto, às vezes, de me divertir.
4. Quem te serviu de instrumento?
— Uma criada.
5. Ela te auxiliava sem saber?
— Oh, sim! Pobre moça! Era a mais assustada!
6. Tinhas algum propósito?
— Eu? Eu não tinha nada contra ninguém. Mas os homens que de tudo se apossam torcerão a coisa em seu proveito.
7. Que queres dizer? Não te compreendemos.
— Eu procurava me divertir, mas vós estudareis a coisa e tereis mais um fato para provar que nós existimos.
8. Dizes que não tinhas propósito hostil, mas quebrastes todas as vidraças do apartamento, causando um prejuízo real.
— Isso é um detalhe.
9. Onde encontraste os objetos que atiravas?
— São muito comuns. Achei-os no pátio e nos jardins vizinhos.
10. Achaste todos ou fabricaste alguns? (Ver o Cap. VIII)
— Eu não criei nada, nada compus.
11. Se não os encontrasses, terias podido fabricá-los?
— Teria sido mais difícil. Mas, em último caso, a gente mistura matérias e faz qualquer coisa.
12. Agora, conta-nos como os atiraste.
— Ah, isso é mais difícil de dizer! Servi-me da natureza elétrica daquela moça, ligada à minha, que é menos material. Assim pudemos, os dois, transportar aqueles diversos materiais.
13. Penso que concordarás em nos dar algumas informações sobre a tua pessoa. Diga-nos primeiro se morreste há muito tempo.
— Faz muito tempo, há bem uns cinqüenta anos.
14.Que foste em vida?
— Não era grande coisa. Catava bugigangas neste bairro e às vezes me atiravam injúrias porque eu gostava muito do licor vermelho do bom velho Noé. Eu também queria pô-los a correr.
15. Por ti mesmo e de tua plena vontade que respondeste ás nossas perguntas?
— Eu tinha um instrutor.
16. Quem é esse instrutor?
— Vosso bom rei Luis.
Nota de Kardec: Esta pergunta foi feita por causa da natureza de algumas respostas que pareciam além da capacidade do Espírito, tanto pelas idéias quanto pela forma da linguagem. Nada demais que ele tenha sido ajudado por um Espírito mais esclarecido, que queria aproveitar a ocasião para nos instruir. Esse é o fato comum. Mas uma particularidade notável deste caso é que a influência do outro Espírito se fez presente na própria escrita.
Nas respostas em que ele interferiu a escrita é mis regular e corrente; nas do trapeiro é angulosa, grossa, irregular, muitas vezes pouco legível, revelando um caráter muito diverso(7)
17. Que fazes agora? Cuidas do futuro?
— Ainda não. Ando errante. Pensam tão pouco em mim na Terra que ninguém ora por mim: assim não tenho ajuda e não trabalho.
Nota – Veremos logo mais quanto se pode contribuir para o progresso e o alívio dos Espíritos inferiores, através da prece e dos conselhos.
18. Qual era teu nome em vida?
— Jeannet
19. Muito bem, Jeannet, faremos preces por ti. Diga-nos se a evocação te deu prazer ou te contrariou.
— Antes prazer, porque sois boa gente, alegres viventes, embora um pouco severos. Pouco importa: me escutastes e estou contente. Jeannet.
O Fenômeno de Aporte (ou Transporte)(8)
96. Este fenômeno só difere dos que tratamos acima pela intenção benévola do Espírito que o produz, pela natureza dos objetos quase sempre graciosos e pela maneira suave e quase sempre delicada por que são transportados. Consiste no transporte espontâneo de objetos que não existem no lugar da reunião. Trata-se geralmente de flores, algumas vezes de frutos, de confeitos, de jóias etc
97. Digamos logo que esse fenômeno é dos que mais se prestam à imitação e portanto é necessário estar prevenido contra o embuste. Sabe-se até onde pode chegar à arte da prestidigitação ante experiências desse gênero. Mesmo, porém, que não tenhamos de enfrentar um profissional, poderíamos ser facilmente enganados por uma manobra hábil e interessada. A melhor de todas as garantias é o caráter, a honestidade notória, o desinteresse absoluto da pessoa que obtém esses efeitos. Em segundo lugar, no exame atento de todas as circunstâncias em que os fatos se produzem. Por fim, no conhecimento esclarecido do Espiritismo, único meio de se descobrir o que houvesse de suspeito.
