domingo, 10 de agosto de 2014

VI- DA INFÂNCIA- O Livro dos Espíritos, Allan Kardec ,CAPÍTULO VII: Retorno à Vida Corporal- LIVRO SEGUNDO

LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
CAPÍTULO VII– RETORNO À VIDA CORPORAL
            VI- Da Infância
                 (Questões 379 à 385)

O Espírito que anima o corpo de uma criança pode ser tão desenvolvido quanto, ou mais desenvolvido que o de um adulto. Se ele progrediu mais, pois são apenas os   órgãos imperfeitos que o impedem de se manifestar. Age de acordo com o instrumento de que se serve.

Numa criança de tenra idade, o Espírito, fora do obstáculo que a imperfeição dos órgãos opõe à sua livre manifestação, enquanto criança, é natural que os órfãos da inteligência, não estando desenvolvidos, não possam dar-lhe toda a intuição de um adulto: sua inteligência, com efeito, é bastante limitada, até que a idade lhe amadureça a razão. A perturbação que acompanha a encarnação não cessa de súbito com o nascimento e só se dissipa com o desenvolvimento dos órgãos.

Comentário de KardecUma observação vem ao apoio desta resposta: é que os sonhos de uma criança não têm o caráter dos sonhos de um adulto; seu objeto é quase sempre pueril, o que é um indício da natureza das preocupações do Espírito.

Com a morte da criança o Espírito deve retomar imediatamente o seu vigor primitivo, pois que está desembaraçado do seu envoltório carnal: entretanto, ele não retoma a sua lucidez, primitiva enquanto a separação não estiver completa, ou seja, enquanto não desaparecer toda ligação entre o Espírito e o corpo.

O Espírito encarnado não sofre, durante a infância, com o constrangimento imposto pela imperfeição dos seus órgãos; esse estado é uma necessidade natural e corresponde aos desígnios da Providência. É um tempo de repouso para o Espírito.

Para o Espírito, a utilidade de passar pela infância é que encarnando-se com o fim de se aperfeiçoar, o Espírito é mais acessível durante esse tempo às impressões que recebe e que podem ajudar o seu adiantamento, para o qual devem contribuir os que estão encarregados da sua educação.

Os primeiros gritos da criança são de choro para excitar o interesse da mãe e provocar os cuidados necessários. Não compreendes que, se ela só tivesse gritos de alegria, quando ainda não sabe falar, pouco se inquietariam com as suas necessidades? Admirai, pois, em tudo, a sabedoria da Providência.

O motivo da mudança que se opera no seu caráter a uma certa idade, e particularmente ao sair da adolescência é o Espírito que retoma a sua natureza e se mostra tal qual era.  Não conheceis o mistério que as crianças ocultam em sua inocência; não sabeis o que elas são, nem o que foram, nem o que serão; e no entanto as amais e acariciais como se fossem uma parte de vós mesmos, de tal maneira que o amor de uma mãe por seus filhos é reputado como o maior amor que um ser possa ter por outros seres. De onde vêm essa doce afeição, essa terna complacência que até mesmo os estranhos experimentam por uma criança? Vós sabeis? Não; e é isso que vou explicar.

      As crianças são os seres que Deus envia a novas existências e, para que não possam acusá-lo de demasiada severidade, dá-lhes todas as aparências de inocência. Mesmo numa criança de natureza má, suas faltas são cobertas pela não-consciência dos atos. Esta inocência não é uma superioridade real, em relação ao que elas eram antes; não, é apenas a imagem do que elas deveriam ser, e se não o são, é sobre elas somente que recai a culpa.

      Mas não é somente por ela que Deus lhe dá esse aspecto, é também e sobretudo por seus pais, cujo amor é necessário à fragilidade infantil. E esse amor seria extraordinariamente enfraquecido pela presença de um caráter impertinente e acerbo, enquanto, supondo os filhos bons e ternos, dão-lhes toda a afeição e os envolvem nos mais delicados cuidados. Mas quando as crianças não mais necessitam dessa proteção, dessa assistência que lhes foi dispensada durante quinze a vinte anos, seu caráter real e individual reaparece em toda a sua nudez: permanecem boas, se eram fundamentalmente boas, mas se irisam sempre de matizes que estavam na primeira infância.

      Vedes que os caminhos de Deus são sempre os melhores, e que, quando se tem o coração puro, é fácil conceber-se a explicação a respeito.

      Com efeito, ponderai que o Espírito da criança que nasce entre vós pode vir de um mundo em que tenha adquirido hábitos inteiramente diferentes; como quereríeis que permanecesse no vosso meio esse novo ser, que traz paixões tão diversas das que possuís, inclinações e gostos inteiramente opostos aos vossos; como quereríeis que se incorporasse no vosso ambiente, senão como Deus quis, ou seja, depois de haver passado pela preparação da infância? Nesta vêm confundir-se todos os pensamentos, todos os caracteres, todas as variedades de seres engendrados por essa multidão de mundos em que se desenvolvem as criaturas. E vós mesmos, ao morrer, estareis numa espécie de infância, no meio de novos irmãos, e na vossa nova existência não terrena ignorareis os hábitos, os costumes, as formas de relação desse mundo, novo para vós, manejareis com dificuldade uma língua que não estais habituados a falar, língua mais vivaz do que o é atualmente o vosso pensamento. 

       A infância tem ainda outra utilidade: os Espíritos não ingressam na vida corpórea senão para se aperfeiçoarem, para se melhorarem; a debilidade dos primeiros anos os torna flexíveis, acessíveis aos conselhos da experiência e daqueles que devem fazê-los progredir. É então que se pode reformar o seu caráter e reprimir as suas más tendências. Esse é o dever que Deus confiou aos pais, missão sagrada pela qual terão de responder.

        É assim que a infância é não somente útil,  necessária, indispensável mas ainda a  consequência natural das leis  Deus estabeleceu e que regem o Universo.


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