domingo, 23 de novembro de 2014

I- As Virtudes e os Vícios- O Livro dos Espíritos, Allan Kardec-LIVRO TERCEIRO -CAPÍTULO XII -PERFEIÇÃO MORAL

LIVRO TERCEIRO
AS LEIS MORAIS
CAPÍTULO XII -  PERFEIÇÃO MORAL
I-           As Virtudes e os Vícios
(Questões 893 à 906)

Todas as virtudes têm o seu mérito, porque todas são indícios de progresso no caminho do bem. Há virtude sempre que há resistência voluntária ao arrastamento das más tendências; mas ti sublimidade da virtude consiste no sacrifício do interesse pessoal para o bem do próximo, sem segunda intenção. A mais meritória é aquela que se baseia na caridade mais desinteressada.

Há pessoas que fazem o bem por um impulso espontâneo, sem que tenham de lutar com nenhum sentimento contrário. Isso ocorre porque já realizaram o progresso: lutaram anteriormente e venceram; é por isso que os bons sentimentos não lhes custam nenhum esforço e suas ações lhes parecem tão fáceis: o bem tornou-se para eles um hábito.

Deve-se honrá-los como a velhos guerreiros que conquistaram suas posições. Como estais ainda longe da perfeição, esses exemplos vos espantam pelo contraste e os admirais tanto mais porque são raros. Mas sabei que nos mundos mais avançados que o vosso, isso que entre vós é exceção se torna regra.

O sentimento do bem se encontra por toda parte e de maneira espontânea, porque são mundos habitados somente por bons Espíritos e uma única intenção má seria neles uma exceção monstruosa. Eis porque os homens ali são felizes e assim será também na Terra, quando a Humanidade se houver transformado e quando compreender e praticar a caridade na sua verdadeira acepção.

O indício mais característico da imperfeição é o interesse pessoal. As qualidades morais são geralmente como a douração de um objeto de cobre, que não resiste à pedra de toque. Um homem pode possuir qualidades reais que a fazem para o mundo um homem de bem; mas essas qualidades, embora representem um progresso, não suportam em geral a certas provas, e basta ferir a tecla do interesse pessoal para se descobrir a fundo. O verdadeiro desinteresse, é de fato tão raro na Terra que se pode admirá-lo como a um fenômeno, quando ele se apresenta. O apego às coisas materiais é um indício notório de inferioridade, pois, quanto mais o homem se apega aos bens deste mundo, menos compreende o seu destino. Pelo desinteresse, ao contrário, ele prova que vê o futuro de um ponto de vista mais elevado.

Há pessoas desinteressadas, mas sem discernimento, que prodigalizam os seus haveres sem proveito real, por não saberem empregá-los de maneira razoável. Têm o mérito do desinteresse mas não o do bem que poderiam fazer. Se o desinteresse é uma virtude, a prodigalidade irrefletida é sempre, pelo menos uma falta de juízo.

A fortuna não é dada a alguns para ser lançada ao vento como não o é a outros para ser encerrada num cofre. E um depósito de que terão de prestar contas, porque terão de responder por todo o bem que poderiam ter feito e não o fizeram: por todas as lágrimas que poderiam ter enxugado com o dinheiro dado aos que na verdade não estavam necessitados.

Aquele que faz o bem sem visar a uma recompensa na Terra, mas na esperança de que lhe seja levado em conta na outra vida e que nessa a sua posição seja melhor, é repreensível, e esse pensamento prejudica o seu adiantamento. É necessário fazer o bem por caridade, ou seja, com desinteresse.

Mas cada um tem o desejo muito natural de progredir para sair da situação penosa desta vida. Os Espíritos nos ensinam a praticar o bem com esse fim. Não é exatamente um mal pensar que pela prática do bem se pode esperar uma situação melhor. Mas aquele que faz o bem sem segunda intenção, pelo prazer único de ser agradável a Deus e ao seu próximo sofredor, já se encontra num grau de adiantamento que lhe permitirá chegar mais rapidamente à felicidade do que o seu irmão que, mais positivo, faz o bem por cálculo e não pelo impulso natural do coração. 
Perfazer o bem queremos dizer ser caridoso. Aquele que calcula o que lhe pode render cada uma de suas boas ações, na outra vida ou na vida terrena, procede de maneira egoísta. Mas não há nenhum egoísmo em se melhorar com vistas de se aproximar de Deus, pois esse é o objetivo de todos.

Desde que a vida corpórea é apenas uma efêmera passagem por este mundo, e que o nosso futuro deve ser a nossa principal preocupação, é útil esforçar-nos por adquirir conhecimentos científicos que se referem somente às coisas e necessidades materiais. Primeiro, isso vos torna capazes de aliviar os vossos irmãos; depois, vosso Espírito se elevará mais depressa se houver progredido intelectualmente.

