LIVRO
TERCEIRO
AS
LEIS MORAIS
CAPÍTULO
VIII- LEI DO PROGRESSO
III- Povos Degenerados
(Questões 786 à 789)
A História nos mostra uma
multidão de povos que, após terem sido convulsionados, recaíram na barbárie. O
progresso se assemelha à situação a seguir: quando a tua casa
ameaça cair, tu a derrubas para a reconstruir de maneira mais sólida e mais
cômoda; mas, até que ela esteja reconstruída, haverá desarranjos e confusões na
tua moradia.
Compreende isto também; és pobre e
moras num casebre, mas ficas rico e o deixas para morar num palácio. Depois um
pobre diabo, como o eras, vem tomar o teu lugar no casebre e se sente muito
contente, pois antes não possuía um abrigo. Pois
bem, compreende então que os Espíritos encarnados neste povo degenerado não são
mais os que o constituíram nos tempos de sues esplendor. Aqueles, logo que se tornaram mais adiantados,
mudaram-se para habitações mais perfeitas e progrediram, enquanto outros, menos
avançados, tomaram seu lugar, que por sua vez também deixarão.
Há raças rebeldes ao progresso
por sua própria natureza, mas dia a dia elas se aniquilam
corporalmente.
O destino futuro das almas que
animam essas raças é que chegarão à perfeição, como todas
as outras, passando por várias experiências. Deus não deserda ninguém.
Então, os homens mais
civilizados foram selvagens e antropófagos inclusive tu mesmo o foste,
mais de uma vez, antes de seres o que és.
Os povos são individualidades
coletivas que passam pela infância, a idade madura e a decrepitude, como os
indivíduos. Essa verdade constatada pela História nos permite supor que os povos que só
vivem materialmente, cuja grandeza se firma na força e na extensão territorial,
crescem e morrem porque a força de um povo se esgota como a de um homem;
aqueles cujas leis egoístas atentam contra o progresso das luzes e da caridade
morrem porque a luz aniquila as trevas e a caridade mata o egoísmo. Mas há para
os povos, como para os indivíduos, a vida da alma, e aqueles cujas leis se
harmonizam com as leis eternas do Criador viverão e serão o farol dos outros
povos.
O progresso não reunirá um dia
todos os povos da Terra numa só nação, o que é impossível, pois da
diversidade dos climas nascem costumes e necessidades diferentes, que
constituem as nacionalidades. Assim, serão sempre necessárias leis apropriadas
a esses costumes e a essas necessidades.
Mas a caridade não conhece latitudes e não faz
distinção dos homens pela cor. Quando a lei de Deus constituir por toda parte a
base da lei humana, os povos praticarão a caridade de um para o outro, como os
indivíduos de homem para homem, vivendo felizes e em paz, porque ninguém
tentará fazer o mal ao vizinho ou viver às suas expensas.
Comentário
de Kardec: A
Humanidade progride através dos indivíduos que se melhoram pouco a pouco e se
esclarecem; quando estes se tornam numerosos, tomam a dianteira e arrastam os
outros. De tempos em tempos, surgem os homens de gênio que lhes dão um impulso,
e, depois, homens investidos de autoridades, instrumentos de Deus, que em
alguns anos a fazem avançar de muitos séculos.
O progresso dos povos faz ainda
ressaltar a justiça da reencarnação. Os homens de bem fazem louváveis esforços
para ajudar uma nação a avançar moral e intelectualmente; a nação transformada
será mais feliz neste mundo e no outro, compreende-se; mas. Durante a sua
marcha lenta através dos séculos, milhares de indivíduos morrem diariamente, e
qual seria a sorte de todos esses que sucumbem durante o trajeto? Sua inferioridade
relativa os priva da felicidade reservada aos que chegam por último? Ou também a sua felicidade é relativa?
A justiça divina não poderia consagrar semelhante injustiça. Pela pluralidade
das existências, o direito à felicidade é sempre o mesmo para todos, porque
ninguém é deserdado pelo
progresso. Os que viveram no tempo de barbárie, podendo voltar no tempo da
civilização, no mesmo povo ou em outro, é claro que todos se beneficiam da
marcha ascendente.
Mas
o sistema da unidade da existência apresenta neste caso outra dificuldade. Com
esse sistema, a alma é criada no momento do nascimento, de maneira que um homem
é mais adiantado que o outro porque Deus criou para ele uma alma mais
adiantada. Por que esse
favor? Que mérito tem ele, que não viveu mais do que o outro, menos, muitas
vezes, para ser dotado de uma alma superior? Mas essa não é a principal
dificuldade. Uma nação passa, em mil anos, da barbárie à civilização. Se os
homens vivessem mil anos, poderia conceber-se que, nesse intervalo, tivessem
tempo de progredir; mas diariamente morrem criaturas em todas as idades,
renovando-se sem cessar, de maneira que dia a dia as vemos aparecerem e desaparecerem.
No fim de um milênio, não há mais
traços dos antigos habitantes; a nação de bárbara que era tornou-se civilizada;
mas quem foi que progrediu? Os indivíduos outrora bárbaros? Esses já estão
mortos há muito tempo. Os que chegaram por último? Mas se sua alma foi criada no momento
do nascimento, essas almas não existiriam no tempo da barbárie e é necessário admitir, então, que os
esforços desenvolvidos para civilizar um povo têm o poder, não de melhorar as
almas imperfeitas, as de fazer Deus criar outras mais perfeitas.
Comparemos esta teoria do progresso
com a que nos foi dada pelos Espíritos. As almas vindas nos tempos da
civilização tiveram a sua infância, como todas as outras, mas já viveram e
chagam adiantadas em consequência de um progresso anterior; elas vêm atraídas
por um meio que lhes é simpático e que está em relação com o seu estado atual.
Dessa maneira, os cuidados dispensados à civilização de um povo ou não têm por
efeito determinar a criação futura de almas mais perfeitas, mas atrair aquelas
que já progrediram, seja as que já viveram nesse mesmo povo em tempos de
barbárie, seja as que procedem de outra parte. Aí temos, ainda, a chave do
progresso de toda a Humanidade. Quando
todos os povos estiverem no mesmo nível quanto ao sentimento do bem, a Terra só
abrigará bons espíritos, que viverão em união fraterna. Os maus, tendo sido repelidos e
deslocados, irão procurar nos mundos inferiores o meio que lhes convém, até que
se tornem dignos de voltar ao nosso meio transformado. A teoria vulgar tem ainda esta consequência:
os trabalhos de melhoramento social só aproveitam às gerações presentes e
futuras; seu resultado é nulo para as gerações passadas, que cometeram o erro
de chegar muito cedo e só avançaram na medida de suas forças, sob a carga de
seus atos de barbárie. Segundo a doutrina dos Espíritos, os progressos
ulteriores aproveitam igualmente a essas gerações, que revivem nas condições
melhores e podem aperfeiçoar-se no meio da civilização. (Ver item 222.)
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