LIVRO
TERCEIRO
AS
LEIS MORAIS
CAPÍTULO
XII - PERFEIÇÃO MORAL
V- Conhecimento de si mesmo
(Questão 919)´
Um sábio da Antiguidade vos disse: Conhece-te a ti mesmo. Eis o meio
prático mais eficaz para se melhorar nesta vida e resistir ao arrastamento do
mal.
Compreendemos toda a sabedoria dessa máxima, porém a dificuldade está
precisamente em se conhecer a si próprio. Para chegar a isso, fazei o que eu
fazia quando vivi na Terra, disse Santo Agostinho:
“No fim de cada dia interrogava a minha consciência, passava em revista o
que havia feito e me perguntava a mim mesmo se não tinha faltado ao cumprimento
de algum dever, se ninguém teria tido motivos para se queixar de mim. Foi assim
que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim, necessitava de reforma. Aquele que
todas as noites lembrasse todas as ações do dia e se perguntasse o que fez de
bem e de mal, pedindo a Deus e ao seu Anjo Guardião, que o esclarecessem,
adquiriria uma grande força para se aperfeiçoar, porque, acreditai-me: Deus o
assistirá.
Formulai, portanto, as vossas perguntas, indagai o que fizestes e com que
fito agistes em determinadas circunstância, se fizestes alguma coisa que a
censuraríeis nos outros, se praticaste uma ação que não ousaríeis confessar.
Perguntai ainda isto: e aprouvesse a Deus chamar-me nesse momento, ao entrar no
mundo dos espíritos, onde nada é oculto, teria eu de temer o olhar de alguém?
Examinei o que pudésseis ter feito contra Deus, depois contra o próximo, e por
fim contra vôs mesmos. As respostas serão motivo de repouso para vossa
consciência ou indicarão um mal que deve ser curado.
O conhecimento de si mesmo é portanto a chave do melhoramento
individual. Mas, direis, como julgar a
si mesmo? Não se terá a ilusão do amor próprio, que atenua as faltas e as torna
desculpáveis? O avaro se julga simplesmente econômico e previdente, o orgulhoso
se considera tão somente cheio de dignidade. Tudo isso é muito certo, mas
tendes um meio de controle que não vos pode enganar. Quando estais indecisos
quanto ao valor de uma de vossas ações, perguntai como a qualificaríeis se
tivesse sido praticada por outra pessoa. Se a censurardes em outro, ela não
poderia ser mais legítima para vós, porque Deus não usa de duas medidas para a
justiça.
Procurai também saber o que pensam os outros e não negligenciais a
opinião de vossos inimigos, porque eles não têm nenhum interesse em disfarçar a
verdade e realmente Deus os colocou ao vosso lado como um espelho, para vos
advertirem com mais franqueza do que o faria um amigo.
Que aquele que tem a verdadeira vontade de se melhorar explore, portanto,
a sua consciência, a fim de arrancar dali as más tendências como arranca aas
ervas daninhas do seu jardim: que faça o balanço de sua jornada moral como o
negociante o faz de seus lucros e perdas, e eu vos asseguro que o primeiro será
mais proveitoso que o outro. Se ele puder dizer que a sua jornada foi boa, pode
dormir em paz e esperar sem temor o despertar na outra vida.
Formulai portanto, perguntas claras e precisas e não temais
multiplica-las; pode-se muito bem consagrar alguns minutos à conquista da
felicidade eterna. Não trabalhais todos os dias para ajuntar o que vos dê
repouso na velhice? Esse repouso não é o objeto de todos os seus desejos, o
alvo que vos permite sofrer as fadigas e as privações passageiras? Pois bem: o
que é esse repouso de alguns dias, perturbado pelas enfermidades do corpo, ao
lado daquilo que aguarda o homem de bem? Isso não vale a pena de alguns
esforços? Sei que muitos dizem que o presente é positivo e o futuro é incerto.
Ora, aí está, precisamente, o pensamento que fomos encarregados de destruir em
vossas mentes, pois desejamos fazer-vos compreender esse futuro de maneira a
que nenhuma dúvida possa restar em vossa alma. Foi por isso que chamamos
primeiro a vossa atenção para os fenômenos da natureza que vos tocam os
sentidos e depois vos demos instruções que cada um de nós tem o dever de
difundir. Foi com esse propósito que ditamos “O Livro dos Espíritos”. (SANTO
AGOSTINHO)
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