LIVRO SEGUNDO
MUNDO ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
CAPÍTULO VI– VIDA ESPÍRITA
III- Percepções, Sensações e Sofrimentos dos Espíritos.
(Questões 237 à 256)
A alma, uma vez no mundo dos Espíritos, tem ainda as percepções que tinha nesta vida, e outras que não possuía, porque o seu corpo era como um véu que a obscurecia. A inteligência é um atributo do Espírito, mas se manifesta mais livremente quando não tem entraves.
As percepções e os conhecimentos dos Espíritos são ilimitados. Quanto mais se aproximam da perfeição, mais sabem; se são superiores, sabem muito. Os Espíritos inferiores são mais ou menos ignorantes em todos os assuntos.
Os Espíritos conhecem o princípio das coisas, conforme a sua elevação e a sua pureza. Os Espíritos inferiores não sabem mais do que os homens.
Os Espíritos não compreendem a duração como nós; e isso faz que não nos compreendamos sempre quando se trata de fixar datas ou épocas.
Comentário de Kardec: Os Espíritos vivem fora do tempo, tal como o compreendemos; a duração, para eles, praticamente não existe, e os séculos, tão longos para nós, são aos seus olhos apenas instantes que desaparecem na eternidade, da mesma maneira que as desigualdades do solo se apagam e desaparecem, para aquele que se eleva no espaço.
Os Espíritos fazem do presente uma ideia mais precisa e mais justa do que nós, mais ou menos como aquele que vê claramente tem uma ideia mais justa das coisas do que o cego. Os Espíritos veem o que não vedes, e julgam diferente de vós. Mas ainda uma vez: isso depende da sua elevação.
O passado, quando dele nos ocupamos, é um presente, precisamente como te lembras de uma coisa que te impressionou durante o teu exílio. Entretanto, enquanto Espíritos, não temos mais o véu material que obscurece a tua inteligência, lembramo-nos das coisas que desapareceram para ti. Mas nem tudo os Espíritos conhecem, a começar pela sua própria criação.
Para que os Espíritos conheçam o futuro, depende, ainda, da sua perfeição. Quase sempre, nada mais fazem do que entrevê-lo, mas nem sempre têm a permissão de o revelar. Quando o veem, ele lhes parece presente. O Espírito vê o futuro mais claramente, à medida que se aproxima de Deus. Depois da morte, a alma vê e abarca de relance as suas migrações passadas, mas não pode ver o que Deus lhe prepara. Para isso, é necessário que esteja integrada nele, depois de muitas existências.
Os Espíritos chegados à perfeição absoluta não têm completo conhecimento do futuro, porque Deus é o único e soberano Senhor e ninguém o pode igualar.
Somente os Espíritos superiores veem Deus e O compreendem; os Espíritos inferiores o sentem e adivinham.
Quando um Espírito inferior diz que Deus lhe proíbe ou permite uma coisa, sabe que a ordem vem de Deus, embora ele não veja a Deus. Porém, mas sente a sua soberania, e quando uma coisa não deve ser feita ou uma palavra não deve ser dita, recebe uma intuição, uma advertência invisível, que o inibe de fazê-lo. Vós mesmos tendes pressentimentos que são para vós como advertências secretas, para fazerdes ou não alguma coisa. O mesmo acontece conosco mas em grau superior, pois compreendes que, sendo mais sutil do que a vossa a essência dos Espíritos, eles podem receber mais facilmente as advertências divinas.
A ordem não é transmitida diretamente por Deu, pois para comunicar-se com ele é preciso merecê-lo. Deus transmite as suas ordens pelos Espíritos que estão mais elevados em perfeição e instrução.
A vista dos Espíritos não é circunscrita, como nos seres corpóreos, é uma faculdade geral.
Os Espíritos veem pela luz própria, sem necessidade de luz exterior. Para eles não há trevas, a não ser aquelas em que podem encontrar-se por expiação.