No intervalo das encarnações, aprendereis em uma hora aquilo que na Terra demandaria anos. Nenhum conhecimento é inútil; todos contribuem mais ou menos para o adiantamento, porque o Espírito perfeito deve saber tudo e, devendo o progresso realizar-se em todos os sentidos, todas as ideias adquiridas ajudam o desenvolvimento do Espírito.

De dois homens ricos, um nasceu na opulência e jamais conheceu a necessidade; o outro deve a sua fortuna ao seu próprio trabalho; e todos os dois a empregam exclusivamente em sua satisfação pessoal. O mais culpado foi aquele que conheceu o sofrimento. Ele sabe o que é sofrer. Conhece a dor que não alivia, mas como geralmente acontece, nem se lembra mais dela. 

Aquele que acumula sem cessar e sem beneficiar a ninguém assume um compromisso de má consciência.

De dois avarentos, o primeiro se priva do necessário e morre de necessidades sobre o seu tesouro; o segundo é avaro só para os demais e pródigo para consigo mesmo; enquanto recua diante do mais ligeiro sacrifício para prestar um serviço ou fazer uma coisa útil, nada lhe parece muito para satisfazer aos seus gostos e às suas paixões. Pecam-lhe um favor, e estará sempre de má vontade; ocorra-lhe, porém, uma fantasia, e estará sempre pronto a satisfazê-la. Qual deles é o mais culpável e qual terá o pior lugar no mundo dos Espíritos? Aquele que goza. É mais egoísta do que avarento. O outro já recebeu uma parte de sua punição.
                             .
Não é repreensível cobiçar a riqueza com o desejo de praticar o bem. O sentimento é louvável, sem dúvida, quando puro. Mas esse desejo é sempre bastante desinteressado? Não trará oculta uma segunda intenção pessoal? A primeira pessoa a quem se deseja fazer o bem não será muitas vezes a nossa? Precisamos refletir as verdadeiras intenções.


Quando estudamos os defeitos alheios com o fito de os criticar e divulgar, há muita culpa, porque isso é faltar com a caridade. Se é com intenção de proveito pessoal, evitando-se aqueles defeitos, pode ser útil. Mas não se deve esquecer que a indulgência para com os defeitos alheios é uma das virtudes compreendidas na caridade. Antes de censurar as imperfeições dos outros, vede se não podem fazer o mesmo a vosso respeito. Tratai, pois, de possuirás qualidades contrarias aos defeitos que criticais nos outros. Esse é um meio de vos tomardes superiores.

  Se os censurais por serem avarentos, sede generosos; por serem duros, sede dóceis- por agirem com mesquinhez, sede grandes em todas as vossas ações. Em uma palavra, fazei de maneira que não vos possam aplicar aquelas palavras de Jesus: “Vedes um argueiro no olho do vizinho e não vedes uma trave no vosso”.   
    
Ser ou não culpado o que sonda os males da sociedade e os desvenda depende do sentimento que o leva afazê-lo. Se o escritor só quer fazer escândalo, é um prazer pessoal que se proporciona, apresentando quadros que são, em geral, antes um mau do que um bom exemplo. O Espírito faz uma apreciação mas pode ser punido por essa espécie de prazer que sente em revelar o mal.

Nem sempre é útil julgar a pureza das intenções e a sinceridade do escritor.
Se ele escreve boas coisas, procura aproveitá-las; se escreve más, e uma questão de consciência que a ele diz respeito. De resto, se ele quer provar a sua sinceridade, cabe-lhe apoiar os preceitos no seu próprio exemplo.

Alguns autores publicaram obras muito belas e moralmente elevadas, que ajudam o progresso da Humanidade, mas das quais eles mesmos não tiraram proveito. A moral sem ações é como a semente sem o trabalho. De que vos serve a semente se não a fizerdes frutificar pura vos alimentar? Esses homens são mais culpáveis porque tinham inteligência para compreender; não praticando as máximas que ofereciam aos outros, renunciaram a colher os seus frutos.


 Não é repreensível aquele que, fazendo conscientemente o bem, reconhece que o faz. Desde que pode ter consciência do mal que fizer, deve tê-la igualmente do bem, a fim de saber se age bem ou mal. É pesando todas as suas ações na balança da lei de Deus, e sobretudo na da lei de justiça, de amor e de caridade, que ele poderá dizer a si mesmo se as suas ações são boas ou más e aprová-las ou desaprová-las. Não pode, pois, ser responsabilizado por reconhecer que triunfou das más tendências e de estar satisfeito por isso, desde que não se envaideça, com o que cairia em outra falta.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário