I- OCUPAÇÕES E MISSÕES DOS ESPÍRITOS, Livro Segundo, CAPÍTULO X- Ocupações e Missões dos Espíritos

LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
CAPÍTULO X– OCUPAÇÕES E MISSÕES DOS ESPÍRITOS
I-           Ocupações e Missões dos Espíritos
(Questões 558 à 584)

Os Espíritos Concorrem para a harmonia do Universo, executando a vontade de Deus, do qual são os ministros. A vida espírita é uma ocupação contínua, mas nada tem de penosa como a da Terra, pois não está sujeita à fadiga corpórea nem às angústias da necessidade.

Os Espíritos inferiores e imperfeitos desempenham também um papel útil no Universo, pois que todos têm deveres a cumprir. O último dos pedreiros não concorre também para a construção do edifício como o arquiteto?

Vale dizer que todos temos de habitar em toda parte e adquirir o conhecimento de todas as coisas, presidindo sucessivamente às funções concernentes a todos os planos do Universo. Mas, como se diz no Eclesiastes, há um tempo para cada coisa. Assim, este cumpre hoje o seu destino neste mundo, aquele o cumprirá ou já cumpriu em outro tempo, sobre a Terra, na água, no ar etc.

As funções que os Espíritos desempenham na ordem das coisas não são permanentes para cada um e nem pertencem às atribuições de certas classes. Todos devem percorrer os diferentes graus da escala, para se aperfeiçoarem. Deus, que é justo, não poderia ter dado a uns a ciência sem trabalho, enquanto outros só a adquirem de maneira penosa.

Comentário de Kardec: Da mesma maneira, entre os homens, ninguém chega ao supremo grau de habilidade numa arte qualquer sem ter adquirido os conhecimentos necessários na prática das funções mais ínfimas dessa arte.

Os Espíritos da ordem mais elevada, nada mais tendo a adquirir, entregam-se às suas ocupações, pois a eterna ociosidade seria um suplício eterno.

A natureza de suas ocupações está em receber diretamente as ordens de Deus, transmiti-las por todo o Universo e velar pela sua execução.

As ocupações dos Espíritos são incessantes, se entendermos que o seu pensamento está sempre em atividade, pois eles vivem pelo pensamento. Mas é necessário não equiparar as ocupações dos Espíritos com as ocupações materiais dos homens. Sua própria atividade é um gozo, pela consciência que eles têm de ser úteis.

Concebe-se isso para os bons Espíritos; mas não acontece o mesmo com os Espíritos inferiores, pois os Espíritos inferiores têm ocupações apropriadas à sua natureza. Confiais ao trabalhador braçal e ao ignorante os trabalhos do homem culto?

Entre os Espíritos há os que são ociosos ou que não se ocupem de alguma coisa útil, mas esse estado é temporário e subordinado ao desenvolvimento de sua inteligência. Certamente que os há, como entre os homens, vivendo apenas para si mesmos; mas essa ociosidade lhes pesa e, cedo ou tarde, o desejo de progredir lhes faz sentir a necessidade de atividade, e são então felizes de poderem tornar-se úteis. Falamos de Espíritos que atingiram o ponto necessário para terem consciência de si mesmos e de seu livre-arbítrio. Porque, em sua origem, eles são como crianças recém-nascidas que agem mais por instinto do que por uma vontade determinada.

Os Espíritos examinam os nossos trabalhos de arte e se interessam por eles.

Um Espírito que teve uma especialidade na Terra, um pintor, um     arquiteto, por exemplo, não necessariamente se interessa de preferência pelos trabalhos que constituíram o objeto de sua predileção durante a vida. Tudo se confunde num objetivo geral. Se for bom, se interessará por eles na proporção que lhe permitam ajudar a elevação das almas a Deus. Esqueceis, aliás, que um Espírito que praticou uma arte na existência em que o conhecestes, pode ter praticado outra em outra existência, porque é necessário que tudo saiba para tornar-se perfeito. Assim, segundo o seu grau de adiantamento, pode ser que nenhuma delas constitua uma especialidade para ele. E isso o que eu entendo quando digo que tudo se confunde num objetivo geral. Notai ainda isto: o que é sublime para vós, no vosso mundo atrasado, não passa de infantilidade, comparado com o que há nos mundos mais avançados. Como quereis que os Espíritos que habitam esses mundos, onde existem artes desconhecidas para vós, admirem o que, para eles, não é mais que um trabalho escolar? Já o disse: eles examinam aquilo que pode provar o progresso.

Concebemos que assim deve ser para os Espíritos bastante adiantados. Mas falamos dos Espíritos mais vulgares, que não se elevaram ainda acima das ideias terrenas. Para esses é diferente. Seu ponto de vista é mais limitado e podem admirar aquilo mesmo que admirais.

