LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
CAPÍTULO
II– ENCARNAÇÃO DOS ESPÍRITOS
II-
Da Alma
(Questão 134 à 146)
A alma é um Espírito encarnado.
Antes de unir-se ao corpo, a alma era uma Espírito.
As almas e os Espíritos são, portanto, uma e a mesma coisa, isto é,
não são mais que Espíritos. Antes de ligar-se ao
corpo, a alma é um dos seres inteligentes que povoam o mundo invisível.
Há no homem outra coisa, além da alma e do corpo. Há
o liame que une a alma e o corpo. Sua natureza é semi-material; quer dizer, um
meio-termo entre a natureza do Espírito e a do corpo. E isso é necessário, para
que eles possam comunicar-se. E por meio desse liame que o Espírito age sobre a
matéria, e vice-versa.
Comentário
de Kardec: homem é, assim, formado de três partes essenciais:
1°) O corpo, ou ser material, semelhante
aos dos animais e animado pelo mesmo princípio vital;
2°) A alma. Espírito encarnado, do qual o
corpo é a habitação;
3°) O Perispírito. Princípio
intermediário, substância semi-material, que serve de primeiro envoltório ao
Espírito e une a alma ao corpo. Tais são, num fruto, a semente, a polpa e a
casca.
A alma é independente do princípio vital, pois que o
corpo não é mais que o envoltório, sempre o repetimos.
O corpo pode existir sem a alma; e não
obstante, desde que o corpo deixa de viver, a alma o abandona. Antes do
nascimento não há uma união decisiva entre a alma e o corpo, ao passo que, após
o estabelecimento dessa união, a morte do corpo rompe os liames que a unem a
ele, e a alma a deixa. A vida orgânica pode animar um corpo sem alma, mas a
alma não pode habitar um corpo sem vida orgânica.
Se não tivesse alma, o nosso corpo seria uma massa
de carne sem inteligência; tudo o que quiserdes, menos um homem.
O mesmo Espírito não pode encarnar-se de uma vez em dois corpos
diferentes. O Espírito é indivisível e não pode animar
simultaneamente duas criaturas diferentes. (Ver, em O Livro dos Médiuns, o
capítulo Bi corporeidade e transfiguração.)
Alguns Espíritos, e antes deles alguns filósofos, assim definiram a alma:
Uma centelha anímica emanada do Grande Todo. Não
há contradição: tudo depende da significação das palavras. Por que não tendes
uma palavra para cada coisa?
Comentário de Kardec: A palavra
alma é empregada para exprimir as coisas mais diferentes. Uns chamam alma ao princípio
da vida, e nessa acepção é exato dizer figuradamente, que a alma é uma centelha
anímica emanada do Grande Todo. Essas últimas palavras se referem à fonte
universal do princípio vital, em que cada ser absorve uma porção, que devolve
ao todo após a morte. Esta ideia não exclui absolutamente a de um ser moral,
distinto, independente da matéria, e que conserva a sua individualidade. É a
este ser que se chama igualmente alma, e nesta acepção pode dizer-se que a alma
é um Espírito encarnado. Dando da alma diferentes definições, os Espíritos
falaram segundo as aplicações que faziam da palavra e segundo as ideias
terrestres de que estavam ainda mais ou menos imbuídos. Isso decorre da
insuficiência da linguagem humana, que não tem um termo para cada ideia, o que
acarreta uma multidão de mal-entendidos e discussões. Eis porque os Espíritos
superiores dizem que devemos, primeiro, nos entendermos quanto às palavras.
Sobre a teoria da alma subdividida em tantas partes quantos são os
músculos, presidindo cada uma às diferentes funções do corpo, está certa se,
estivermos atribuindo à palavra alma o sentido de fluido vital.
Se se
entende o Espírito encarnado, está errado. Já dissemos que o Espírito é
indivisível: ele transmite o movimento aos órgãos através do fluido intermediário,
sem por isso se dividir.
Comentário
de Kardec: A alma age por meio dos órgãos, e estes são
animados pelo fluido vital que se reparte entre eles, e com mais
abundância nos que são os centros ou focos de movimento. Mas essa explicação
não pode aplicar-se à alma como sendo o Espírito que habita o corpo durante a
vida e o deixa com a morte.
Há qualquer coisa de certo na opinião dos que pensam que a alma é externa
e envolve o corpo. A alma não está encerrada no corpo como o pássaro
numa gaiola. Ela irradia e se manifesta no exterior, como a luz através de um
globo de vidro ou como o som ao redor de um centro sonoro. É por isso que se
pode dizer que ela é exterior, mas não como um envoltório do corpo. A alma tem
dois envoltórios: um, sutil e leve, o primeiro, que chamamos Perispírito; o
outro, grosseiro, material e pesado, que é o corpo.
A alma é o centro desses
envoltórios, como a amêndoa na casca, já o dissemos.
O Espírito é
apenas um: inteiro na criança, como no adulto; são os órgãos, instrumentos de
manifestação da alma, que se desenvolvem e se completam a cada período da vida.
Isto é ainda tomar o efeito pela causa.
Os Espíritos
não são todos igualmente esclarecidos sobre essas questões. Há Espíritos ainda
limitados, que não compreendem as coisas abstraías, como as crianças entre vós.
Há também Espíritos pseudo-sábios, que para se imporem, como acontece ainda
entre vós, fazem rodeios de palavras. Além disso, mesmo os Espíritos
esclarecidos podem exprimir-se em termos diferentes, que no fundo têm o mesmo
valor, sobretudo quando se trata de coisas que a vossa linguagem é incapaz de
esclarecer; há então necessidade de figuras, de comparações, que tomais pela
realidade.
Deve-se entender por alma do mundo, o princípio
universal da vida e da inteligência de que nascem as individualidades. Mas os
que se servem dessa expressão, frequentemente, não se entendem. A palavra alma
tem aplicação tão elástica que cada um a interpreta de acordo com as suas
fantasias. Tem-se, às vezes, atribuído uma alma à Terra, e por ela é necessário
entender o conjunto dos Espíritos abnegados que dirigem as vossas ações no bom
sentido, quando os escutais, e que são de certa maneira os lugares-tenentes de
Deus junto ao vosso globo.
Muitos filósofos antigos e modernos têm longamente discutido sobre
a Ciência psicológica, sem chegar à verdade.Esses homens
eram os precursores da doutrina espírita eterna, e prepararam o caminho. Eram
homens e puderam enganar-se, porque tomaram pela luz as suas próprias ideias;
mas os seus mesmos erros, através dos prós e contras de suas doutrinas, servem
para evidenciar a verdade. Aliás, entre esses erros se encontram grandes
verdades, que um estudo comparativo vos fará compreender.
A alma não tem, no corpo, uma sede determinada e circunscrita.
Mas ela se situa mais particularmente na cabeça, entre os grandes gênios e
todos aqueles que usam bastante o pensamento, e no coração dos que sentem
bastante, dedicando todas as suas ações à Humanidade.
Sobre a opinião dos que
situam a alma num centro vital, deve-se pensar que
o Espírito se encontra de preferência nessa parte do vosso organismo, que é o
ponto a que se dirigem toda as sensações. Os que a situam naquilo que
consideram como centro da vitalidade, a confundem com afluído ou princípio
vital. Não obstante, pode dizer-se que a sede da alma se encontra mais
particularmente nos órgãos que servem para as manifestações intelectuais e
morais.
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