LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
CAPÍTULO
VIII– EMANCIPAÇÃO DA ALMA
V-
Sonambulismo
(Questões 425 à 438)
O sonambulismo natural é um estado de
independência da alma, mais completo que no sonho e então as faculdades
adquirem maior desenvolvimento. A alma tem percepções que não atinge no sonho,
que é um estado de sonambulismo imperfeito.
No
sonambulismo, o Espírito está na posse total de si mesmo; os órgãos materiais,
estando de qualquer forma em catalepsia, não recebem mais as impressões
exteriores. Esse estado se manifesta sobretudo durante o sono; é o momento em
que o Espírito pode deixar provisoriamente o corpo, que se acha entregue ao
repouso indispensável à matéria. Quando se produzem os fatos do sonambulismo é
que o Espírito, preocupado com uma coisa ou outra se entrega a alguma ação que
exige o uso do seu corpo, do qual se serve como se empregasse uma mesa ou
qualquer outro objeto material nos fenômenos de manifestação física, ou mesmo
da vossa mão, nas comunicações escritas. Nos sonhos de que se tem consciência,
os órgãos, inclusive os da memória, começam a despertar e receitem
imperfeitamente as impressões produzidas pelos objetos ou as causas exteriores,
e as comunicam ao Espírito que, também se encontrando em repouso, só percebe
sensações confusas e frequentemente fragmentárias, sem nenhuma razão de ser
aparente misturadas que estão de vagas recordações, seja desta existência seja
de existências anteriores. É, portanto, fácil compreender por que os sonâmbulos
não se lembram de nada e por que os sonhos de que conservam a lembrança na
maioria das vezes, não têm sentido. Digo na maioria das vezes, porque acontece
também serem eles a consequência de uma recordação precisa
de acontecimentos de uma vida anterior e, algumas vezes, até uma espécie
de intuição do futuro.
O chamado sonambulismo magnético é a mesma coisa que com o sonambulismo
natural, com a diferença de ser provocado.
A natureza do agente chamado fluido magnético está no Fluido
vital, eletricidade animalizada, que são modificações do fluido universal.
A causa da clarividência sonambúlica é a alma que
vê.
O sonâmbulo não ver através dos corpos opacos, porque não
há corpos opacos, senão para os vossos órgãos grosseiros Já dissemos que, para
o Espírito, a matéria não oferece obstáculos, pois ele a atravessa livremente.
Com frequência ele vos diz que vê pela testa, pelo joelho etc., porque vós,
inteiramente imersos na matéria, não compreendeis que ele possa ver sem o
auxílio dos órgãos, e ele mesmo, pela vossa insistência, julga necessitar
desses órfãos. Mas se o deixásseis livre, compreenderia que vê por todas as
partes do corpo ou, para melhor dizer, e fora do corpo que ele vê.
Não e dado
aos Espíritos imperfeitos tudo ver e tudo conhecer: sabes muito bem que eles
ainda participam dos vossos erros e dos vossos prejuízos: e, depois, quando
estão ligados a matéria. Não gozam de todas as suas faculdades de Espíritos.
Deus deu ao homem esta faculdade com um fim útil e sério, e não para que ele
aprenda o que não deve saber; eis porque os sonâmbulos não podem dizer tudo.
O sonâmbulo pode falar com exatidão de coisas que ignora no estado de
vigília, e que estão mesmo acima de sua capacidade intelectual, pois que acontece
que o sonâmbulo possui mais conhecimentos do que lhe reconheceis,
somente que eles estão adormecidos, porque o seu invólucro é bastante
imperfeito para que ele possa recordá-los. Mas, em última análise, o que é ele?
Como nós, um Espírito, que está encarnado para cumprir a sua missão, e o estado
em que ele entra o desperta dessa letargia. Nós já te dissemos repetidamente
que revivemos muitas vezes; e essa mudança é que lhe faz perder materialmente o
que conseguiu aprender na existência precedente. Entrando no estado a que
chamas crise, ele se lembra, mas sempre de maneira incompleta; ele sabe, mus
não poderia dizer de onde lhe vem o conhecimento, nem como o possui. Passada a
crise, toda a lembrança se apaga e ele volta à obscuridade.
Comentário de Kardec: A
experiência mostra que os sonâmbulos recebem também comunicações de outros
Espíritos, que lhes transmitem o que eles devem dizer e suprem a sua
insuficiência. Isto se vê, sobretudo, nas prescrições médicas: o Espírito do
sonâmbulo vê o mal, o outro lhe indica o remédio. Esta dupla ação é algumas
vezes patente e se revela outras vezes pelas suas expressões bastante frequentes:
dizem-me que diga; ou proíbem-me dizer tal coisa. Neste último caso, é sempre
perigoso insistir em obter a revelação recusada, porque então se dá lugar aos
Espíritos levianos que falam de tudo sem escrúpulos e sem se interessarem pela
verdade.
A visão a distância, em alguns sonâmbulos, se explica pelo fato de que a alma
se transporta durante o sono, o mesmo se verifica no sonambulismo.
O desenvolvimento maior ou menor da clarividência sonambúlica
depende tanto da organização física como da natureza do Espírito encarnado;
há disposições físicas que permitem ao Espírito libertar-se mais ou menos
facilmente da matéria.
Até certo ponto, as faculdades de que o sonâmbulo desfruta são as mesmas
do Espírito após a morte, pois é necessário terem conta a influência da
matéria, a que ele ainda se encontra ligado.
O sonâmbulo pode ver os outros Espíritos e os vê muito bem;
isso depende do grau e da natureza da lucidez de cada um; mas, às vezes, ele
não compreende, de início, e os toma por seres corporais. Isso acontece,
sobretudo, com os que não têm nenhum conhecimento do Espiritismo; eles ainda
não compreendem a natureza dos Espíritos, o fato os espanta e é por isso que
julgam estar vendo pessoas vivas.
Comentário de Kardec:
O mesmo efeito se produz no momento da morte, entre os que ainda se julgam
vivos. Nada ao seu redor lhes parece modificado, os Espíritos lhes aparecem
como tendo corpos semelhantes aos nossos, e eles tomam a aparência de seus
próprios corpos como corpos reais.
O sonâmbulo que vê a distância, vê do lugar em que está a sua alma,
pois se é a alma que vê e não o corpo?
Sendo a alma que se transporta, o sonâmbulo experimenta no corpo as
sensações de calor ou de frio do lugar em que se encontra a sua alma, mesmo às
vezes bem longe do corpo, pois que a alma não deixou
inteiramente o corpo, permanece sempre ligada a ele pelo laço que os une, e é
esse laço o condutor das sensações. Quando duas pessoas se correspondem entre
uma cidade e outra por meio da eletricidade, é este o laço entre os seus
pensamentos; é graças a isso que elas se comunicam, como se estivessem uma ao
lado da outra.
O uso que um sonâmbulo faz da sua faculdade influi muito no estado do seu
Espírito após a morte, assim como o uso bom ou mau de todas as faculdades que
Deus concedeu ao homem.
Nenhum comentário:
Postar um comentário