Como o Espírito se transporta com a rapidez do pensamento, podemos dizer que vê por toda parte de uma só vez, ou seja dois lugares diferentes ao mesmo tempo. Seu pensamento pode irradiai dirigir-se para muitos pontos ao mesmo tempo. Mas essa faculdade depende da sua pureza: quanto menos puro ele for, mais limitada é a sua vista; somente os Espíritos superiores podem ter visão de conjunto.
Comentário de Kardec: A faculdade de ver dos Espíritos, inerente à sua natureza, difunde-se por todo seu ser, como a luz num corpo luminoso. É uma espécie de lucidez universal, que estende a tudo, envolve simultaneamente o espaço, o tempo e as coisas e par; qual não há trevas nem obstáculos materiais. Compreende-se que assim deve, pois no homem a vista funciona através de um órgão que recebe a luz, e sem luz fica na obscuridade. Nos Espíritos, a faculdade de ver é um atributo próprio, que independe de qualquer agente exterior. Avista não precisa da luz. (Ver Ubiquidade item 92.)
O Espírito vê as coisas mais distintamente do que nós, porque a sua vista penetra o que a vossa vista não pode penetrar; nada a obscurece.
O Espírito percebe os sons, e percebe até mesmo os que os vossos sentidos obtusos não podem perceber.
A faculdade de ouvir, como a de ver, está em todo o seu ser. Todas as percepções são atributos do Espírito e fazem parte do seu ser. Quando ele se reveste de corpo material, elas se manifestam pelos me orgânicos; mas, no estado de liberdade, não estão mais localizadas.
Sendo as percepções atributos do próprio Espírito, o Espírito só vê e ouve o que ele quiser. Isto de uma maneira geral, e sobretudo para os Espíritos elevados. Os imperfeitos ouvem e veem frequentemente, queiram ou não, aquilo que pode ser útil ao seu melhoramento.
Os Espíritos são sensíveis à música. Tratando-se da vossa música, o que é ela perante a música celeste, essa harmonia da qual ninguém na Terra pode ter ideia? Uma é para a outra o que o canto do selvagem é para a suave melodia. Não obstante, os Espíritos vulgares podem provar um certo prazer ao ouvir a vossa música, porque não estão ainda capazes de compreender outra mais sublime. A música tem, para os Espíritos, encantos infinitos, em razão de suas qualidades sensitivas muito desenvolvidas. Refiro-me à música celeste, que é tudo quanto a imaginar espiritual pode conceber de mais belo e mais suave.
Os Espíritos são sensíveis às belezas naturais, pois que as belezas naturais dos vários globos são tão diversas que estamos longe de as conhecer. Sim, são sensíveis a elas segundo as suas aptidões para as apreciar e compreender. Para os Espíritos elevados, há belezas de conjunto diante das quais se apagam, por assim dizer, as belezas dos detalhes.
Os Espíritos conhecem as nossas necessidades e os nossos sofrimentos físicos, porque os sofreram, mas não os experimentam como vós, porque são Espíritos.
Os Espíritos não podem sentir a fadiga e necessidade de repouso, como a entendeis, e, portanto não necessitam do repouso corporal, pois não possuem órgãos em que as forças tenham de ser restauradas. Mas o Espírito repousa, no sentido de não permanecer numa atividade constante. Ele não age de maneira material porque a sua ação é toda intelectual e o seu repouso é todo moral. Há momentos em que o seu pensamento diminui de atividade e não se dirige a um objetivo determinado; este é um verdadeiro repouso, mas não se pode compará-lo ao do corpo. A espécie de fadiga que os Espíritos podem provar esta, na razão da sua inferioridade, pois quanto mais se elevam, de menos repouso necessitam.
Quando um Espírito diz que sofre, a natureza de seu sofrimento está nas angústias morais, que o torturam mais dolorosamente que os sofrimentos físicos.
Alguns Espíritos se queixam de frio ou calor, devido à lembrança do que sofreram durante a vida e algumas vezes tão penosa como a própria realidade. Frequentemente, é uma comparação que fazem, para exprimirem a sua situação. Quando se lembram do corpo experimentam uma espécie de impressão, como quando se tira uma capa e algum tempo depois ainda se pensa estar com ela.
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