98. A teoria do fenômeno de aportes e das manifestações físicas em geral foi resumida, de maneira notável, na seguinte dissertação de um Espírito, cujas comunicações trazem o cunho incontestável da profundeza e da lógica. Muitas delas aparecerão no curso desta obra. Ele se dá a conhecer com o nome de Erasto, discípulo de São Paulo,e como Espírito protetor do médium que lhe serve de intérprete:
É indispensável, para obter fenômenos dessa ordem,dispor de médiuns que chamarei de sensitivos, ou seja, dotados no mais alto grau de faculdades mediúnicas de expansão, e de penetrabilidade. Porque o sistema nervoso desses médiuns, facilmente excitável, por meio de certas vibrações, projeta profusamente ao seu redor o fluido animalizado.
As naturezas impressionáveis,as pessoas cujos nervos vibram à menor emoção, a mais leve sensação que a influência moral ou física, interna ou externa, sensibiliza, são as mais aptas a se tornarem excelentes médiuns de efeitos físicos de tangibilidade e de transporte. Com efeito, seu sistema nervoso, quase inteiramente desprovido do invólucro refratário que isola esse sistema na maioria dos encarnados, torna-as apropriadas ao desenvolvimento desses diversos fenômenos. Assim, com um sujeito dessa natureza, e cujas demais faculdades não sejam hostis a mediunização, mais facilmente se obterão os fenômenos de tangibilidade, os golpes nas paredes e nos móveis, os movimentos inteligentes, e até mesmo a suspensão no espaço da mais pesada matéria inerte. Com maior razão, os mesmos resultados serão obtidos se, em vez de um médium, se dispuser de numerosos e igualmente bem dotados.
Mas da obtenção desses fenômenos à obtenção dos chamados aportes há todo um abismo. Porque, neste caso, não só o trabalho do Espírito é mais complexo, mais difícil, como ainda o Espírito só pode operar com um único aparelho medianímico. Isso quer dizer que muitos médiuns não podem contribuir simultaneamente para a produção do mesmo fenômeno. Acontece mesmo, ao contrário, que a presença de certas pessoas antipáticas ao Espírito operador entrava radicalmente a sua ação. A esses motivos que, como se vê, são importantes, acrescentemos que os aportes exigem sempre maior concentração, e ao mesmo tempo maior difusão de certos fluidos que só podem ser obtidos com médiuns muito bem dotados, médiuns, numa palavra, cujo aparelho eletromedianímico seja bem condicionado.
Em geral, os fenômenos de aporte são e continuarão a ser excessivamente raros. Não preciso demonstrar por que eles são e serão menos freqüentes que os demais fenômenos de tangibilidade; do que já ficou dito podeis deduzi-lo. Aliás, esses fenômenos são de tal natureza que além de nem todos os médiuns servirem para produzi-los, nem todos os Espíritos podem também realizá-los. É necessário que exista entre o Espírito e o médium uma certa afinidade, uma certa analogia, numa palavra, uma determinada semelhança que permita à parte expansível do fluido perispírito(9) do encarnado misturar-se,
unir-se, combinar-se com o do Espírito que deseja fazer o aporte. Essa fusão deve ser de tal maneira que a força dela resultante se torne por assim dizer una: da mesma maneira que uma corrente elétrica, agindo sobre o carvão produz um foco, uma claridade única. Por que essa união, essa fusão, perguntareis. É que, para a produção desses fenômenos, é necessários que as propriedades essenciais do Espírito agente sejam aumentadas com algumas das propriedades do mediunizado. Porque o fluido vital, apanágio exclusivo do encarnado, deve obrigatoriamente impregnar o Espírito agente. Só então ele pode, por meio de algumas propriedades do vosso ambiente desconhecido para vós, isolar, tornar invisíveis e movimentar alguns objetos materiais e mesmo os encarnados.
Não me é permitido, por agora, desvendar-vos as leis particulares que regem os gases e fluidos que nos envolvem. Mas antes que os anos se escoem, antes que uma existência do homem seja concluída, a explicação dessas leis e desses fenômenos ser-vos-á revelada. E vereis surgir e se desenvolver uma nova variedade de médiuns, que cairão num estado cataléptico particular ao serem mediunizados.
Vede de quantas dificuldades está cercada a produção dos aportes. Podeis logicamente concluir que os fenômenos dessa espécie são bastante raros, como já disse, e com mais razão que os Espíritos se prestam muito pouco a produzi-los, porque isso exige de sua parte um trabalho quase material, que lhes causa aborrecimento e fadiga. Além disso, acontece que muito freqüentemente, malgrado sua energia e sua vontade, o estado do próprio médium lhes opõe uma barreira intransponível.
