LIVRO
SEGUNDO
MUNDO
ESPÍRITA OU DOS ESPÍRITOS
CAPÍTULO
IV– PLURALIDADE DAS EXISTÊNCIAS
III – Encarnação nos
Diferentes Mundos
(Questões 172 à 188)
Nossas diferentes existências corpóreas não se passam todas na
Terra, mas nos diferentes mundos. As deste globo não são as
primeiras nem as últimas, mas as mais materiais e distanciadas da perfeição.
A cada nova existência corpórea a alma passa de um mundo a outro e pode
viver muitas vidas num mesmo globo, se não estiver
bastante adiantada para passar a um mundo superior. Certamente, podemos então, reaparecer muitas vezes na Terra, bem como, podemos
voltar a ela depois de ter vivido em outros mundos.
Reviver na Terra não é uma necessidade. Mas, se não
progredirdes, podeis ir para outro mundo que não seja melhor, e que pode mesmo
ser pior.
Não há nenhuma vantagem particular, em voltar a viver na Terra, a
não ser que se venha em missão, pois então se progride,
como em qualquer outro mundo.
Não seria melhor
continuar como Espírito, pois que, ficar-se-ia
estacionário, e o que se quer é avançar para Deus.
Os Espíritos, depois de se haverem encarnado em outros mundos, podem
encarnar-se neste, sem jamais terem passado por aqui, assim como
vós em outros globos. Todos os mundos são solidários; o que não se faz num, pode-se
fazer noutro. Assim, existem muitos homens
que estão na Terra pela primeira vez, e em diversos graus.
Reconhecer, por um sinal qualquer, quando um Espírito se encontra pela
primeira vez na Terra, não teria nenhuma utilidade.
Para chegar à perfeição e à felicidade suprema, que é o objetivo final de
todos os homens, o Espírito não deve necessariamente, passar pela série de
todos os mundos que existem no Universo, porque há
muitos mundos que se encontram no mesmo grau e onde os Espíritos nada aprenderiam
de novo.
A pluralidade de sua
existência num mesmo globo se explica da seguinte forma: eles
podem ali se encontrar de cada vez, em posições bastante diferentes, que serão
outras tantas ocasiões de adquirir experiência.
Os Espíritos podem renascer corporalmente num mundo relativamente
inferior àquele em que já viveram. Quando têm
uma missão a cumprir, para ajudar o progresso; e então aceitam com alegria as
tribulações dessa existência porque lhes fornecem um meio de se adiantarem.
Isso não pode também acontecer como expiação, pois que, os
Espíritos podem permanecer estacionários, mas nunca retrogradas; sua punição,
pois, é a de não avançar e ter que recomeçar as existências mal empregadas, no
meio que convém à sua natureza.
Aqueles que devem recomeçar a mesma existência são os que
faliram em sua missão ou em suas provas.
Os seres que habitam cada mundo não estão todos no mesmo grau de
perfeição. É como na Terra: há os que estão mais ou menos
adiantados.
Certamente, ao passar deste mundo para outro, o Espírito conserva a inteligência que
tinha aqui, pois a inteligência nunca se perde. Mas ele pode
não dispor dos mesmos meios para manifestá-la. Isso depende da sua
superioridade e do estado do corpo que adquirir.
Os seres que habitam os diferentes mundos, sem
dúvida que têm corpos, porque é necessário que o Espírito se revista de matéria
para agir sobre ela; mas esse envoltório é mais ou menos material, segundo o
grau de pureza a que chegaram os Espíritos, e é isso que determina as diferenças
entre os mundos que temos de percorrer. Porque há muitas moradas na casa de
nosso Pai, e muitos graus, portanto. Alguns o sabem e têm consciência disso
aqui na Terra, mas outros anda sabem.
Não podemos conhecer exatamente o estado físico e moral dos diferentes
mundos. Nós, Espíritos, não podemos responder senão na
medida do vosso grau de evolução. Quer dizer que não devemos revelar estas
coisas a todos, porque nem todos estão em condições de compreendê-las, e elas
os perturbariam.
Comentário de Kardec: À medida
que o Espírito se purifica, o corpo que o reveste, aproxima-se igualmente da
natureza espírita. A matéria se torna menos densa, ele já não se arrasta
penosamente pelo solo, suas necessidades físicas são menos grosseiras, os seres
vivos não têm mais necessidade de se destruírem para se alimentar. O Espírito é
mais livre e tem, para as coisas distanciadas, percepções que desconhecemos: vê
pelos olhos do corpo aquilo que só vemos pelo pensamento.
A
purificação dos Espíritos reflete-se na perfeição moral dos seres em que estão
encarnados. As paixões animais se enfraquecem, o egoísmo dá lugar ao sentimento
fraternal. É assim que, nos mundos superiores ao nosso, as guerras são
desconhecidas, os ódios e as discórdias não têm motivo, porque ninguém pensa em
prejudicar o seu semelhante. A intuição do futuro, a segurança que lhes dá uma
consciência isenta de remorsos faz que a morte não lhes cause nenhuma
apreensão: eles a recebem sem medo e como uma simples transformação.