Os Espíritos vulgares se imiscuem algumas vezes em nossas ocupações e em nossos prazeres; estão incessantemente ao vosso redor e tomam parte, às vezes bastantes ativa, naquilo que/azeis, segundo a sua natureza. E é bom que o façam, para impulsionar os homens nos diferentes caminhos da vida, excitar ou moderar as suas paixões.

Comentário de Kardec: Os Espíritos se ocupam das coisas deste mundo na razão da sua elevação ou da sua inferioridade. Os Espíritos superiores têm, sem dúvida, a faculdade de as considerar nos seus mínimos aspectos, mas não o fazem senão na medida em que isso seja útil ao progresso. Os Espíritos inferiores somente ligam a essas coisas uma importância relativa ás lembranças que ainda estão presentes em sua memória, e às ideias materiais que ainda não foram extintas.

Os Espíritos que têm missões a cumprir cumprem-nas em estado errante ou encarnado, pois para certos Espíritos errantes essa é uma grande ocupação.

As missões de que podem ser encarregados os Espíritos errantes são tão variadas que seria impossível descrevê-las; existem aliás as que não poderíeis compreender. Os Espetos executam a vontade de Deus e não podeis penetrar todos os seus desígnios.

Comentário de Kardec:  As missões dos Espíritos têm sempre o bem por objeto. Seja como Espírito, seja como homens, são encarregados de ajudar o progresso da humanidade, dos povos, ou dos indivíduos num círculo de ideias mais ou menos largo, mais ou menos especial, de preparar as vias para certos acontecimentos, de velar pela realização de certas coisas. Alguns têm missões mais restritas e de certa maneira pessoais ou inteiramente locais, como de assistir aos doentes, os agonizantes, os aflitos, de velar pelos que estão sob a sua proteção de guias, de dirigi-los pelos seus conselhos ou pelos bons pensamentos que lhes surgem. Pode se dizer que há tantos gêneros de missões quantas as espécies de interesses a resguardar, seja no mundo físico ou no mundo moral. O Espírito se adianta segundo a maneira por que desempenha a sua tarefa.

0s Espíritos nem sempre compreendem os desígnios que estão encarregados de executar. Há os que são instrumentos cegos, mas outros sabem muito bem com que objetivo agem.

Só há Espíritos elevados no cumprimento de missões, pois que a importância das missões está em relação com a capacidade e a oração do Espírito. O estafeta que leva um despacho cumpre também uma missão, que não é a do general.

A missão de um Espírito lhe é pedida e alegra-se de a obter. A mesma missão pode ser pedida por muitos Espíritos, sempre há muitos candidatos, mas nem todos são aceitos.

A missão dos Espíritos encarnados, consiste em instruir os homens, ajudá-los a avançar, melhorar as suas instituições por meios diretos e materiais. Mas as missões são mais ou menos gerais e importantes. Aquele que cultiva a terra cumpre uma missão, como aquele que governa ou aquele que instrui. Tudo se encadeia na Natureza; ao mesmo tempo que o Espírito se depura pela encarnação, também concorre por essa forma para o cumprimento dos desígnios da Providencia. Cada um tem a sua missão neste mundo, porque cada um pode ser útil em algum sentido.

A missão de pessoas voluntariamente inúteis na Terra se dá de maneira que efetivamente pessoas que só vivem para si mesmas e não sabem tomasse úteis para nada. São pobres seres que devemos lamentar, porque expiarão cruelmente sua inutilidade voluntária. Seu castigo começa frequentemente desde este mundo, pelo tédio e o desgosto da vida.

Pois se tinham o direito de escolha, por que preferiram uma vida que em nada lhes poderia aproveitar? Entre os Espíritos há também os preguiçosos que recuam diante de má vida de trabalho. Deus os deixa fazer; compreenderão mais tarde e à sua própria custa os inconvenientes de sua inutilidade e serão os primeiros a pedir para reparar o tempo perdido. Talvez, também, tenham escolhido uma vida mais útil, mas uma vez em ação a recusaram, deixando-se arrastar pelas sugestões dos Espíritos que os incitavam à ociosidade.

As ocupações comuns nos parecem antes deveres que missões propriamente ditas. A missão, segundo a ideia ligada a essa palavra, tem um sentido de importância menos exclusivo e sobretudo menos pessoal. Desse ponto de vista, se pode reconhecer que um homem tem uma missão real na Terra pelas grandes coisas que ele realiza, pelo progresso que faz os seus semelhantes realizarem.

Nem sempre, os homens que têm uma missão importante são predestinados a ela antes do nascimento e têm conhecimento disso; quando o tem, na maioria das vezes, o ignoram. Só têm um vago objetivo ao virem para a Terra; sua missão se desenha após o nascimento e segundo as circunstâncias. Deus os impulsiona pela via em que devem cumprir os seus desígnios.

