LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
CAPÍTULO
VII– RETORNO À VIDA CORPORAL
IV- Influência do
Organismo
(Questões 367 à 370)
O Espírito, ao se unir ao corpo, tem na matéria não mais que
o envoltório do Espírito, como a roupa é o envoltório do corpo. O
Espírito, ao se unir ao corpo, conserva os atributos da natureza espiritual.
As faculdades do Espírito se exercem com toda a liberdade, após a sua
união com o corpo, pois que o exercício das faculdades depende dos órgãos que lhe
servem de instrumento; elas são enfraquecidas pela grosseria da matéria.
De acordo com isso, o envoltório material seria um obstáculo à livre
manifestação das faculdades do Espírito, como um vidro bastante opaco se opõe à
livre emissão da luz.
Comentário de Kardec:
Pode-se ainda comparar a ação da matéria grosseira do corpo sobre o Espírito à
da água lodosa, que tira a liberdade de movimentos do corpo nela mergulhado.
O livre exercício das faculdades da alma está subordinado ao
desenvolvimento dos órgãos, pois que os órgãos são
os instrumentos da manifestação das faculdades da alma. Essa manifestação
está subordinada ao desenvolvimento e ao grau de perfeição dos respectivos
órgãos, como a excelência de um trabalho à excelência da ferramenta.
Não se deve
confundir o efeito com a causa. O Espírito tem sempre as faculdades que lhe são
próprias. Assim, não são os órgãos que lhe dão as faculdades, mas as faculdades
que impulsionam o desenvolvimento dos órgãos.
De acordo com isso, a diversidade das aptidões entre os homens não decorre
unicamente do estado do Espírito. As
qualidades do Espírito, que pode ser mais ou menos adiantado, constituem o
princípio, mas é necessário ter em conta a influência da matéria, que entrava
mais ou menos o exercício dessas faculdades.
Comentário de Kardec: O
Espírito, ao se encarnar, traz certas predisposições, e se admitirmos para cada
uma delas um órgão correspondente no cérebro, o desenvolvimento
desses órgãos será um efeito e não uma causa. Se as faculdades tivessem os
seus princípios nos órgãos, o homem seria uma máquina, sem livre-arbítrio e sem
a responsabilidade dos seus atos. Teríamos de admitir que os maiores gênios,
sábios, poetas, artistas não são gênios senão porque o acaso lhes deu órgãos
especiais. De onde se segue que, sem esses órgãos, eles não seriam gênios, e
que o último dos imbecis poderia ter sido um Newton, um Virgílio ou um Rafael,
se houvesse sido provido de certos órgãos. Suposição que se torna ainda mais absurda,
quando aplicada às qualidades morais. Assim, segundo esse sistema. São Vicente
de Paulo, dotado pela Natureza de tal órgão, poderia ter sido um celerado, e
não faltaria ao maior celerado mais do que um órgão para ser um São Vicente de
Paulo. Admiti, ao contrário, que os órgãos especiais, se é que existem, são
consequentes e se desenvolvem pelo exercício das faculdades, como os músculos
pelo movimento, e nada tereis de irracional. Tomemos uma comparação trivial por
bem se aplicar ao caso. Através de certos sinais fisionômicos reconhecereis o
homem dado à bebida; são esses sinais que o fazem bêbado ou é o vício da
embriaguez que produz os sinais? Pode-se dizer que os órgãos recebem a marca
das faculdades.
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