LIVRO
TERCEIRO
AS
LEIS MORAIS
CAPÍTULO
X - LEI DE LIBERDADE
II-
Escravidão
(Questões 829 à 832)
Não há homens naturalmente destinados a
ser propriedade de outros homens, pois que toda
sujeição absoluta de um homem a outro é contrária à lei de Deus.
A
escravidão é um abuso da força que desaparecerá com o progresso, como
pouco a pouco desaparecerão todos os abusos.
Comentário de Kardec: A lei humana que estabelece a escravidão é uma lei contra a
natureza, pois assemelha o homem ao bruto e o degrada moral e fisicamente.
Quando a escravidão pertence aos costumes de um
povo, são repreensíveis os que a praticam, ainda que sigam um uso que lhes
parece natural, pois o mal é sempre o mal. Todos os vossos
sofismas não farão que uma ação má se torne boa. Mas a responsabilidade do
mal é relativa aos meios de que dispondes para o compreender.
Aquele
que se serve da lei da escravidão é sempre culpável de uma violação da lei
natural; mas nisso, como em todas as coisas, a culpabilidade é relativa.
Sendo a escravidão um costume entre certos povos, o homem pode praticá-la
de boa-fé, como uma coisa que lhe parece natural. Mas desde que a sua
razão, mais desenvolvida e sobretudo esclarecida pelas luzes do
Cristianismo, lhe mostrou no escravo um seu igual perante Deus, ele não
tem mais desculpas.
A desigualdade natural das aptidões coloca certas
raças humanas sob a dependência das raças inteligentes, para as elevar e não para as embrutecer ainda mais na escravidão.
Os
homens têm considerado, há muito, certas raças humanas como animais
domesticáveis, munidos de braços e de mãos, e se julgaram no direito de
vender os seus membros como bestas de carga. Consideram-se de sangue mais
puro. Insensatos, que não enxergam além da matéria! Não é o sangue que
deve ser mais ou menos puro, mas o Espírito.
Aqueles homens que tratam os seus escravos com
humanidade, que nada lhes deixam faltar e pensam que a liberdade os exporia a
mais privações, digo que compreendem melhor os seus
interesses. Eles têm também muito cuidado com os seus bois e os seus
cavalos, a fim de tirarem mais proveito no mercado. Não são culpados como
os que os maltratam, mas nem por isso deixam de usá-los como mercadorias,
privando-os do direito de se pertencerem a si mesmos.
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