Tudo o que um homem faz não é consequência de uma missão predestinada; ele é frequentemente o instrumento de que um Espírito se serve para fazer executar alguma coisa que considera útil. Por exemplo, um Espírito julga que seria bom escrever um livro que ele escreveria se estivesse encarnado; procura o escritor mais apto a compreender o seu pensamento e a executá-lo; dá-lhe então a ideia e o dirige na execução. Assim, este homem não veio à Terra com a missão de fazer a obra. Acontece o mesmo com alguns trabalhos de arte e com as descobertas. Deve-se dizer ainda que durante o sono do corpo o Espírito encarnado se comunica diretamente com o Espírito errante, e que se entendem sobre a execução.

O Espírito pode falir na sua missão, por sua culpa, se não for um Espírito superior.  Como consequências, terá de reiniciar a tarefa; está nisso a punição. Depois sofrerá as consequências do mal que tenha causado.

Pois que o Espírito recebe a sua missão de Deus, porém ELE não sabe se o seu general será vitorioso ou vencido. Ele o sabe, estais certo, e seus planos, quando importantes, não dependem desses que devem abandonar a obra em meio do trabalho. Toda a questão está, para vós, no conhecimento do futuro, que Deus possui mas que não vos é dado.
O Espírito que se encarna para cumprir uma missão não tem as mesmas apreensões daquele que o faz como prova visto que ele tem experiência.

Os homens que são os faróis do gênero humano, que o esclarecem pelo seu gênio, tem certamente uma missão. Mas no seu número há os que se enganam e que, ao lado de grandes verdades, difundem grandes erros. Devemos considerar sua missão como falseada por eles. Estão abaixo da tarefa que empreenderam. É necessário entretanto, tomar em conta as circunstâncias; os homens de gênio devem falar segundo o tempo, e um ensino que parece errôneo ou pueril para uma época avançada poderia ser suficiente para o seu século.

A paternidade é sem contradita, uma missão. E ao mesmo tempo um dever muito grande, que implica, mais do que o homem pensa, sua responsabilidade para o futuro. Deus põe a criança sob a tutela dos pais para que estes a dirijam no caminho do bem. E lhes facilitou a tarefa dando à criança uma organização débil e delicada, que a torna acessível a todas as impressões.  Mas há os que mais se ocupam de endireitar as árvores do pomar e de fazê-las carregar de bons frutos do que endireitar o caráter do filho. Se este sucumbir por sua culpa, terão de sofre a pena, e os sofrimentos da criança na vida futura recairão sobre eles, porque não fizeram o que lhes competia para o seu adiantamento nas vias do bem.

Se uma criança se transviar, apesar dos cuidados dos pais, ã responsabilidade não é deles; mas quanto mais as disposições da criança são más, mais a tarefa é pesada e maior será o mérito se conseguirem desviá-la do mau caminho.

Se uma criança se torna um bom adulto, apesar da negligência ou dos maus exemplos dos pais, estes se beneficiam com isso, pois que Deus é justo.

A natureza da missão do conquistador, que só tem em vista satisfazer a sua ambição e para atingir o alvo não recua diante de nenhuma calamidade, na maioria das vezes, é mais do que um instrumento de que Deus se serve para o cumprimento de seus desígnios. Essas calamidades são, muitas vezes, o meio de fazer avançar mais rapidamente um povo.

Aquele que é instrumento dessas calamidades passageiras é alheio ao bem que delas pode resultar, pois só se propõe um alvo pessoal; não obstante, cada um é recompensado segundo as suas obras, o bem que desejou fazer e a orientação de suas intuições.

Comentário de Kardec: Os Espíritos encarnados têm ocupações inerentes à sua existência corporal. No estado errante ou de desmaterialização suas ocupações são proporcionais ao seu grau de adiantamento.

     Uns percorrem os mundos, instruindo-se e preparando-se para uma nova encarnação.

     Outros, mais avançados, ocupam-se do progresso dirigindo os acontecimentos e sugerindo pensamentos favoráveis; assistem aos homens de gênio que concorrem para o adiantamento da Humanidade.

     Outros se encarnam com uma missão de progresso.

     Outros tomam à sua tutela indivíduos, famílias, aglomerações humanas, cidades e povos dos quais se tornam anjos da guarda, gênios protetores e Espíritos familiares.

     Outros, enfim, presidem aos fenômenos da Natureza, dos quais são os agentes diretos.

     Os Espíritos comuns se imiscuem nas ocupações e divertimentos dos homens.

     Os Espíritos impuros ou imperfeitos esperam, em sofrimentos e angústias, o momento em que praza a Deus conceder-lhes os meios de se adiantarem. Se fazem o mal é pelo despeito de ainda não poderem gozar do bem.




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