LIVRO
TERCEIRO
AS
LEIS MORAIS
CAPÍTULO
VIII- LEI DO PROGRESSO
II- Marcha do Progresso
(Questão 779 à 785)
O
homem se desenvolve por si mesmo, naturalmente, mas nem todos progridem ao
mesmo tempo e da mesma maneira; é então que os mais adiantados ajudam os outros
a progredir, pelo contato social.
O progresso intelectual pode conduzir ao progresso
moral dando a compreensão do bem e
do mal, pois então o homem pode escolher. O desenvolvimento do livre-arbítrio
segue-se ao desenvolvimento da inteligência e aumenta a responsabilidade do
homem pelos seus atos.
Quando os povos mais esclarecidos são frequentemente
os mais pervertidos, isso se explica pelo fato que o progresso completo é o alvo a atingir, mas os povos, como os
indivíduos, não chegam a ele senão passo a passo. Até que tenham desenvolvido o
senso moral, eles podem servir-se da inteligência para fazer o mal. A
moral e a inteligência são duas forças que não se equilibram senão com o tempo.
Não é permitido ao homem deter a marcha do progresso, mas pode entravá-la algumas vezes.
Há homens que entravam o progresso de boa-fé,
acreditando favorecê-lo, porque o veem segundo o seu ponto de vista, e
frequentemente onde ele não existe, porém trata-se de uma pequena pedra posta sob a roda de um grande carro sem impedi-lo de
avançar.
O aperfeiçoamento da Humanidade segue quase sempre
uma marcha progressiva e lenta. Há
o progresso regular e lento que resulta da força das coisas; mas quando um
povo não avança bastante rápido, Deus lhe provoca, de tempos em tempos, um
abalo físico ou moral que o transforma.
Comentário de Kardec: Sendo o progresso uma condição da natureza humana, ninguém tem
o poder de se opor a ele. É uma força viva que as más leis podem retardar, mas
não asfixiar. Quando essas leis se tornam de todo incompatíveis com o
progresso, ele as derruba, com todos os que as querem manter, e assim será até
que o homem harmonize as suas leis com a justiça divina, que deseja o bem
para todos, e não as leis feitas para o forte em prejuízo do fraco.
O
homem não pode permanecer perpetuamente na ignorância, porque deve chegar ao
fim determinado pela Providência; ele se esclarece pela própria força das
circunstâncias. As revoluções morais, como as revoluções sociais, se infiltram
pouco a pouco nas ideias, germinam ao longo dos séculos e depois explodem
subitamente, fazendo ruir o edifício carcomido do passado, que não se encontra
mais de acordo com as necessidades novas e as novas aspirações.
O
homem geralmente não percebe, nessas comoções, mais do que a desordem e a
confusão momentâneas, que o atingem nos seus interesses materiais, mas aquele
que eleva o seu pensamento acima dos interesses pessoais admira os desígnios da
Providência que do mal fazem surgir o bem. São a tempestade e o furacão que
saneiam a atmosfera, depois de a haverem revolvido(1).
A perversidade do homem é bastante intensa, e parece
que ele está recuando, em lugar de avançar, pelo menos do ponto de vista moral,
porém não é assim, enganas-te. Observa bem o conjunto e
verás que ele avança, pois vai compreendendo melhor o que é o mal, e dia a dia
corrige os seus abusos. É preciso que haja excesso do mal, para fazer-lhe
compreender as necessidades do bem e das reformas.
O maior obstáculo ao progresso o orgulho e o egoísmo. Quero referir-me ao progresso moral, porque o
intelectual avança sempre. Este aprece, aliás, à primeira vista, duplicar a
intensidade daqueles vícios desenvolvendo a ambição e o amor das riquezas, que
por sua vez incitam o homem às pesquisas que lhe esclarecem o Espírito. É assim
que tudo se relaciona no mundo moral como no físico e que do próprio mal pode
sair o bem. Mas esse estado de coisas durará apenas algum tempo; modificar-se-á
à medida que o homem compreender melhor que, além do gozo dos bens terrenos,
existe uma felicidade infinitamente maior e infinitamente mais durável. (Ver
Egoísmo, cap. XII).
Comentário de Kardec: Há
duas espécies de progresso que mutuamente se apoiam e, entretanto, não marcham
juntas: progresso intelectual e o progresso moral. Entre os povos civilizados,
o primeiro recebe em nosso século todos os estímulos desejáveis e por isso
atingiu um grau até hoje desconhecido. Seria necessário que o segundo estivesse
no mesmo nível. Não obstante, se compararmos os costumes sociais de alguns séculos atrás
com os de hoje, teremos de ser cegos para negar que houve progresso moral. Por
que, pois, a marcha ascendente da moral deveria mostrar-se mais lenta que a da
inteligência? Por que não haveria, entre o século décimo nono e o vigésimo
quarto, tanta diferença nesse terreno como entre o décimo quarto e o décimo
nono? Duvidar disso seria pretender que a Humanidade tivesse atingido o apogeu
da perfeição, o que é absurdo, ou que ela não é moralmente perfectível, o a
experiência desmente.
(1) Como se vê, por este comentário
de Kardec e pelas explicações dos Espíritos a que ele se refere, o Espiritismo
reconhece a necessidade desses movimentos periódicos da agitação natural, quer
dos elementos, quer dos povos, para a realização do progresso. Mas os admite
como fatos naturais e não como criações artificiais a que os homens devam
dedicar-se, em obediência a doutrinas revolucionárias. O que ele
ensina é que o homem deve colocar-se, nesses momentos, acima de seus mesquinhos
interesses pessoais, para ver em sua amplitude a marcha irresistível do
progresso, auxiliando-a na medida do possível. (N. do T.)
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