LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
CAPÍTULO
VII– RETORNO À VIDA CORPORAL
III-Faculdades
Morais e Intelectuais
(Questões 361 à 366)
As qualidades morais, boas ou más, são as do
Espírito que está nele encarnado; quanto mais puro é esse Espírito, mais o
homem é propenso ao bem.
Resulta daí que o homem de bem é a encarnação de um bom Espírito, e o
homem vicioso, a de um mau Espírito, mas dize
antes que é um Espírito imperfeito, pois de outra forma se poderia crer nos
Espíritos sempre maus, a que chamais demônios.
O caráter dos indivíduos em que se encarnam os Espíritos brejeiros e
levianos, são estouvados, espertos e, algumas vezes, seres
malfazejos.
Os Espíritos não têm paixões estranhas à Humanidade;
se assim fosse, vós também as teríeis.
É o mesmo Espírito que dá ao homem as qualidades morais e as da
inteligência, e na razão do grau a que tenha chegado. O homem
não tem em si dois Espíritos.
Os homens mais inteligentes, que revelam um Espírito superior neles
encarnados, são, às vezes, ao mesmo tempo, profundamente viciosos, pois que o Espírito
encarnado não é bastante puro, e o homem cede à influência de outros Espíritos
ainda piores. O Espírito progride numa marcha ascendente insensível, mas o
progresso não se realiza simultaneamente em todos os sentidos; num período ele
pode avançar em ciência, num outro em moralidade.
É absurda a opinião segundo a qual as diferentes faculdades intelectuais
e morais do homem seriam o produto de outros tantos Espíritos diversos,
nele encarnados, tendo cada qual uma aptidão especial.
O Espírito deve ter todas as aptidões. Para poder progredir, necessita de uma
vontade única.
Se o homem
fosse um amálgama de Espíritos, essa vontade não existiria e ele não teria
individualidade, pois, na sua morte, todos esses Espíritos seriam como um
bando de pássaros livres da gaiola.
O homem se queixa muitas vezes de não compreender algumas coisas, mas é curioso
ver-se como ele multiplica as dificuldades, quando tem em mãos uma explicação
muito simples e natural. Isso é ainda tomar o efeito pela causa; fazer com o
homem o que os pagãos faziam com Deus. Eles criam em tantos deuses quantos os
fenômenos do universo. Mas, mesmo entre eles, as pessoas sensatas não viam
nesses fenômenos mais do que efeitos, tendo por causa um Deus único.
Comentário de Kardec: O
mundo físico e o mundo moral nos oferecem, a respeito, numerosos pontos de
comparação. Acreditou-se na multiplicidade da matéria, enquanto o exame se detinha
na aparência dos fenômenos; hoje, compreende-se que esses fenômenos tão
variados podem não ser mais do que modificações de uma matéria
elementar única. As diversas faculdades são manifestações de uma mesma
causa que é a alma, ou do Espírito encarnado, e não de muitas almas, como os
diferentes sons do órgão são produtos de uma mesma espécie de ar, e não de
tantas espécies de ar quantos forem os sons. Desse sistema resultaria que,
quando um homem perde ou adquire certas aptidões, certas tendências, isso
significa que outros tantos Espíritos o possuíram ou deixaram, o que o tornaria
um ser múltiplo, sem individualidade e, consequentemente, sem responsabilidade.
Isto, além do mais, é contraditado pelos tão numerosos exemplos de
manifestações em que os Espíritos provam sua personalidade e sua identidade.
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