É portanto evidente, e não tenho dúvida que o aceitais, que os fenômenos sensíveis de golpes, movimentos e levitação são de natureza simples, realizando-se pela concentração e a dilatação de certos fluidos, e podem ser provocados e obtidos pela vontade e o trabalho de médiuns aptos, quando secundados por Espíritos amigos e benevolentes, enquanto os fenômenos de aporte são complexos, de natureza múltipla, exigindo a existência de condições especiais. Esses fenômenos só podem ser realizados por um só Espírito e um único médium e necessitam, além dos recursos para a produção da tangibilidade, uma combinação muito especial para isolar tornar invisíveis o objeto ou os objetos a serem transportados.(10)
Todos vós, espíritas, compreendeis as minhas explicações e percebeis perfeitamente o que seja essa concentração de fluidos especiais para produzir a mobilidade e a tactilidade da matéria inerte. Aceitais isso, como aceitais os fenômenos da eletricidade e do magnetismo, tão análogos aos mediúnicos, que são por assim dizer, a confirmação e o desenvolvimento daqueles. Quantos aos incrédulos e aos sábios, estes piores que aqueles, nada tenho para convencê-los e nem me interessam. Serão convencido um dia pela evidência dos fatos, porque terão de se curvar ante o testemunho unânime dos fenômenos espíritas, como já tiveram de fazer em relação a outros fenômenos que a princípio rejeitaram.
Para resumir: Se os fenômenos de tangibilidade são freqüentes, os de aporte são muito raros, porque as condições para a sua produção são bastante difíceis. Em conseqüência, nenhum médium pode dizer: Em tal ora ou em tal momento obterei um aporte, porque muitas vezes o próprio Espírito se encontra impedido de fazê-lo. Devo acrescentar que esses fenômenos se tornaram duplamente difíceis em público, onde quase sempre se encontram os elementos energeticamente refratários que paralisam os esforços dos Espíritos e com mais forte razão a ação do médium.
Sabei que, pelo contrário, esses fenômenos quase sempre se produzem espontaneamente nas reuniões particulares, no mais das vezes à revelia dos médiuns e sem que se espere, dando-se muito raramente quando aqueles estão prevenidos.
Disso deveis concluir que há motivo legítimo de suspeita toda as vezes que um médium se vangloria de obtê-los à vontade ou de dar ordens aos Espíritos como se fossem seus empregados, o que é simplesmente absurdo. Tende ainda por regra que os fenômenos espíritas não servem para espetáculos e para divertir os curiosos. Se alguns Espíritos se prestam a isso, só pode ser através de fenômenos simples e não dos que, como o aporte, exigem condições excepcionais.
Lembrai-vos, espíritas, que se é absurdo repelir sistematicamente todos os fenômenos de além túmulo, também não é prudente aceitá-los a todos de olhos fechados. Quando um fenômeno de tangibilidade, de aparição, de aporte se verifica espontaneamente e de improviso, aceitai-o. Mas nunca será demasiado repetir: não aceiteis nada cegamente. Que cada fato seja submetido a um exame minucioso, aprofundado e severo. Porque, acreditai-me, o Espiritismo, tão rico de fenômenos sublimes e grandiosos, nada tem a ganhar com essas insignificantes manifestações que hábeis prestidigitadores podem imitar.(11)
Bem sei o que ireis me dizer: que esses fenômenos são úteis para convencer os incrédulos. Mas sabei que, se não tivésseis outros meios de convicção, não teríeis hoje a centésima parte de espíritas com que podeis contar. Falai aos corações: é esse o caminho da maioria das conversões sérias. Se achais convenientes, para certas pessoas, utilizar-vos dos fenômenos materiais, pelo menos apresentai-os de tal maneira que não possam dar motivo a falsas interpretações. E, sobretudo, observai as condições normais desses fenômenos, porque apresentados de maneira imprópria eles servem de argumentos para os incrédulos, em vez de convencê-los – ERASTO.
99. Esse fenômeno apresenta uma particularidade bem característica: a de que alguns médiuns só o obtém em estado sonambúlico, o que facilmente se explica. O sonâmbulo apresenta um desprendimento natural, uma espécie de isolamento do Espírito e seu perispírito em relação ao corpo, que deve facilitar a combinação dos fluidos necessários. É o caso dos aportes que presenciamos.