A
duração da vida, nos diferentes mundos, parece proporcional ao seu grau de
superioridade física e moral, e isso é perfeitamente racional. Quanto menos
material é o corpo, está menos sujeito às vicissitudes que o desorganizam,
quanto mais puro é o Espírito, menos sujeito às paixões que o enfraquecem. Este
é ainda um auxílio da providência, que deseja, assim, abreviar os sofrimentos.
Passando de um mundo para outro, o Espírito passa por nova infância, pois
que a infância é por toda parte uma transição
necessária, mas não é sempre tão ingênua como entre vós.
Nem sempre o Espírito pode escolher o novo mundo em que vai habitar;
mas pode pedir e obter o que deseja, se o merecer. Porque os mundos só são
acessíveis aos Espíritos de acordo com o grau de sua elevação. O que determina o mundo onde irá reencarnar é o seu grau de
elevação.
O estado físico e moral dos seres vivos não é perpetuamente o mesmo em
cada globo; os mundos também estão submetidos à lei do
progresso. Todos começaram como o vosso, por um estado inferior, e a Terra
mesma sofrerá uma transformação semelhante, tornando-se um paraíso terrestre,
quando os homens se fizerem bons.
Comentário
de Kardec: É assim que as raças que hoje povoam a Terra
desaparecerão um dia e serão substituídas por seres mais e mais perfeitos.
Essas raças transformadas sucederão à atual, como esta sucedeu a outras que
eram mais grosseiras.
Há mundos em que o Espírito, deixando de viver num corpo material, só tem
por envoltório o perispírito; esse envoltório torna-se de tal maneira etéreo que
para vós é como se não existisse; eis então o estado dos Espíritos puros.
Não existe uma demarcação precisa entre o estado das últimas encarnações
e o do Espírito puro. A diferença se dilui pouco a pouco e se torna
insensível, como a noite se dilui ante as primeiras claridades do dia.
A substância do perispírito não é a mesma em todos os globos; é
mais eterizada em uns do que em outros. Ao passar de um para outro mundo, o
Espírito se reveste da matéria própria de cada um, com mais rapidez, que o
relâmpago.
Os Espíritos
puros habitam determinados mundos, mas não estão confinados a eles como os
homens à Terra; eles podem, melhor que os outros, estar em toda parte.
De todos os
globos que constituem o nosso sistema planetário, segundo os Espíritos, a Terra
é daqueles cujos habitantes são menos adiantados, física e moralmente: Marte
lhe seria ainda inferior e Júpiter muito superior em todos os sentidos.
O Sol não seria um mundo habitado por seres corpóreos, mas um lugar de
encontro de Espíritos superiores, que de lá irradiam seu pensamento para outros
mundos, que dirigem por intermédio de Espíritos menos elevados, com os quais se
comunicam por meio do fluido universal.
Como constituição
física, o Sol seria um foco de eletricidade. Todos os sóis, ao que parece,
estariam nas mesmas condições.
O volume e o afastamento
do Sol não tem nenhuma relação necessária com o grau de desenvolvimento dos
mundos, pois parece que Vênus está mais adiantado que a Terra e Saturno menos
que Júpiter Muitos Espíritos que animaram pessoas conhecidas na Terra disseram
estar reencarnados em Júpiter, um dos mundos mais próximos da perfeição, e é de
admirar que em um[AU1] globo tão
adiantado se encontrem homens que a opinião terrena não considerava tão
elevados. Isto, porém, nada tem de surpreendente, se considerarmos que certos
Espíritos que habitam aquele planeta podiam ter sido enviados à Terra, em
cumprimento de uma missão que, aos nossos olhos, não os colocaria no primeiro
plano; em segundo lugar, entre a sua existência terrena e a de Júpiter, podiam
ter tido outras, intermediárias, nas quais se tivessem melhorado; em terceiro
lugar, naquele mundo, como no nosso, há diferentes graus de desenvolvimento, e
entre esses graus pode haver a distância que separa entre nós o selvagem do
homem civilizado. Assim, o fato de habitarem Júpiter, não se segue que estejam
no nível dos seres mais evoluídos, da mesma maneira que uma pessoa não está no
nível de um sábio do Instituto, pela simples razão de morar em Paris.
As condições de
longevidade não são, por toda parte, as mesmas da Terra, não sendo possível a
comparação de idades. Uma pessoa, falecida há alguns anos, quando evocada,
disse haver encarnado, seis meses antes, num mundo cujo nome é desconhecido.
Interpelada sobre a idade que tinha nesse mundo, respondeu: “Não posso
calcular, porque não contamos o tempo como vós; além disso, o nosso meio de
vida não é o mesmo; desenvolvemo-nos muito mais rapidamente; tanto assim que há
apenas seis dos vossos meses nele me encontro, e posso dizer que, quando à
inteligência, tenho trinta anos de idade terrena.”
Muitas respostas semelhantes
foram dadas por outros Espíritos e nada há nisso de inverossímil. Não vemos na
Terra tantos animais adquirirem em poucos meses um desenvolvimento normal?
Porque não poderia dar-se o mesmo com o homem, em outras esferas? Notemos, por
outro lado, que o desenvolvimento alcançado pelo homem na Terra, na idade de
trinta anos, talvez não seja mais que uma espécie de infância comparado ao que
ele deve atingir. É preciso ter uma visão bem curta para nos considerarmos os
protótipos da criação, e seria rebaixar a Divindade, acreditar que, além de
nós, ele nada mais poderia criar.
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