LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
CAPÍTULO
VI– VIDA ESPÍRITA
I - Espíritos errantes
(Questões 223 à 233)
A alma pode reencarnar imediatamente após a separação do corpo, porém, na
maioria das vezes, depois de intervalos mais ou menos longos. Nos mundos
superiores a reencarnação é quase sempre imediata. A matéria corpórea sendo
menos grosseira, o Espírito encarnado goza de quase todas as faculdades do
Espírito. Seu estado normal é o dos vossos sonâmbulos lúcidos.
A alma, nos intervalos das encarnações, nada mais é que o Espírito
errante, que aspira a um novo destino e o espera.
A duração desses intervalos pode
ser de algumas horas a alguns milhares de séculos. De
resto, não existe, propriamente falando, limite extremo determinado para o
estado errante, que pode prolongar-se por muito tempo, mas que nunca é
perpétuo. O Espírito tem sempre a oportunidade, cedo ou tarde, de recomeçar uma
existência que sirva à purificação das anteriores.
Essa duração é uma consequência do livre-arbítrio. Os Espíritos
sabem perfeitamente o que fazem, mas para alguns é também uma punição infligida
por Deus. Outros pedem o seu prolongamento para prosseguir estudos que não
podem ser feitos com proveito a não ser no estado de Espírito.
A erraticidade não é, por si mesma, um sinal de inferioridade entre os
Espíritos, pois há Espíritos errantes de todos os graus. A
encarnação é um estado transitório, já o dissemos. No seu estado normal, o
Espírito é livre da matéria.
Dentre todos os Espíritos não-encarnados, mas que porém, ainda
devem reencarnar-se, são errantes, mas os
Espíritos puros, que chegam à perfeição, não são errantes: seu estado é
definitivo.
Comentário de Kardec: No tocante às suas qualidades intimas, os
Espíritos pertencem a diferentes ordens ou graus, pelos quais passam
sucessivamente, à medida que se purificam. No tocante ao estado, podem ser
encarnados, que quer dizer ligados a um corpo; errantes, ou desligados do corpo
material e esperando uma nova encarnação para se melhorarem; Espíritos puros ou
perfeitos e não tendo mais necessidade de encarnação.
Os Espíritos errantes são instruídos através do estudo de seu
passado e procuram o meio de se elevarem. Veem, observam o que se passa nos
lugares que percorrem; escutam os discursos dos homens esclarecidos e os
conselhos dos Espíritos mais elevados que eles, e isso lhes proporciona ideias
que não possuíam.
Os espíritos
elevados, ao perderem o seu invólucro, deixam as más paixões e só guardam a do
bem; mas os Espíritos inferiores conservam sim essas paixões humanas, pois de
outra maneira pertenceriam à primeira ordem.
Os Espíritos, ao deixar a Terra, não abandonam as suas más paixões, mesmo
vendo os seus inconvenientes, pois que têm nesse mundo
pessoas que são excessivamente vaidosas. Acreditais que, ao deixa-lo, perderão
este defeito? Após a partida da Terra, sobretudo para aqueles que tiveram
paixões bem vivas, resta uma espécie de atmosfera que os envolve guardando
todas essas coisas más, pois o Espírito não está inteiramente desprendido. É
apenas por momentos que ele se entrevê a verdade, como para mostrar-lhe o bom caminho.
O Espírito pode progredir no estado errante,
sempre de acordo com a sua vontade e o seu desejo; mas é na existência corpórea
que ele põe em prática as novas ideias adquiridas.
Os Espíritos errantes são felizes ou infelizes, mais
ou menos, segundo os seus méritos. Sofrem as paixões cujos germes conservaram,
ou são felizes, segundo a sua maior ou menor desmaterialização. No estado
errante, o Espírito entrevê o que lhe falta para ser feliz. É assim que ele
busca os meios de o atingir; mas nem sempre lhe é permitido reencarnar à
vontade, e isso é uma punição.
No estado errante, os Espíritos podem ir a todos os mundos? Conforme.
Quando o Espírito deixou o corpo, ainda não está completamente desligado da
matéria e pertence ao mundo em que viveu ou a um mundo do mesmo grau; a
menos que, durante sua vida, se tenha elevado. Esse é o objetivo a que deve
voltar-se, pois sem isso jamais se aperfeiçoaria. Ele pode, entretanto, ir a
alguns mundos superiores, passando por eles como estrangeiro. Nada mais faz do
que os entrever, e é isso que lhe dá o desejo de se melhorar para ser digno da
felicidade que neles se desfruta e poder habitá-los.
Os Espíritos já purificados, frequentemente, vêm aos mundos inferiores,
afim de os ajudar a progredir. Sem isso, esses mundos estariam entregues a si
mesmos, sem guias para os orientar.
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