As questões seguintes foram apresentadas ao Espírito que os produzia, mas suas respostas às vezes se ressentem da sua falta de conhecimentos. Submetemo-las ao Espírito Erasto, muito mais esclarecido do ponto de vista teórico, que as completou com anotações bastante judiciosas. Um é o artesão, outro é o sábio. A própria comparação dessas duas inteligências é um estudo instrutivo, pois demonstra que não basta ser Espírito para tudo compreender.
1 – Queres dizer-nos por que os aportes que produzes só se realizam durante o sono magnético do médium?
— Por causa da natureza do médium. Os fatos que produzo quando ele dorme, poderia igualmente produzir no estado de vigília de outro médium.
2. Por que demoras tanto a trazer os objetos, e por que excitas a cobiça do médium, excitando-lhe o desejo de obter o objeto prometido?
— Necessito de tempo para preparar os fluidos que servem ao aporte. Quanto à excitação, muitas vezes tem apenas o fim de divertir os presentes e a sonâmbula.
Nota de Erasto – O Espírito que respondeu sabe apenas isso. Não tem consciência do motivo dessa excitação da cobiça, que provoca instintivamente e sem compreender-lhe o efeito. Ele pensa divertir, quando na verdade estimula, sem o saber. Maior emissão de fluido. É uma decorrência das dificuldades que o fenômeno apresenta, dificuldades maiores quando ele não é espontâneo, e particularmente com outros médiuns.
3. A produção de fenômeno depende da natureza especial do médium, e seria possível obtê-lo com mais facilidade e presteza por outro médium?
— A produção do fenômeno depende da natureza do médium, e só se pode produzi-lo por meio de médiuns dessa natureza. Para a presteza, vale-nos muito o hábito adquirido no trato freqüente do mesmo médium.
4. A influência das pessoas presentes pode embaraçá-lo de alguma maneira?
— Quando há incredulidade, oposição, da parte delas, podem criar-nos sérias dificuldades. Preferimos realizar nossas experiências com pessoas crentes e versadas no Espiritismo.Mas não quero dizer, com isso, que a má vontade nos pudesse paralisar por completo.
5. Onde pegaste as flores e os bombons que trouxeste?
— As flores, nos jardins, onde elas me agradem.
6. E os bombons? O confeiteiro deve ter percebido a sua falta.
— Tomo-os onde quero. O confeiteiro não percebeu nada porque pus outros no lugar.
7. Mas os anéis têm preço, onde os tomastes? Não ficou prejudicado aquele de quem os tiraste?
— Tirei-os de lugares que ninguém conhece, e o fiz de maneira que não prejudicará a ninguém.
Nota de Erasto – Creio que o fato foi explicado de maneira incompleta, por falta de conhecimento do Espírito que respondeu. Sim, pode ter havido no caso um prejuízo real, mas o Espírito não quis passar por haver desviado alguma coisa. Um objeto só pode ser substituído por outro idêntico, da mesma forma e do mesmo valor. Assim, se um Espírito tivesse a possibilidade de substituir um objeto tirado, não haveria razão para o tirar, pois poderia dar o que serve de substituto.
8. É possível transportar flores de outro planeta?
— Não, para mim isso não é possível.
— (A ERASTO) Outros Espíritos teriam esse poder?
— Não, isso não é possível em razão das diferenças de meio ambiente.
9. Podereis transportar flores de outro hemisfério; dos trópicos por exemplos?
— Desde que seja da terra, posso.
10. Os objetos que trouxestes podereis fazê-los desaparecer e devolvê-los?
— Tão bem como os trouxe; posso devolvê-los, se quiser.
11. A produção do fenômeno de aporte não te exige um sacrifício, não te causa dificuldades?
— Não nos causa nenhuma dificuldade quando temos a devida permissão. Poderia causar-nos muitas se quiséssemos produzi-los sem estar autorizados.
Nota de Erasto – Ele não quer dizer que é penosa embora o seja, pois é forçado a realizar uma operação por assim dizer material.
12. Quais as dificuldades que encontras?
— Nenhuma além das más disposições fluídicas, que podem ser contrárias.
13. Como trazes o objeto? Carregando-o com as mãos?
— Não; envolvo-o em mim mesmo.
Nota de Erasto – Ele não explica claramente a sua operação, pois na verdade não envolve o objeto na sua pessoa. Como o seu fluido pessoal pode dilatar-se, é penetrável e expansível, ele combina uma porção desse fluido com uma porção do fluido animalizado do médium, e é nessa mistura que oculta e transporta o objeto. Não é certo dizer, portanto, que o envolve nele mesmo.
