LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
CAPÍTULO
V– CONSIDERAÇÕES SOBRE A PLURALIDADE DAS EXISTÊNCIAS
I- Considerações sobre a Pluralidade das Existências
O dogma da
reencarnação, dizem algumas pessoas, não é novo e foi retirado de Pitágoras.
Mas jamais dissemos que a doutrina espírita fosse uma invenção moderna.
O
Espiritismo deve ter existido desde a origem dos tempos, pois decorre da
própria Natureza. Temos sempre procurado provar que se encontram os seus traços
desde a mais alta Antiguidade.
Pitágoras,
como se sabe, não é o criador do sistema de metempsicose, que tomou dos
filósofos indianos e dos meios egípcios, onde ela existia desde de épocas imemoriais.
A ideia da transmigração das almas era, portanto, uma crença comum, admitida
pelos homens mais eminentes. Por que maneira chegou até eles? Não sabemos. Mas,
seja como for, uma ideia não atravessa as idades e não é aceita pelas
inteligências mais adiantadas, se não tiver um aspecto sério.
A
antiguidade desta doutrina, portanto, em vez de ser uma objeção, devia ser
antes uma prova a seu favor. Há, porém, como igualmente se sabe, entre a
metempsicose dos antigos e a moderna doutrina da reencarnação, a grande
diferença de que os Espíritos rejeitam,
da maneira mais absoluta, a transmigração do homem nos animais e vice-versa.
Os Espíritos, ensinando o dogma da
pluralidade das existências corpóreas, renovam uma doutrina que nasceu nos
primeiros tempos do mundo, e que se conservou até os nossos dias, no pensamento
íntimo de muitas pessoas. Apresentam-na, porém, de um ponto de vista mais
racional, mais conforme às leis progressivas da natureza e mais em harmonia com
a sabedoria do Criador, ao despojá-la de todos os acréscimos da superstição.
Uma circunstância digna de nota é que não foi
apenas neste livro que eles a ensinaram, nos últimos tempos: desde antes da sua
publicação, numerosas comunicações da mesma natureza foram obtidas, em diversas
regiões, e multiplicaram-se consideravelmente depois. Seria o caso, talvez, de
examinar-se por que todos os Espíritos não parecem de acordo sobre este ponto.
É o que faremos logo mais.
Examinemos
o assunto por outro ângulo, fazendo abstração da intervenção dos Espíritos.
Deixemo-los de lado por um instante. Suponhamos que esta teoria não foi dada
por eles; suponhamos mesmo que nunca se tenha cogitado disto com os Espíritos.
Coloquemo-nos
momentaneamente numa posição neutra, admitindo o mesmo grau de probabilidade
para uma hipótese e outra, a saber: a da pluralidade e a da unicidade das
existências corpóreas, e vejamos para que lado nos levam a razão e o nosso
próprio interesse.
Certas
pessoas repelem a ideia da reencarnação pelo único motivo de que ela não lhes
convém, dizendo que lhes basta uma existência e não desejam iniciar outra
semelhante. Conhecemos pessoas que, à simples ideia de voltar à Terra, ficam
enfurecidas. Só temos a lhes perguntar se Deus devia pedir-lhes conselho e
consultar os seus gostos, para ordenar o Universo. De duas uma: a reencarnação
existe ou não existe. Se existe, é inútil opor-se a ela, pois terão de
sofrê-la, sem que Deus lhes peça permissão para isso. Parece-nos ouvir um
doente dizer: — Já sofri hoje demais e não quero tornar a sofrer amanhã.
Qualquer que seja a sua má vontade, isso não o fará sofrer menos amanhã e nos
dias seguintes, até que consiga curar-se.
Da mesma
maneira, se essas pessoas devem reviver corporalmente, reviverão, tornarão a
reencarnar-se; perderão o tempo de protestar, como uma criança que não quer ir
à escola ou um condenado, à prisão, pois terão de passar por ela. Objeções
dessa espécie são demasiado pueris para merecerem exame mais sério. Diremos,
entretanto, a essas pessoas, para tranquilizá-las, que a doutrina espírita
sobre a reencarnação não é tão terrível como pensam, e que, se a estudassem a
fundo, não teriam do que se assustar. Saberiam que essa nova existência depende
delas mesmas: será feliz ou desgraçada, segundo o que tiverem feito neste
plano, e podem desde já elevar-se tão alto, que não mais deverão temer nova
queda no lodaçal.
