LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
CAPÍTULO VI– VIDA ESPÍRITA
VI- Relações de Além Túmulo
(Questões 274 à 290)
As diferentes ordens de Espíritos estabelecem entre elas uma hierarquia de poderes; e há entre eles subordinação e autoridade, muito grande. Os Espíritos têm, uns sobre os outros, a autoridade relativa à sua superioridade. E a exercem por meio de uma ascendência moral irresistível.
Os Espíritos inferiores, irresistivelmente, podem subtrair-se à autoridade dos superiores.
O poder e a consideração de que um homem goza na Terra não lhe dão, nenhuma supremacia no mundo dos Espíritos; pois os pequenos serão elevados e os grandes, rebaixados. Lê os salmos.
Devemos entender essa elevação e esse rebaixamento pelas diferentes ordens, segundo seus méritos. Pois bem, o maior na Terra pode estar na última classe entre os Espíritos; enquanto o seu servidor estará na primeira. Compreendes isso? Jesus não disse: Quem se humilhar será exaltado e quem se exaltar será humilhado?
Aquele que foi grande na Terra e se encontra inferior entre os Espíritos sente humilhação, quase sempre muito grande, sobretudo se era orgulhoso e invejoso.
O soldado que, após a batalha, encontra o seu general no mundo dos Espíritos, e não o reconhece mais como seu superior, pois que o título não é nada; a superioridade real é tudo.
Os Espíritos de diferentes ordens estão misturados e ao mesmo tempo, não estão; quer dizer, eles se veem, mas se distinguem uns dos outros. Afastam-se ou se aproximam segundo a semelhança ou divergência de seus sentimentos, como acontece entre vós. E todo um mundo, do qual o vosso é o reflexo obscuro. Os da mesma ordem se reúnem por uma espécie de afinidade, e formam grupos ou famílias de Espíritos unidos pela simpatia e pelos propósitos; os bons, pelo desejo de fazer o bem; os maus, pelo desejo de fazer o mal, pela vergonha de suas faltas e pela necessidade de se encontrarem entre os seres semelhantes a eles.
Comentário de Kardec: Igual a uma grande cidade, onde os homens de todas as classes e de todas as condições se veem e se encontram, sem se confundirem, onde as sociedades se formam pela similitude de gostos, onde o vício e a virtude se acotovelam, sem se falarem.
O acesso dos Espíritos depende de sua moral. Se são bons vão por toda parte e é necessário que assim seja, para que possam exercer a sua influência sobre os maus. Mas as regiões habitadas pelos bons são interditadas aos imperfeitos, afim de que não levem a elas o distúrbio das más paixões.
A natureza das relações entre os bons e os maus Espíritos, é que os bons procuram combater as más tendências dos outros, a fim de os ajudar a subir; e uma missão.
Os Espíritos inferiores se comprazem em nos levar ao mal, pelo despeito de não terem merecido estar entre os bons. Seu desejo é o de impedir, tanto quanto puderem, que os Espíritos ainda inexperientes atinjam o bem supremo. Querem fazer os outros provarem aquilo que eles provam. Não vedes o mesmo entre vós?
Os Espíritos se comunicam entre si, se veem e se compreendem; a palavra é material: é o reflexo da faculdade espiritual. O fluido universal estabelece entre eles uma comunicação constante; é o veículo da transmissão do pensamento, como o ar é para vós o veículo do som; uma espécie de telégrafo universal que liga todos os mundos, permitindo aos Espíritos corresponderem-se de um mundo a outro.
Os Espíritos podem dissimular reciprocamente os seus pensamentos; porém, não podem esconder-se uns dos outros; para eles, tudo permanece a descoberto, principalmente quando são perfeitos. Podem distanciar-se uns dos outros, mas sempre se veem. Esta não é uma regra absoluta, porque certos Espíritos podem muito bem tornar-se invisíveis para outros, se julgam útil fazê-lo.
O os Espíritos, que não têm mais corpo, podem constatar a própria individualidade e distinguir-se dos outros que os rodeiam por sua individualidade pelo perispírito, que os torna seres distintos uns para os outros, como os corpos entre os homens.
Os Espíritos se reconhecem por terem convivido na Terra. O filho reconhece o pai; o amigo, o seu amigo, e assim, de geração a geração.
No mundo dos Espíritos os homens que se conheceram na Terra se reconhecem porque veem sua vida passada e a lê como num livro. Vendo o passado de nossos amigos e de nossos inimigos, vemos a sua passagem da vida para a morte.
A alma, ao deixar os despojos mortais, nem sempre vê imediatamente os parentes e amigos que a precederam no mundo dos Espíritos, pois, como já dissemos, é-lhe necessário algum tempo para reconhecer o seu estado e sacudir o véu material.
A alma é recebida, na sua volta ao mundo dos Espíritos, com a do justo, como um irmão bem-amado e longamente esperado; a do mau, como um ser que se desprega.
O sentimento que experimentam o Espíritos impuros, à vista de outro mau Espírito que chega, é o de ficarem satisfeitos de verem os seres à sua imagem e como eles privados da felicidade infinita; como acontece, na Terra, a um ladrão entre os seus iguais.
Nossos parentes e nossos amigos vêm, às vezes, ao nosso encontro, quando deixamos a Terra, pois vêm ao encontro da alma que estimam, felicitam-na como no regresso de uma viagem, se ela escapou aos perigos do caminho, e a ajudam a se desprender dos liames corporais. E um favor concedido aos bons Espíritos, quando os que os amam vêm ao seu encontro, enquanto os que estão manchados ficam no isolamento ou cercados somente de Espíritos semelhantes a eles: é uma punição.
Os parentes e os amigos nem sempre se reúnem após a morte, pois isso depende de sua elevação e do caminho que seguem para o seu adiantamento. Se um deles está mais adiantado e marcha mais rápido que o outro, não poderão ficar juntos; poderão ver-se algumas vezes, mas não estarão sempre reunidos, a não ser quando possam marchar ombro a ombro, ou quando tiverem atingido a igualdade na perfeição. Além disso, a privação de ver os parentes e amigos é às vezes uma punição
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