14. Transportarias com mesma facilidade um objeto mais pesado: de cinqüenta quilos, por exemplos?
— O peso nada é para nós. Trago flores porque elas podem ser mais agradáveis que um objeto volumoso.
Nota de Erasto – É certo. Ele pode transportar cem ou duzentos quilos de objetos, porque a gravidade que existe para vós não existe para ele. Mas neste caso também ele não percebe o que se passa. A massa de fluidos combinados é proporcional à massa de objetos. Numa palavra: a força deve estar na proporção da resistência. Assim, se o Espírito só transporta uma flor ou um objeto leve, é freqüentemente por não encontrar no médium ou nele mesmo os elementos necessários para um maior esforço.
15. Alguns casos de desaparecimento de objetos, por motivo ignorado, serão devidos aos Espíritos?
— Isso acontece com freqüência, muito mais freqüentemente do que pensais, e poderia ser remediado pedindo-se ao Espírito a devolução do objeto.
Nota de Erasto – É verdade, mas às vezes o que foi levado, levado está. Porque esses objetos que somem da casa são quase sempre levados para muito longe. Mas, como a subtração de objetos exige quase as mesmas condições fluídicas dos aportes, só pode se dar com a ajuda de médiuns dotados de faculdades especiais. Por isso, quando alguma coisa desaparecer, é mais provável que se deva ao vosso descuido que à ação dos Espíritos.
16. Há efeito da ação de certos Espíritos que consideramos como fenômenos naturais?
— Vossos dias estão cheios desses fatos que não correspondeis, porque não pensastes neles, e que um pouco de reflexão vos faria ver com clareza.
Nota de Erasto – Não se deve atribuir aos Espíritos o que é obra humana. Mas acreditai na sua influência oculta e constante, produzindo ao vosso redor mil circunstâncias, milhares de incidentes necessários à realização dos vossos atos e da vossa existência?(12)
17. Entre os objetos usados nos aporte não há os que podem ser fabricados pelos Espíritos? Quer dizer: produzidos espontaneamente pelas modificações que eles podem provocar no fluido ou elemento universal?
— Não por mim, que não tenho permissão para isso. Só um Espírito elevado pode fazê-lo.
18. Como introduziste outro dia esses objetos na sala que estava fechada?
— Levei-os comigo, envolvidos por assim dizer, na minha substância. Não posso dizer mais, porque isso não é explicável.
19. Como fizeste para tornar visíveis esses objetos, que estavam invisíveis?
— Tirei a matéria que os envolvia.
Nota de Erasto – Não é a matéria propriamente dita que os envolve, mas um fluido tirado em parte do perispírito do médium e em parte (metade de cada um) do Espírito operador.
20. (A Erasto) – Um objeto pode ser transportado para um lugar completamente fechado; numa palavra, o Espírito pode espiritualizar um objeto material de maneira que ele possa penetrar a matéria?
— Esta questão é complexa. O Espírito pode tornar invisíveis os objetos transportados, mas não penetráveis. Não pode desfazer a agregação da matéria, o que seria a destruição do objeto. Tornando-o invisível, pode carregá-lo quando quiser e só o largar no momento conveniente para fazê-lo aparecer. Bem diverso o que se passa com os objetos que compomos. Nestes introduzimos apenas os elementos da matéria, e como esses elementos são essencialmente penetráveis como atravessamos os corpos mais densos com a mesma facilidade dos raios solares atravessando as vidraças, podemos perfeitamente dizer que introduzimos o objeto num lugar, por mais fechado que ele esteja. Mas isto somente nesse caso.(13)
(1) Esse mesmo processo está sendo empregado na Parapsicologia atual. Veja-se a respeito à coleta de casos espontâneos efetuada pela profª Louisa Rhine e apresentada em seu livro Os canais ocultos da mente. (N. do T.)
(2) Tratava-se do espírito da Verdade, como se vê pelo relato mais extenso deste fato que o leitor pode encontrar em Obras Póstumas, segunda parte, comunicação de 25 de março de 1856, sob o título de Meu Guia Espiritual. Importante assinalar a afirmação de Kardec de que esse Espírito jamais o abandonou, o que põe por terra a teoria errônea que se lançou no meio espírita, segundo a qual esse Espírito deixou a Terra depois descrito O Livro dos Espíritos. Pelo contrário toda a Codificação e todos os trabalhos de Kardec foram por ele orientados. (N. do T.)