Supomos
falar a pessoas que acreditam num futuro qualquer após a morte, e não às que só
têm o nada como perspectiva, ou que desejam mergulhar a sua alma no Todo
Universal, sem conservar a individualidade, como as gotas de chuva no oceano, o
que vem a ser mais ou menos a mesma coisa. Se acreditais num futuro qualquer,
por certo não admitireis que ele seja o mesmo para todos, pois qual seria a
utilidade do bem? Por que reprimir-se, por que não satisfazer a todas as
paixões, a todos os desejos, mesmo à custa dos outros, pois que isso não teria consequência?
Acreditais,
pelo contrário, que esse futuro será mais ou menos feliz ou desgraçado, segundo
o que tivermos feito durante a vida; e tereis o desejo de que seja o mais feliz
possível, pois que deverá durar pela eternidade? Teríeis, por acaso, a
pretensão de ser uma das criaturas mais perfeitas que já passaram pela Terra,
tendo, assim, o direito imediato à felicidade dos eleitos? Não. Admitis, então,
que há criaturas que valem mais do que vós e têm direito a uma situação melhor,
sem por isso vos considerardes entre os réprobos.
Pois bem,
colocai-vos por um instante, pelo pensamento, nessa situação intermediária, que
será a vossa, como o admitis, e suponde que alguém venha dizer-vos: — “Sofreis,
não sois tão felizes como poderíeis ser, enquanto tendes diante de vós os que
gozam de uma felicidade perfeita; quereis trocar a vossa posição com a deles?”
— “Sem dúvida!”, responderíeis, “mas o que devo fazer?” — “Quase nada:
recomeçar o que fizestes mal e tratar de fazê-lo melhor.” — Hesitaríeis em
aceitar, mesmo que fosse ao preço de muitas existências de provas?
Façamos
uma comparação mais prosaica. Se a um homem que, sem estar na miséria extrema,
passa pelas privações decorrentes da sua precariedade de recursos viessem
dizer: — “Eis uma imensa fortuna, que podereis gozar, sendo, porém, necessário
trabalhar rudemente durante um minuto” —; fosse ele o maior preguiçoso da
terra, e diria sem hesitar: — “Trabalhemos um minuto, dois minutos, uma hora,
um dia, se for preciso! O que será isso, para acabar a minha vida na abundância?”
Ora, o que é a duração da vida corporal, em relação à da eternidade? Menos que
um minuto, menos que um segundo.
Ouvimos algumas vezes este raciocínio: Deus, que é soberanamente bom, não pode
impor ao homem o reinicio de uma série de misérias e tribulações. Acharão, por
acaso, que há mais bondade em condenar o homem a um sofrimento perpétuo, por
alguns momentos de erro, do que em lhe conceder os meios de reparar as suas
faltas? Dois fabricantes tinham, cada qual, um operário que podia aspirar a se
tornar sócio da firma. Ora, aconteceu que esses dois operários empregaram mal,
certa vez, o seu dia de trabalho e mereceram ser despedidos. Um dos fabricantes
despediu o seu empregado, apesar de suas súplicas, e este, não mais encontrando
emprego, morreu na miséria. O outro disse ao seu: — “Perdeste um dia e me deves
uma compensação; fizeste mal o trabalho e me deves a reparação; eu te permito
recomeçar; trata de fazê-lo bem, e eu te conservarei, e poderás continuar
aspirando à posição superior que te prometi”. Seria necessário perguntar qual
dos dois fabricantes foi mais humano? Deus, que é a própria clemência, seria
mais inexorável que um homem? O pensamento de que a nossa sorte está para
sempre fixada, em alguns anos de prova, ainda mesmo quando nem sempre
dependesse de nós atingir a perfeição sobre a Terra, tem qualquer coisa de
pungente, enquanto a ideia contrária é eminentemente consoladora, pois não nos
tira a esperança. Assim, sem nos pronunciarmos pró ou contra a pluralidade das
existências, sem admitir uma hipótese mais do que a outra, diremos que, se
pudéssemos escolher, ninguém preferiria um julgamento sem apelo.
