LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
CAPÍTULO
IX– INTERVENÇÃO DOS ESPÍRITOS NO MUNDO CORPÓREO
III-
Possessos
Um Espírito não entra num corpo como entra numa cãs; ele se assimila a um
Espírito encarnado que tem os seus mesmos defeitos e as suas mesmas qualidades,
para agir conjuntamente; mas é sempre o Espírito encarnado que age como quer
sobre a matéria de que está revestido. Um Espírito não pode substituir-se ao
que se acha encarnado, porque o Espírito e o corpo estão ligados até o tempo marcado
para o termo da existência material.
Se não há possessão propriamente dita, quer dizer, coabitação de dois
Espíritos no mesmo corpo, a alma pode encontrar-se na dependência de um outro
Espírito, de maneira a se ver por ele subjugada ou obsedada a ponto de ser sua
vontade, de alguma forma, paralisada, e são esses
os verdadeiros possessos; mas ficai sabendo que essa denominação não se efetua
jamais sem a participação daquele que sofre, seja por sua fraqueza, seja pelo
seu desejo. Frequentemente se têm tomado por possessos criaturas epiléticas ou
loucas, que mais necessitam de médico do que de exorcismo.
Comentário de Kardec: A palavra “possesso”, na sua acepção vulgar,
supõe a existência de demônios, ou seja, de uma categoria de seres de natureza
má, e a coabitação de um desses seres com a alma, no corpo de um indivíduo.
Mas, como não há demônios nesse sentido, e como dois Espíritos não podem habitar
simultaneamente o mesmo corpo, também não há possessos, segundo a ideia ligada
a essa palavra. Pela expressão “possesso” não se deve entender senão a
dependência absoluta da alma em relação a Espíritos imperfeitos que a
subjuguem.
Pode uma pessoa por si mesma afastar os maus Espíritos e se libertar do
seu domínio desde que se tem uma vontade firme.
Numa
fascinação exercida por um mau Espírito, uma terceira pessoa pode fazer cessar
a sujeição e, nesse caso, se for um homem de bem, sua vontade pode ajudar,
apelando para o concurso dos bons Espíritos, porque, quanto mais se é um homem
de bem, mais poder se tem sobre os Espíritos imperfeitos, para os afastar, e
sobre os bons, para os atrair. Não obstante, essa terceira pessoa seria
importante se aquele que está subjugado não se prestasse a isso, pois há
pessoas que se comprazem numa dependência que satisfaz, os seus gostos e os
seus desejos. Em todos os casos, aquele que não tem o coração puro não pode ter
nenhuma influência; os bons Espíritos o desprezam e os maus não o temem.
As fórmulas de exorcismo não têm qualquer eficácia contra os maus Espíritos;
quando esses Espíritos veem alguém toma-las a sério, riem
e se obstinam.
Há pessoas animadas de boas intenções e nem por isso menos obsedadas;
o melhor meio de se livrarem dos Espíritos obsessores é cansar-lhes
a paciência, não dar nenhuma atenção às suas sugestões, mostrar-lhes que perdem
tempo; então, quando eles veem que nada têm a fazer, se retiram.
A prece é um poderoso socorro para todos os
casos, mas sabei que não é suficiente murmurar algumas palavras para obter o
que se deseja. Deus assiste aos que agem, e não aos que se limitam a pedir.
Cumpre, portanto, que o obsedado faça, de seu lado, o que for necessário para
destruir em si mesmo a causa que atrai os maus Espíritos.
Se chamais
demônio a um mau Espírito que subjuga um indivíduo, quando a sua influência for
destruída, ele será verdadeiramente expulso. Se atribuís uma doença ao demônio,
quando a tiverdes curado, direis também que expulsastes o demônio.
Uma coisa
pode ser verdadeira ou falsa, segundo o sentido que se der às palavras. As
maiores verdades podem parecer absurdas, quando não se olha senão para a forma
e quando se toma a alegoria pela realidade. Compreendei bem isto e procurai
retê-lo, que é de aplicação geral
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