(3) Esta afirmação de Kardec é plenamente sancionada pela Psicologia atual. Bastaria o caso do tabu sexual, cujos inconvenientes só podemos evitar pela educação nesse sentido, para provar a verdade dessa asserção. O desconhecimento do problema mediúnico, a negação sistemática da ação dos Espíritos, a ignorância do assunto, enfim, são os responsáveis pelo tabu espírita, criador de neuroses e perturbações mentais. Ao lado das superstições, que agravam as conseqüências das manifestações inevitáveis, temos ainda o preconceito cultural, o falso saber de pessoas que se julgam orgulhosamente detentoras, como diz Kardec, de todas as leis naturais. A divulgação teórica e prática do Espiritismo é a única maneira possível de evitar todos esses inconvenientes, familiarizando as criaturas com esse aspecto inegável da realidade. Inútil e prejudicial toda tentativa de negar os fatos ou escamoteá-los através de explicações imaginadas. (N. do T.)
(4) Nesta citação de Kardec, como em outras tantas deste livro e das demais obras de Codificação, vê-se a importância da Revista Espírita para o estudo sério e aprofundado do Espiritismo. Realmente a Revista, na coleção por Kardec, é forte de fatos e de esclarecimentos doutrinários indispensáveis ao estudioso. (N. do T.)
(5) Os casos de obsessão, de possessão e de simples perturbações por Espíritos, quando tratados como loucura, geralmente se agravam. A rede de Hospitais Espíritas hoje existentes no Brasil, com mais de vinte só no Estado de São Paulo, constitui a mais evidente prova disso. Nesses hospitais tem sido curados numerosos casos dados por incuráveis no tratamento comum. Leia-se Novos Rumos à Medicina, do Dr. Ignácio Ferreira, do Hospital Espírita de Uberaba, e no campo da experiência estrangeira. Trinta Anos Entre os Mortos, do prof. Karl Wickland, da Faculdade de Medicina de Chicago, Estados Unidos. (N. do T.)
(6) Veja-se a História de um Danado, no volume III da Revista Espírita. Um homem, sozinho em casa, recebe uma bofetada do Espírito que mais tarde é identificado. É a casos como esse que Kardec se refere, nos quais a intervenção do Espírito não pode ser posta em dúvida. (N. do T.)
(8) . A palavra transporte não serve para designar esse tipo de fenômeno. A tradição espírita já incorporou o termo francês “apport” à língua portuguesa, como aconteceu no inglês, para designar essa forma especial de transporte de objetos a recintos fechados. (N. do T.)
(9) Vemos que, quando se trata de exprimir uma idéia nova, para a qual a língua não possui termo, os Espíritos sabem perfeitamente criar neologismos. Estas palavras: eletromedianímico, não são nossas. Aqueles que nos criticam por havermos criado as palavras espírita, espiritismo, perispírito, que não tinham termos análogos, poderão agora fazer a mesma crítica aos Espíritos. (Nota de Kardec)
(10) O problema da tangibilidade refere-se ao Espírito, que através da combinação de seus fluidos com os do médium consegue o grau de materialização necessária para tocar e sentir os objetos. Estes são naturalmente tangíveis, mas o Espírito não tem o sensório físico para senti-lo. Por isso, necessita, com diz Erasto, impregnar-se do fluido vital do médium, que lhe dá a tangibilidade ou a possibilidade de agir sobre os objetos materiais e movimentá-los. (N. do T.)
(11) Nada aceitar cegamente nem fazer alarde de fenômenos corriqueiros ou de natureza duvidosa, suscetíveis de ser imitado por trapaceiros, é uma condição de boa divulgação da Doutrina. Erasto adverte contra as infrações dessa regra, que até hoje se verificam por toda parte. O Espiritismo, que se funda na verdade, não precisa de recursos fúteis. (N. do T. )
(12) Os Espíritos estão por toda parte, são uma das forças da Natureza em constante ação no Universo. (Ver nº 87 de O Livro dos Espíritos). A resposta se refere a essa atividade natural dos Espíritos, que agem também ao nosso redor e teriam condições para o cumprimento dos nossos destinos. Não se trata de nada sobrenatural ou misterioso, mas de um aspecto da Natureza que o Espiritismo vem esclarecer. (N. do T.)
(13) Ver adiante, sobre a teoria da formação espontânea dos objetos, o cap. VIII, intitulado Laboratório do Mundo Invisível. (N. do T.)
(7) Nota-se o rigor das observações de Kardec nessas experiências, que provam irrefutavelmente a comunicabilidade dos espíritos. (N. do T.)
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