Um filósofo disse que, se Deus não existisse,
seria necessário inventá-lo, para a felicidade do gênero humano; o mesmo se
poderia dizer da pluralidade das existências. Mas, como dissemos, Deus não pede
licença, não consulta as nossas preferências; as coisas são ou não são. Vejamos
de que lado estão as probabilidades, e tomemos o problema sob outro ponto de
vista, fazendo sempre abstração do ensinamento dos Espíritos e unicamente,
portanto, como estudo filosófico.
Se
não há reencarnação, não há mais do que uma existência corporal, isso é
evidente. Se nossa existência corporal é a única, a alma de cada criatura foi
criada por ocasião do nascimento, a menos que admitamos a anterioridade da
alma. Mas neste caso perguntaríamos o que era a alma antes do nascimento, e se
o seu estado não constituiria uma existência, sob qualquer forma. Não há, pois,
meio-termo: ou a alma existia ou não existia antes do corpo. Se ela existia,
qual era a sua situação? Tinha ou não consciência de si mesma? Se não a tinha,
era mais ou menos como se não existisse; se tinha, sua individualidade era
progressiva ou estacionária. Num e noutro caso, qual a sua situação ao chegar
ao corpo? Admitindo, de acordo com a crença vulgar, que a alma nasce com o
corpo ou, o que dá no mesmo, que antes da encarnação só tinha faculdades
negativas, formulamos as seguintes questões:
l. Por que a alma revela aptidões tão diversas e independentes das ideias
adquiridas pela educação?
2. De
onde vem a aptidão extranormal de algumas crianças de pouca idade para esta ou
aquela ciência, enquanto outras permanecem inferiores ou medíocres por toda a
vida?
3. De
onde vêm, para uns, as ideias inatas ou intuitivas, que não existem para
outros?
4. de
onde vêm, para certas crianças, os impulsos precoces de vícios ou virtudes,
esses inatos de dignidade ou de baixeza, que contrastam com o meio em que
nasceram?
5.
Por que alguns homens, independentemente da educação, são mais adiantados que
os outros?
6.
Por que há selvagens e homens civilizados? Se tomarmos uma criança hotentote,
de peito, e a educarmos, enviando-a depois aos mais renomados liceus, faremos
dela um Laplace ou um Newton?
Admitamos, ao contrário, uma sucessão de existências anteriores e progressivas,
e tudo se explicará. Os homens trazem, ao nascer, a intuição do que já haviam
adquirido. São mais ou menos adiantados, segundo o número de existências por
que passaram ou conforme estejam mais ou menos distanciados do ponto de
partida: precisamente como, numa reunião de pessoas de todas as idades, cada
uma terá um desenvolvimento de acordo com os números de anos vividos. Para a
vida da alma, as existências sucessivas serão o que os anos são para a vida do
corpo. Reuni um dia mil indivíduos de um, até oitenta anos; suponde que um véu
tenha sido lançado sobre todos os dias anteriores, e que, na vossa ignorância,
julgais todos eles nascidos no mesmo dia: perguntaríeis, naturalmente, por que
uns são grandes e outros pequenos, uns velhos e outros jovens, uns instruídos e
outros ainda ignorantes. Mas, se a nuvem que vos oculta o passado for afastada,
se compreenderdes que todos viveram por mais ou menos tempo, tudo estará
explicado.
Deus,
na sua justiça, não podia ter criado almas mais perfeitas e outras menos
perfeitas, mas, com a pluralidade das existências, a desigualdade que vemos
nada tem de contrário à mais rigorosa equidade. É porque só vemos o presente e
não o passado, que não o compreendemos. Este raciocínio repousa sobre algum
sistema, alguma suposição gratuita? Não, pois partimos de um fato patente,
incontestável: a desigualdade de aptidões e do desenvolvimento intelectual e
moral. E verificamos que esse fato é inexplicável por todas as teorias
correntes, enquanto a explicação é simples, natural, lógica, por uma nova
teoria. Seria racional preferirmos aquela que nada explica à outra que tudo
explica?
No
tocante à sexta pergunta, dirão sem dúvida que o hotentote é uma raça inferior.
