LIVRO
TERCEIRO
AS
LEIS MORAIS
CAPÍTULO
XII - PERFEIÇÃO MORAL
I-
As Virtudes e os Vícios
(Questões 893 à 906)
Todas
as virtudes têm o seu mérito, porque todas são indícios de progresso no
caminho do bem. Há virtude sempre que há resistência voluntária ao
arrastamento das más tendências; mas ti sublimidade da virtude consiste no
sacrifício do interesse pessoal para o bem do próximo, sem
segunda intenção. A mais meritória é aquela que se baseia na caridade
mais desinteressada.
Há pessoas que fazem o bem por um impulso
espontâneo, sem que tenham de lutar com nenhum sentimento contrário. Isso
ocorre porque já realizaram o progresso: lutaram
anteriormente e venceram; é por isso que os bons sentimentos não lhes custam nenhum
esforço e suas ações lhes parecem tão fáceis: o bem tornou-se para eles um
hábito.
Deve-se
honrá-los como a velhos guerreiros que conquistaram suas posições. Como
estais ainda longe da perfeição, esses exemplos vos espantam pelo
contraste e os admirais tanto mais porque são raros. Mas sabei que nos
mundos mais avançados que o vosso, isso que entre vós é exceção se torna
regra.
O
sentimento do bem se encontra por toda parte e de maneira espontânea,
porque são mundos habitados somente por bons Espíritos e uma única
intenção má seria neles uma exceção monstruosa. Eis porque os homens ali
são felizes e assim será também na Terra, quando a Humanidade se houver transformado
e quando compreender e praticar a caridade na sua verdadeira acepção.
O indício mais característico da imperfeição é o interesse pessoal. As qualidades morais são geralmente como
a douração de um objeto de cobre, que não resiste à pedra de toque. Um
homem pode possuir qualidades reais que a fazem para o mundo um homem de
bem; mas essas qualidades, embora representem um progresso, não suportam
em geral a certas provas, e basta ferir a tecla do interesse pessoal para
se descobrir a fundo. O verdadeiro desinteresse, é de fato tão raro na
Terra que se pode admirá-lo como a um fenômeno, quando ele se apresenta. O
apego às coisas materiais é um indício notório de inferioridade, pois,
quanto mais o homem se apega aos bens deste mundo, menos compreende o seu
destino. Pelo desinteresse, ao contrário, ele prova que vê o futuro de um
ponto de vista mais elevado.
Há pessoas desinteressadas, mas sem discernimento,
que prodigalizam os seus haveres sem proveito real, por não saberem empregá-los
de maneira razoável. Têm o mérito do desinteresse mas não
o do bem que poderiam fazer. Se o desinteresse é uma virtude, a prodigalidade
irrefletida é sempre, pelo menos uma falta de juízo.
A
fortuna não é dada a alguns para ser lançada ao vento como não o é a
outros para ser encerrada num cofre. E um depósito de que terão de prestar
contas, porque terão de responder por todo o bem que poderiam ter feito e
não o fizeram: por todas as lágrimas que poderiam ter enxugado com o
dinheiro dado aos que na verdade não estavam necessitados.
Aquele que faz o bem sem visar a uma recompensa na
Terra, mas na esperança de que lhe seja levado em conta na outra vida e que
nessa a sua posição seja melhor, é repreensível, e esse pensamento prejudica o seu adiantamento.
É necessário fazer o bem por caridade,
ou seja, com desinteresse.
Mas cada um tem o desejo muito natural de progredir
para sair da situação penosa desta vida. Os Espíritos nos ensinam a praticar o
bem com esse fim. Não é exatamente um mal pensar que pela prática do bem se
pode esperar uma situação melhor. Mas
aquele que faz o bem sem segunda intenção, pelo prazer único de ser
agradável a Deus e ao seu próximo sofredor, já se encontra num grau de
adiantamento que lhe permitirá chegar mais rapidamente à felicidade do que
o seu irmão que, mais positivo, faz o bem por cálculo e não pelo impulso
natural do coração.
Perfazer
o bem queremos dizer ser caridoso. Aquele que calcula o que lhe pode
render cada uma de suas boas ações, na outra vida ou na vida terrena,
procede de maneira egoísta. Mas não há nenhum egoísmo em se melhorar com
vistas de se aproximar de Deus, pois esse é o objetivo de todos.
Desde que a vida corpórea é apenas uma efêmera
passagem por este mundo, e que o nosso futuro deve ser a nossa principal
preocupação, é útil esforçar-nos por adquirir conhecimentos científicos que se
referem somente às coisas e necessidades materiais. Primeiro, isso vos torna capazes de aliviar os vossos irmãos; depois,
vosso Espírito se elevará mais depressa se houver progredido intelectualmente.
No
intervalo das encarnações, aprendereis em uma hora aquilo que na Terra
demandaria anos. Nenhum conhecimento é inútil; todos contribuem mais ou
menos para o adiantamento, porque o Espírito perfeito deve saber tudo e,
devendo o progresso realizar-se em todos os sentidos, todas as ideias
adquiridas ajudam o desenvolvimento do Espírito.
De dois homens ricos, um nasceu na opulência e
jamais conheceu a necessidade; o outro deve a sua fortuna ao seu próprio trabalho;
e todos os dois a empregam exclusivamente em sua satisfação pessoal. O mais
culpado foi aquele que conheceu o sofrimento. Ele sabe o
que é sofrer. Conhece a dor que não alivia, mas como geralmente acontece, nem
se lembra mais dela.
Aquele que acumula sem cessar e sem beneficiar a
ninguém assume um compromisso de má consciência.
De dois avarentos, o primeiro se priva do necessário
e morre de necessidades sobre o seu tesouro; o segundo é avaro só para os
demais e pródigo para consigo mesmo; enquanto recua diante do mais ligeiro
sacrifício para prestar um serviço ou fazer uma coisa útil, nada lhe parece
muito para satisfazer aos seus gostos e às suas paixões. Pecam-lhe um favor, e
estará sempre de má vontade; ocorra-lhe, porém, uma fantasia, e estará sempre
pronto a satisfazê-la. Qual deles é o mais culpável e qual terá o pior lugar no
mundo dos Espíritos? Aquele que goza. É mais egoísta do
que avarento. O outro já recebeu uma parte de sua punição.
.
Não é repreensível cobiçar a riqueza com o desejo de
praticar o bem. O sentimento é louvável, sem dúvida,
quando puro. Mas esse desejo é sempre bastante desinteressado? Não trará
oculta uma segunda intenção pessoal? A primeira pessoa a quem se deseja
fazer o bem não será muitas vezes a nossa? Precisamos refletir as
verdadeiras intenções.
Quando estudamos os defeitos alheios com o fito de os criticar e divulgar, há muita culpa, porque isso é
faltar com a caridade. Se é com intenção de proveito pessoal,
evitando-se aqueles defeitos, pode ser útil. Mas não se deve esquecer que
a indulgência para com os defeitos alheios é uma das virtudes
compreendidas na caridade. Antes de censurar as imperfeições dos outros,
vede se não podem fazer o mesmo a vosso respeito. Tratai, pois, de possuirás qualidades contrarias aos defeitos que
criticais nos outros. Esse é um meio
de vos tomardes superiores.
Se
os censurais por serem avarentos, sede generosos; por serem duros, sede dóceis-
por agirem com mesquinhez, sede grandes em todas as vossas ações. Em uma
palavra, fazei de maneira que não vos possam aplicar aquelas palavras de
Jesus: “Vedes um argueiro no olho do vizinho e não vedes uma trave no
vosso”.
Ser ou não culpado o que sonda os males da sociedade
e os desvenda depende do sentimento que o leva
afazê-lo. Se o escritor só quer fazer escândalo, é um prazer pessoal que se
proporciona, apresentando quadros que são, em geral, antes um mau do que um bom
exemplo. O Espírito faz uma apreciação mas pode ser punido por essa
espécie de prazer que sente em revelar o mal.
Nem sempre é útil julgar a pureza das intenções e a
sinceridade do escritor.
Se
ele escreve boas coisas, procura aproveitá-las; se escreve más, e uma questão
de consciência que a ele diz respeito. De resto, se ele quer provar a sua sinceridade, cabe-lhe apoiar os preceitos
no seu próprio exemplo.
Alguns autores publicaram obras muito belas e
moralmente elevadas, que ajudam o progresso da Humanidade, mas das quais eles
mesmos não tiraram proveito. A moral
sem ações é como a semente sem o trabalho. De que vos serve a semente se
não a fizerdes frutificar pura vos alimentar? Esses homens são mais
culpáveis porque tinham inteligência para compreender; não praticando as
máximas que ofereciam aos outros, renunciaram a colher os seus frutos.
Não é
repreensível aquele que, fazendo conscientemente o bem, reconhece que o faz. Desde que pode ter consciência do mal que fizer, deve tê-la
igualmente do bem, a fim de saber se age bem ou mal. É pesando todas as suas ações na balança da lei de Deus, e
sobretudo na da lei de justiça, de amor e de caridade, que ele poderá
dizer a si mesmo se as suas ações são boas ou más e aprová-las ou
desaprová-las. Não pode, pois, ser responsabilizado por reconhecer que
triunfou das más tendências e de estar satisfeito por isso, desde que
não se envaideça, com o que cairia em outra falta.
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