LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
CAPÍTULO IX– INTERVENÇÃO DOS ESPÍRITOS NO MUNDO CORPÓREO
VIII – Influência dos Espíritos sobre
os acontecimentos da vida
(Questões 525 à 535)
Os Espíritos exercem influência sobre os acontecimentos da vida uma vez que te aconselham.
Exercem essa influência de outra maneira, além dos pensamentos que sugerem, ou seja, têm uma ação direta sobre a realização das coisas, mas não agem nunca fora das leis naturais.
Comentário de Kardec: Pensamos erradamente que a ação dos Espíritos só deve manifestar-se por fenômenos extraordinários; desejaríamos que viessem em nosso auxílio através de milagres, e sempre os representamos armados de uma varinha mágica. Mas assim não é. e eis porque a sua intervenção nos parece oculta e o que se faz pelo seu concurso nos parece inteiramente natural. Assim, por exemplo, eles provocarão o encontro de duas pessoas, o que parece dar-se por acaso; inspirarão a alguém o pensamento de passar por tal lugar; chamarão sua atenção para determinado ponto, se isso pode conduzir ao resultado que desejam; de tal maneira que o homem, não julgando seguir senão os seus próprios impulsos, conserva sempre o seu livre-arbítrio.
Tendo os Espíritos ação sobre a matéria, podem provocar certos efeitos com o fim de produzir um acontecimento, porém, um homem que deve perecer, por exemplo, sobe então a uma escada, esta se quebra e ele morre. Não foram os Espíritos que fizeram quebrar a escada para que se cumpra o destino desse homem. É bem verdade que os Espíritos têm influência sobre a matéria, mas para o cumprimento das leis da natureza(nasce e morrer por exemplo) e não para as derrogar, fazendo surgir em determinado ponto um acontecimento inesperado e contrário a essas leis. No exemplo que citas, a escada se quebra porque está carunchada ou não era bastante forte para suportar o peso do homem; se estivesse no destino desse homem morrer dessa maneira, eles lhe inspirariam o pensamento de subir na escada que deveria quebrar-se com o seu peso e sua morte se daria por um motivo natural, sem necessidade de um milagre para isso.
Tomemos outro exemplo, no qual não intervenha o estado natural da matéria. Um homem deve morrer de raio: esconde-se embaixo de uma árvore, o raio estala e ele morre. Os Espíritos não poderiam ter provocado o raio dirigindo-o sobre ele. O raio explodiu sobre aquela árvore e naquele momento porque o fato estava nas leis da Natureza. Não foi dirigido para a árvore porque o homem lá se encontrava, mas ao homem foi dada a inspiração de se refugiar numa árvore, sobre a qual ele deveria explodir. A árvore não seria menos atingida se o homem estivesse ou não sob ela.
Um homem mal intencionado dispara um tiro contra outro mas o projétil passa apenas de raspão, sem o atingir. Um Espírito benfazejo pode, no caso de o indivíduo não dever ser atingido, lhe inspirar o pensamento de se desviar, ou ainda poderá ofuscar o seu inimigo de maneira a lhe perturbar a pontaria; porque o projétil, uma vez lançado, segue a linha da sua trajetória.
As balas encantadas, a que se referem algumas lendas e que atingem fatalmente o alvo não passam de pura imaginação: o homem gosta do maravilhoso e não se contenta com as maravilhas da Natureza.
Os Espíritos que dirigem os acontecimentos da vida não podem ser contrariados por Espíritos que tenham desejos em contrário. O que Deus quer, deve acontecer; se há retardamento ou empecilho e por sua vontade.
Os Espíritos levianos e brincalhões podem provocar esses pequenos embaraços que se antepõem aos nossos projetos e transtornam as nossas previsões; em uma palavra, são eles os autores do que vulgarmente chamamos as pequenas misérias da vida, pois que eles se comprazem nessas traquinices que são provas para vós destinadas a exercitar a vossa paciência; mas se cansam quando veem que nada conseguem. Entretanto não seria justo nem exato responsabiliza-los por todas as vossas frustrações, das quais vos sois os principais autores, pelo vosso estouvamento. Convence-te, pois, de que, se a tua baixela se quebra é antes em virtude do teu descuido do que par culpa dos Espíritos.
Os Espíritos que provocam discórdias agem em consequência de animosidades pessoais e atacam ao primeiro que encontram, sem motivo determinado, por simples malícia; às vezes, trata-se de inimigos que fizestes nesta vida ou em existência anterior e que vos perseguem; de outras vezes, não há nenhum motivo.
O rancor dos seres que nos fizeram mal na Terra nem sempre extingue-se com a sua vida corpórea. Muitas vezes reconhecem sua injustiça e o mal que fizeram, mas muitas vezes também vos perseguem com o seu ódio, se Deus o permite, para continuar a vos experimentar.
Pode-se orar por eles, e ao se lhes retribuir o mal com o bem acabarão por compreender os seus erros. De resto, se souberdes colocar-vos acima de suas maquinações, cessarão de fazê-las ao verem que nada lucram.
Comentário de Kardec: A experiência prova que certos Espíritos prosseguem na sua vingança de uma existência a outra, e que assim, expiaremos, cedo ou tarde, os males que pudermos ter acarretado a alguém.
Os Espíritos não têm o poder de desviar os males de certas pessoas, atraindo para elas a prosperidade, porque há males que pertencem aos desígnios da Providência; mas minoram as vossas dores, dando-vos paciência e resignação.
Sabei, também, que depende freqüentemente de vós desviar esses males ou pelo menos atenuá-los. Deus vos deu a inteligência para a usardes, e é sobretudo por meio dela que os Espíritos vos socorrem, sugerindo-vos pensamentos favoráveis. Mas eles não assistem senão aos que sabem assistir-se a si mesmos. É esse o significado das palavras: “Buscai e achareis; batei e abrir-se-vos-á”.
Sabei ainda que aquilo que vos parece um mal nem sempre o é. Freqüentemente um bem deve resultar dele, que será maior que o mal, e é isso o que não compreendeis porque não pensais senão no momento presente ou na vossa pessoa.
Os Espíritos podem as vezes, fazer que se obtenham os dons da fortuna, como prova, mas freqüentemente os recusam como se recusa a uma criança um pedido inconsiderado.
São os bons ou os maus Espíritos que concedem esses favores, isso depende da intenção. Mas em geral são os Espíritos que querem arrastar-vos ao mal e que encontram um meio fácil de afazer nos prazeres que a fortuna proporciona.
Quando os obstáculos parecem vir fatalmente contra aos nossos projetos, Algumas vezes ocorre por influência de algum Espírito; outras vezes, e o mais freqüentemente, é que vos colocastes mal. A posição e o caráter influem muito. Se vos obstinais numa senda que não é a vossa, os Espíritos nada têm com isso; sois vos mesmos que vos tornais o vosso mau gênio.
Quando nos acontece alguma coisa feliz, agradecei sobretudo a Deus, sem cuja permissão nada se faz e depois aos bons Espíritos que foram os seus agentes. Se esquecêssemos de agradecer, agiríamos como ingratos, assumindo as consequências da ingratidão.
Há, entretanto, muita gente que não ora nem agradece e para quem sai tudo bem, mas é necessário ver o fim; pagarão bem caro essa felicidade passageira que não merecem, porque, quanto mais tenham recebido mais terão de restituir.
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