LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
CAPÍTULO
VII– RETORNO À VIDA CORPORAL
V – Idiotismo e
Loucura
(Questões 371 à 378)
A opinião de que os cretinos e os idiotas teriam uma alma de natureza
inferior não tem fundamento. Eles têm uma alma humana frequentemente mais
inteligente do que pensais, e que sofre com a insuficiência dos meios de que
dispõe para se comunicar, como o mudo sofre por não poder falar.
O objetivo da Providência ao criar seres desgraçados como os cretinos
e os idiotas, são os Espíritos em punição que vivem em corpos de
idiotas. Esses Espíritos sofrem com o constrangimento a que estão sujeitos e
pela impossibilidade de manifestar-se através de órgãos não desenvolvidos
ou defeituosos.
Jamais se disse que os órgãos não exercem influência sobre as faculdades.
Eles a exercem, e muito grande, sobre a manifestação das faculdades, mas não
produzem as faculdades. Esta a diferença. Um bom músico, com um mau
instrumento, não fará boa música, o que não o impede de ser um bom músico.
Comentário de Kardec: É
necessário distinguir o estado normal do estado patológico. No estado normal, o
moral supera o obstáculo material. Mas há casos em que a matéria oferece uma
tal resistência que as manifestações são entravadas ou desnaturadas, como na
idiotia e na loucura. Esses são casos patológicos, e em tal estado a alma não
goza de toda a sua liberdade. A própria lei humana a isenta da responsabilidade
dos seus atos.
O mérito da existência para seres que, como os idiotas e os cretinos, não
podendo fazer o bem nem o mal, não podem progredir é de uma expiação
imposta ao abuso que tenham feito de. Certas faculdades; é um tempo de
suspensão.
Um corpo de idiota pode então encerrar um Espírito que tivesse um homem
de gênio, numa existência precedente, pois que o gênio
torna-se às vezes uma desgraça, quando dele se abusa.
Comentário de Kardec: A superioridade moral não está sempre na
razão da superioridade intelectual, e os maiores gênios podem ter muito a
expiar; daí resulta frequentemente para eles uma existência inferior às que já
tenham vivido, e uma causa de sofrimentos. Os entraves que o Espírito prova em
suas manifestações são para ele como as cadeias que constrangem os movimentos
de um homem vigoroso. Pode-se dizer que os cretinos e os idiotas são
estropiados do cérebro, como o coxo o é das pernas e o cego dos olhos.
O idiota, no estado de Espírito, muito frequentemente, tem consciência de
seu estado mental. Compreende que as cadeias que entravam seu
desenvolvimento são uma prova e uma expiação.
A situação do Espírito na loucura se apresenta como segue: O
Espírito, quando em liberdade, recebe diretamente suas impressões e exerce
diretamente a sua ação sobre a matéria; mas, encarnado, encontra-se em
condições totalmente diferentes e na contingência de não afazer senão com a
ajuda de órgãos especiais. Que uma parte ou conjunto desses órgãos sejam
alterados, e a sua ação ou suas impressões, no que respeita a esses órgãos,
ficam interrompidos. Se ele perde os olhos, fica cego; sem os ouvidos, fica
surdo etc. Imagina agora se o órgão que preside aos efeitos da inteligência e
da vontade for parcial ou inteiramente atacado ou modificado, e fácil te será
compreender que o Espírito, só tendo então a seu serviço órgãos incompletos ou
alterados, deve entrar numa perturbação de que, por si mesmo e no seu foro
íntimo, tem perfeita consciência, mas cujo curso já não pode deter.
É então sempre o corpo e não o Espírito o desorganizado;
mas é necessário não perder de vista que, da mesma maneira que o Espírito age
sobre a matéria, esta reage sobre ele numa certa medida, e que o Espírito pode
encontrar-se momentaneamente impressionado pela alteração dos órgãos através
dos quais se manifesta e recebe as suas impressões. Pode acontecer que, com o
tempo, quando a loucura durou bastante, a repetição dos mesmos atos acabe por
exercer sobre o Espírito uma influência da qual ele não se livrará senão depois
da sua completa separação de toda impressão material.
A razão por que a loucura leva algumas vezes ao suicídio, é que o
Espírito sofre pelo constrangimento a que está submetido e pela impotência para
manifestar-se livremente. Por isso busca libertar-se por intermédio da
morte.
Após a morte, o Espírito se ressente da perturbação de suas Faculdades
por algum tempo, até que esteja completamente desligado
da matéria, como o homem que, ao acordar, se ressente por algum tempo da
perturbação em que o sono o mergulhara.
A alteração do cérebro pode reagir sobre o Espírito após a morte como uma
lembrança. Um peso oprime o Espírito, e como ele não teve
consciência de tudo o que se passou durante a sua loucura, é necessário
um certo tempo para que se ponha à corrente. É por isso que, quanto mais
tenha durado a loucura, durante a vida, mais longamente durará a tortura, o
constrangimento, após a morte. O Espírito desligado do corpo se ressente por
algum tempo da impressão dos seus ligamentos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário