LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
CAPÍTULO
I– DOS ESPÍRITOS
VI- Escalas Espíritas
(Questão 100 à 113)
Observações
preliminares:
“ A
classificação dos Espíritos funda-se no seu grau de desenvolvimento, nas
qualidades por eles adquiridas e nas imperfeições de que ainda não se livraram.
Esta classificação nada tem de absoluta: nenhuma categoria apresenta caráter
bem definido, a não ser no conjunto: de um grau a outro, a transição é
insensível, pois, nos limites, as diferenças se apagam, como nos reinos da
Natureza, nas cores do arco-íris ou ainda nos diferentes períodos da vida
humana. Pode-se, portanto, formar um número maior ou menor de classes, de
acordo com a maneira por que se considerar o assunto.
Acontece
nisto como em todos os sistemas de classificação científica: os sistemas podem
ser mais ou menos completos, mais ou menos racionais, mais ou menos cômodos
para a inteligência; mas, seja como for, nada alteram quanto à substância da
Ciência.
Os
Espíritos, interpelados sobre isto, puderam, pois, variar quanto ao número das
categorias, sem maiores consequências. Houve quem se apegasse a esta
contradição aparente, sem refletir que eles não dão nenhuma importância ao que
é puramente convencional. Para eles, o pensamento é tudo: deixam-nos os
problemas da forma, da escolha dos termos, das classificações, em uma palavra,
dos sistemas.
Ajuntemos
ainda essa consideração que jamais se deve perder de vista: entre os Espíritos,
como entre os homens, há os que são muito ignorantes, e nunca será demais
estarmos prevenidos contra a tendência a crer que eles tudo sabem, por serem
Espíritos.
Toda
classificação exige método, análise e conhecimento aprofundado do assunto. Ora,
no mundo dos Espíritos, os que têm conhecimentos limitados são, como os
ignorantes deste mundo, incapazes de apreender um conjunto e formular um
sistema; eles não conhecem ou não compreendem senão imperfeitamente qualquer classificação;
para eles, todos os Espíritos que lhes sejam superiores são da primeira ordem,
pois não podem apreciar as suas diferenças de saber, de capacidade e de
moralidade, como entre nós faria um homem rude, em relação aos homens
ilustrados.
E aqueles mesmos
que sejam incapazes, podem variar nos detalhes, segundo os seus pontos de
vista, sobretudo quando uma divisão nada tem de absoluto. Lineu, Jussieu
Tournefort tiveram cada qual o seu método, e a botânica não se alterou por
isso. É que eles não inventaram nem as plantas nem os seus caracteres, mas
apenas observaram as analogias, segundo as quais formaram os grupos e as
classes.
Foi assim
que procedemos. Nós também não inventamos os Espíritos nem os seus caracteres.
Vimos e observamos; julgamos pelas suas palavras e os seus atos, e depois os
classificamos pelas semelhanças, baseando-nos nos dados que eles forneceram.
Os
Espíritos admitem, geralmente, três categorias principais ou três grandes
divisões. Na última, aquela que se encontra na base da escala, estão os
Espíritos imperfeitos, caracterizados pela predominância da matéria sobre o
espírito e pela propensão ao mal. Os da segunda se caracterizam pela
predominância do espírito sobre a matéria e pelo desejo de praticar o bem: são
os Espíritos bons. A primeira, enfim, compreende os Espíritos puros, que
atingiram o supremo grau de perfeição.
Esta
divisão nos parece perfeitamente racional e apresenta caracteres bem definidos;
não nos resta senão destacar, por um número suficiente de subdivisões, as nuanças
principais do conjunto. Foi o que fizemos, com o concurso dos Espíritos, cujas
benevolentes instruções jamais nos faltaram.
Com a
ajuda deste quadro, será fácil determinar a ordem e o grau de superioridade ou
inferioridade dos Espíritos com os quais podemos entrar em relação e, por
conseguinte, o grau de confiança e de estima que eles merecem. Esta é de alguma
maneira, a chave da Ciência espírita, pois só ela pode explicar-nos as
anomalias que as comunicações apresentam, esclarecendo-nos sobre as irregularidades
intelectuais e morais dos Espíritos. Observaremos, entretanto, que os Espíritos
não pertencem para sempre e exclusivamente a esta ou aquela classe; o seu
progresso se realiza gradualmente, e, como muitas vezes se efetua mais num
sentido que noutro, eles podem reunir as características de várias categorias,
o que é fácil apreciar por sua linguagem e seus atos.”
TERCEIRA ORDEM: ESPÍRITOS IMPERFEITOS
Caracteres gerais:
Predominância
da matéria sobre o espírito. Propensão ao mal. Ignorância, orgulho, egoísmo, e
todas as más paixões que lhes seguem. Têm a intuição de Deus, mas não o
compreendem.
Nem
todos são essencialmente maus; em alguns, há mais leviandade. Uns não fazem o
bem, nem o mal; mas pelo simples fato de não fazerem o bem, revelam a sua
inferioridade. Outros, pelo contrário, se comprazem no mal e ficam satisfeitos
quando encontram ocasião de praticá-lo.
Podem
aliar a inteligência à maldade ou à malícia; mas, qualquer que seja o seu
desenvolvimento intelectual, suas ideias são pouco elevadas e os seus
sentimentos mais ou menos abjetos.
Os
seus conhecimentos sobre as coisas do mundo espírita são limitados, e o pouco
que sabem a respeito se confunde com as ideias e os preconceitos da vida
corpórea. Não podem dar-nos mais do que noções falsas e incompletas daquele
mundo; mas o observador atento encontra frequentemente, nas suas comunicações,
mesmo imperfeitas, a confirmação das grandes verdades ensinadas pelos Espíritos
superiores.
O
caráter desses Espíritos se revela na sua linguagem. Todo Espírito que, nas
suas comunicações, trai um pensamento mau, pode ser colocado na terceira ordem;
por conseguinte, todo mal pensamento que nos for sugerido provém de um Espírito
dessa ordem.
Veem a
felicidade dos bons, e essa visão é para eles um tormento incessante, porque
lhes faz provar as angústias da inveja e do ciúme.
Conservam
a lembrança e a percepção dos sofrimentos da vida corpórea, e essa impressão é
frequentemente mais penosa que a realidade. Sofrem, portanto, verdadeiramente,
pelos males que suportaram e pelos que acarretaram aos outros; e como sofrem
por muito tempo, julgam sofrer para sempre. Deus, para os punir, quer que eles
assim pensem.
Podemos
dividi-los em cinco classes principais.
Décima
classe: Espíritos Impuros —
São inclinados ao mal e o fazem objeto de suas preocupações. Como Espíritos,
dão conselhos pérfidos, insuflam a discórdia e a desconfiança, e usam todos os
disfarces, para melhor enganar. Apegam-se às pessoas de caráter bastante fraco
para cederem às suas sugestões, a fim de as levar à perda, satisfeitos de
poderem retardar o seu adiantamento, ao fazê-las sucumbir ante as provas que
sofrem.
Nas
manifestações, reconhecem-se esses Espíritos pela linguagem: a trivialidade e a
grosseria das expressões, entre os Espíritos como entre os homens, e sempre um
índice de inferioridade moral, senão mesmo intelectual. Suas comunicações
revelam a baixeza de suas inclinações e, se eles tentam enganar, talando de
maneira sensata, não podem sustentar o papel por muito tempo e acabam sempre
por trair a sua origem.
Alguns
povos os transformaram em divindades malfazejas- outros os designam como
demônios, gênios maus, Espíritos do mal.
Quando
encarnados, inclinam-se a todos os vícios que as paixões vis e degradantes
engendram: a sensualidade, a crueldade, a felonia, a hipocrisia cupidez e a
avareza sórdida. Fazem o mal pelo prazer de fazê-lo, no mais das vezes sem
motivo, e, por ódio ao bem, quase sempre escolhem suas vitimas entre as pessoas
honestas. Constituem verdadeiros flagelos para a humanidade seja qual for a
posição que ocupem, e o verniz da civilização não os livra do opróbrio e da
ignomínia.
Nona
classe. Espíritos Levianos - São ignorantes, malignos, inconsequentes
e zombeteiros. Metem-se em tudo e a tudo respondem sem se importarem com a
verdade. Gostam de causar pequenas contrariedades e pequenas alegrias, de fazer
intrigas, de induzir maliciosamente ao erro por meio de mistificações e de
espertezas. A esta classe pertence os Espíritos vulgarmente designados pelos nomes
de duendes, diabretes, gnomos, tragos Estão sob a dependência de Espíritos
superiores, que deles se servem multas vezes, como fazemos com os criados.
Nas
suas comunicações com os homens, a sua linguagem é, muitas vezes espirituosa e
alegre, mas quase sempre sem profundidade; apanham as esquisitices e os
ridículos humanos, que interpretam de maneira mordaz e satírica. Se tomam nomes
supostos, é mais por malícia do que por maldade
Oitava
classe. Espíritos Pseudo-Sábios -
Seus conhecimentos são bastante amplos, mas julgam saber mais do que realmente
sabem Tendo realizado alguns progressos em diversos sentidos, sua linguagem tem
um caráter sério, que pode iludir quanto à sua capacidade e às suas luzes Mas
isso frequentemente, não é mais do que um reflexo dos preconceitos e das ideias
sistemáticas que tiveram na vida terrena. Sua linguagem é uma mistura de
algumas verdades com os erros mais absurdos, entre os quais repontam a
presunção, o orgulho, a inveja e a teimosia, de que não puderam despir-se.
Sétima classe.
Espíritos Neutros – Nem são bastante bons para fazerem o bem, nem
bastante maus para fazerem o mal; tendem tanto para um como para outro, e não
se elevam sobre a condição vulgar da humanidade, quer pela moral ou pela
inteligência. Apegam-se às coisas deste mundo, saudosos de suas grosseiras
alegrias.
Sexta
classe. Espíritos Batedores e Perturbadores
—Estes Espíritos não formam, propriamente falando,
uma classe distinta quanto às suas qualidades pessoais, e podem pertencer a
todas as classes da terceira ordem. Manifestam frequentemente sua presença por
efeitos sensíveis e físicos, como golpes, movimento e deslocamento anormal de
corpos sólidos, agitação do ar etc. Parece que estão mais apegados à matéria do
que os outros, sendo os agentes principais das vicissitudes dos elementos do
globo, quer pela sua ação sobre o ar, a água, o fogo, os corpos sólidos ou nas
entranhas da terra. Reconhece-se que esses fenômenos não são devidos a uma
causa fortuita e física, quando têm um caráter intencional e inteligente. Todos
os Espíritos podem produzir esses fenômenos, mas os Espíritos elevados os
deixam, em geral, a cargo dos Espíritos subalternos, mais aptos para as coisas
materiais que para as inteligentes. Quando julgam que as manifestações desse
gênero são úteis, servem-se desses espíritos como auxiliares.
SEGUNDA ORDEM: BONS ESPÍRITOS
Caracteres
Gerais:
Predomínio
do Espírito sobre a matéria; desejo do bem. Suas qualidades e seu poder de
fazer o bem estão na razão do grau que atingiram: uns possuem a ciência, outros
a sabedoria e a bondade; os mais adiantados juntam ao seu saber as qualidades
morais. Não estando ainda completamente desmaterializados, conservam mais ou
menos, segundo sua ordem, os traços da existência corpórea, seja na linguagem,
seja nos hábitos, nos quais se encontram até mesmo algumas de suas manias. Se
não fosse assim, seriam Espíritos perfeitos.
Compreendem
Deus e o infinito e gozam já da felicidade dos bons. Sentem-se felizes quando
fazem o bem e quando impedem o mal. O amor que os une é para eles uma fonte de
inefável felicidade, não alterada pela inveja nem pelos remorsos, ou por
qualquer das más paixões que atormentam os Espíritos imperfeitos; mas terão
ainda de passar por provas, até atingirem a perfeição absoluta.
Como
Espíritos, suscitam bons pensamentos, desviam os homens do caminho do mal,
protegem durante a vida aqueles que se tornam dignos, e neutralizam a
influência dos Espíritos imperfeitos sobre os que não se comprazem nelas.
Quando
encarnados, são bons e benevolentes para com os semelhantes; não se deixam
levar pelo orgulho, nem pelo egoísmo, nem pela ambição; não provam ódio, nem
rancor, nem inveja ou ciúme, fazendo o bem pelo bem.
A esta
ordem pertence os espíritos designados, nas crenças vulgares, pelos nomes de
bons gênios, gênios protetores, Espíritos do bem. Nos tempos de superstição e
de ignorância, foram considerados divindades benfazejas.
Podemos
dividi-los em quatro grupos principais:
Quinta
classe. Espíritos Benévolos — Sua qualidade dominante é a
bondade; gostam de prestar serviços aos homens e de os proteger; mas o seu
saber é limitado: seu progresso realizou-se mais no sentido moral que no
intelectual.
Quarta classe. Espíritos Sábios
— O que especialmente os distingue é a amplitude dos
conhecimentos. Preocupam-se menos com as questões morais do que com as
científicas, para as quais têm mais aptidão; mas só encaram a Ciência pela sua
utilidade, livres das paixões que são próprias dos Espíritos imperfeitos.
Terceira
classe. Espíritos Prudentes — Caracterizam-se pelas
qualidades morais da ordem mais elevada. Sem possuir conhecimentos ilimitados,
são dotados de uma capacidade intelectual que lhes permite julgar com precisão
os homens e as coisas.
Segunda
classe. Espíritos Superiores — Reúnem a ciência, a sabedoria
e a bondade. Sua linguagem, que só transpira benevolência, é sempre digna,
elevada, e frequentemente sublime. Sua superioridade os torna, mais que os
outros, aptos a nos proporcionar as mais justas noções sobre as coisas do mundo
incorpóreo, dentro dos limites do que nos é dado conhecer. Comunicam-se
voluntariamente com os que procuram de boa-fé a verdade e cujas almas estejam
bastante libertas dos liames terrenos, para a compreender; mas afastam-se dos
que são movidos apenas pela curiosidade ou que, pela influência da matéria, se
desviam da prática do bem.
Quando,
por exceção, se encarnam na Terra, é para cumprir uma missão de progresso, e
então nos oferecem o tipo de perfeição a que a humanidade pode aspirar neste
mundo.
PRIMEIRA ORDEM: ESPÍRITOS PUROS
Caracteres
Gerais.
Nenhuma
influência da matéria. Superioridade intelectual e moral absoluta, em relação
aos Espíritos das outras ordens.
Primeira
classe. Classe Única — Percorreram todos os graus da escala
e se despojaram de todas as impurezas da matéria. Havendo atingido a soma de
perfeições de que é suscetível a criatura, não têm mais provas nem expiações a
sofrer. Não estando mais sujeitos à reencarnação em corpos perecíveis, vivem a
vida eterna, que desfrutam no seio de Deus.
Gozam
de uma felicidade inalterável, porque não estão sujeitos nem às necessidades
nem às vicissitudes da vida material, mas essa felicidade não é a de uma
ociosidade monótona, vivida em contemplação perpétua. São os mensageiros e os
ministros de Deus, cujas ordens executam, para a manutenção da harmonia
universal. Dirigem a todos os Espíritos que lhes são inferiores, ajudam-nos a
se aperfeiçoarem e determinam as suas missões. Assistir os homens nas suas
angústias, incitá-los ao bem ou à expiação das faltas que os distanciam da
felicidade suprema é para eles uma ocupação agradável. São, às vezes,
designados pelos nomes de anjos, arcanjos ou serafins.
Os
homens podem comunicar-se com eles, mas bem presunçoso seria o que pretendesse
tê-los constantemente às suas ordens.
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