Então perguntaremos se o hotentote ó ou não humano. Se é humano, por que teria
Deus, a ele e a toda a sua raça, deserdado dos privilégios concedidos à raça
caucásica? Se o não é, por que procurar fazê-lo cristão? A doutrina espírita é
mais ampla que tudo isso. Para ela, não há muitas espécies de homens, mas
apenas homens, seres humanos cujos espíritos são mais ou menos atrasados, mas
sempre suscetíveis de progredir. Isso não está mais conforme à justiça de Deus?
Vimos
a alma no seu passado e no seu presente. Se a considerarmos quanto ao futuro,
encontraremos as mesmas dificuldades.
1. Se a existência presente deve ser decisiva para a sorte futura, qual é, na
vida futura, respectivamente, a posição do selvagem e a do homem civilizado?
Estarão no mesmo nível ou estarão distanciados no tocante à felicidade eterna?
2. O homem que trabalhou toda a vida para melhorar-se estará no mesmo plano
daquele que permaneceu inferior, não por sua culpa, mas porque não teve o tempo
nem a possibilidade de melhorar?
3. O homem que praticou o mal, por não ter podido esclarecer-se, culpado por um
estado de coisas que dele em nada dependeu?
4. Trabalha-se para esclarecer os homens, para os moralizar e civilizar. Mas,
para um que se esclarece, há milhões que morrem cada dia antes que a luz
consiga atingi-los. Qual é a sorte destes? Serão tratados como réprobos? Caso
contrário, o que fizeram eles para merecerem estar no mesmo plano que os
outros?
5. Qual é a sorte das crianças que morrem em tenra idade, antes de poderem ter
feito o mal ou o bem? Se estiverem entre os eleitos, por que esse favor, sem
nada terem feito para o merecer? Por que privilégio foram elas subtraídas às
tribulações da vida?
Há uma doutrina que possa resolver essas questões? Admiti as existências
sucessivas, e tudo estará explicado de acordo com a justiça de Deus. Aquilo que
não pudermos fazer numa existência, faremos em outra. É assim que ninguém
escapa à lei do progresso. Cada um será recompensado segundo o seu verdadeiro
merecimento, e ninguém é excluído da felicidade suprema, a que pode aspirar,
sejam quais forem os obstáculos que encontre no seu caminho.
Essas questões poderiam ser multiplicadas ao infinito, porque os problemas
psicológicos e morais que não encontram solução, a não ser na pluralidade das
existências, são inumeráveis. Limitamo-nos apenas aos mais gerais. Seja como
for, talvez se diga que a doutrina da reencarnação não é admitida na Igreja;
isto seria, portanto, a subversão da religião.
Nosso
objetivo não é, no momento, tratar desta questão, bastando-nos haver
demonstrado que ela é eminentemente moral e racional. Ora, o que é moral e racional
não pode ser contrário a uma religião que proclame Deus como a bondade e a
razão por excelência. O que teria acontecido à religião se, contra a opinião
universal e o testemunho da Ciência, tivesse resistido à evidência e expulsado
de seu seio quem não acreditasse no movimento do sol e nos seis dias da
criação? Que crédito mereceria e que autoridade teria, entre os povos
esclarecidos, uma religião baseada nos erros evidentes, oferecidos como artigos
de fé? Quando a evidência foi demonstrada, a Igreja sabiamente se alinhou ao
seu lado. Se está provado que existem coisas que seriam impossíveis sem a
reencarnação, se certos pontos do dogma não podem ser explicados senão por este
meio, será necessário admiti-la e reconhecer que o antagonismo entre essa doutrina
e os dogmas é apenas aparente.
Mais tarde mostraremos que a religião talvez
esteja menos afastada desta doutrina do que se pensa, e que ela não sofreria
mais, ao admiti-la, do que com a descoberta do movimento da Terra e dos
períodos geológicos, que a princípio pareciam opor um desmentido aos textos
sagrados. O princípio da reencarnação ressalta, aliás, de muitas passagens das
Escrituras, encontrando-se especialmente formulado, de maneira explícita, no
Evangelho:
— “Descendo eles da montanha (após a transfiguração), Jesus lhe: preceituou,
dizendo: — Não digais a ninguém o que vistes, até que o Filho do Homem
seja ressuscitado de entre os mortos. Seus discípulos então o interrogaram,
e lhe disseram:
— Por que dizem então os escribas que é necessário que
Elias venha primeiro? E Jesus, respondendo, lhes disse: — Em verdade,
Elias virá primeiro e restabelecerá todas as coisas. Mas eu vos declaro
que Elias já veio, e eles não o conheceram, antes o fizeram sofre, tudo
quanto quiseram. Assim também eles farão morrerão Filho do Homem. Então entenderam
os discípulos que era de João Batista que ele lhes havia falado. “
(São Mateus, cap. XVII.)
Ora, se João Batista era Elias, houve então a reencarnação do Espírito ou da
alma de Elias no corpo de João Batista.
Seja qual for, de resto, a opinião que se tenha sobre a reencarnação, que a
aceitem ou não, ninguém a ela escapará por causa da crença em contrário. O
ponto essencial é que se apoia na imortalidade da alma, nas penas e recompensas
futuras, no livre-arbítrio do homem, na moral do Cristo, e, portanto, não é antirreligioso.
Raciocinamos, como dissemos, fazendo abstração de todo o ensinamento espírita,
que, para certas pessoas, não tem autoridade. Se, como tantos outros, adotamos
a opinião referente à pluralidade das existências, não é somente porque ela
veio dos Espíritos, mas porque nos parece a mais lógica e a única que resolve
as questões até então insolúveis. Que ela nos viesse de um simples mortal, e a
adoraríamos da mesma maneira, não hesitando em renunciar às nossas próprias ideias.
Do mesmo modo, nós a teríamos repelido, embora
viesse dos Espíritos, se nos parecesse contrária à razão, como repelimos tantas
outras. Porque sabemos por experiência que não se deve aceitar de olhos
fechados tudo o que vem dos Espíritos, como aquilo que vem da parte dos homens.
Seu primeiro título aos nossos olhos é, e antes de tudo, o de se lógica.
Mas
ainda tem outro, que é o de ser confirmada pelos fatos: fato positivos e por
assim dizer materiais, que um estudo atento e raciocinado pode revelar a quem
se der ao trabalho de observá-los com paciência perseverança e diante dos quais
a dúvida não é mais possível. Quando esses fatos se popularizarem, como os da
formação e do movimento da Terra, ser necessário reconhecer a evidência, e os
seus opositores terão gasto em vão os argumentos contrários.
Reconhecemos, em resumo, que a doutrina da pluralidade das existências é a única
a explicar aquilo que, sem ela, é inexplicável. Que é eminentemente consoladora
e conforme à justiça mais rigorosa, sendo para o homem a tábua de salvação que
Deus lhe concedeu, na sua misericórdia.
As próprias palavras de Jesus não podiam deixar dúvida a respeito. Eis o que se
lê no Evangelho segundo São João, capítulo III:
“3. Jesus, respondendo a Nicodemos disse, — Em verdade, em verdade, te digo
que, se um homem não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.
“4. Nicodemos lhe disse: — Como pode um homem nascer, quando está velho?” Pode
ele entrar de novo no ventre de sua mãe e nascer uma segunda vez?
“5. Jesus respondeu:— Em verdade, em verdade, te digo que, se um homem não
nascer da água e do espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido
da carne é carne e o que é nascido do espírito é espírito. Não te maravilhes de
eu te haver dito: necessário vos é nascer de novo.” (Ver a seguir, o artigo
Ressurreição da carne, item 1010.)
Kardec não
se refere à doutrina da Sociedade Teosófica, que só foi fundada mais tarde, em
1875, mas à teosofia num sentido geral, como era então conhecida a palavra, ou
seja, uma forma de conhecimento intuitivo ou racional das coisas divinas. (N.do
T.)
A reencarnação
está hoje provada, através dos casos de lembranças de vidas anteriores em
crianças, de pesquisas hipnóticas de regressão da memória, de avisos mediúnicos
de renascimento com sinais e condições posteriormente verificados. Embora as
Ciências oficiais ainda relutem em aceitar essas provas, a Ciência Espírita as
considera válidas e espera para breve a sua aceitação oficial. (N. do T.)
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