LIVRO
TERCEIRO
AS
LEIS MORAIS
CAPÍTULO
XI - LEI DE JUSTIÇA, AMOR E CARIDADE
III- Caridade e Amor ao Próximo
(Questões 886 à 889)
O verdadeiro sentido da palavra caridade, como
a entendia Jesus, é a Benevolência para com todos,
indulgência para as imperfeições alheias, perdão das ofensas.
Comentário de Kardec: O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, porque
amar ao próximo é fazer-lhe todo o bem possível, que desejaríamos que nos fosse
feito. Tal é o sentido das palavras de Jesus: “Amai-vos uns aos outros, como
irmãos”.
A
caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, mas abrange todas as
relações com os nossos semelhantes, quer se trate de nossos inferiores, iguais
ou superiores.
Ela
nos manda ser indulgentes, porque temos necessidade de indulgência, e nos
proíbe humilhar o infortúnio, ao contrário do que comumente se pratica.
Se
um rico na procura, atendemo-lo com excesso de consideração e atenção, mas se é
um pobre, parece que não nos devemos incomodar com ele. Quanto mais,
entretanto, sua posição é lastimável, mais devemos temer aumentar-lhe a
desgraça pela humilhação.
O
homem verdadeiramente bom procura elevar o inferior aos seus próprios olhos,
diminuindo a distância entre ambos.
Jesus
ensinou ainda: “Amai aos vossos inimigos”. Sem
dúvida não se pode ter, para com os inimigos, um amor terno e apaixonado. E não
foi isso que ele quis dizer. Amar aos inimigos é perdoá-los e pagar-lhes o
mal com o bem. É assim que nos tornamos superiores; pela vingança nos
colocamos abaixo deles.
Quanto à esmola, o
homem reduzido a pedir esmolas se degrada moral e fisicamente: se
embrutece. Numa sociedade baseada na lei de Deus e na justiça,
deve-se prover a vida do fraco, sem humilhação para ele. Deve-se
assegurar a existência dos que não podem trabalhar sem deixá-los à
mercê do acaso e da boa vontade.
A esmola não é condenada, pois não é a esmola que é censurável, mas quase sempre a maneira
por que ela é dada. O homem de bem, que compreende a caridade segundo
Jesus, vai ao encontro do desgraçado sem esperar que ele lhe estenda a
mão.
A
verdadeira caridade é sempre boa e benevolente; tanto está no ato quanto
na maneira de fazê-la. Um serviço
prestado com delicadeza tem duplo valor; se o for com altivez, a
necessidade pode fazê-lo aceito, mas o coração mal será tocado.
Lembrai-vos
ainda de que a ostentação apaga aos olhos de Deus o mérito do benefício.
Jesus disse: “Que a vossa mão esquerda ignore o que faz a direita”. Com
isso, ele vos ensina a não manchar a caridade pelo orgulho.
É
necessário distinguir a esmola propriamente dita da beneficência. O mais
necessitado nem sempre é o que pede: o temor da humilhação retém o verdadeiro
pobre, que quase sempre sofre sem se queixar. É a esse que o homem
verdadeiramente humano sabe assistir sem ostentação.
Amai-vos
uns aos outros, eis toda lei, divina lei pela qual Deus governa os mundos.
O amor é a lei de atração para os seres vivos e organizados, e a atração é
a lei de amor para a matéria inorgânica.
Não
olvideis jamais que o Espírito, qualquer que seja o seu grau de adiantamento,
sua situação como reencarnado ou na erraticidade, esta sempre colocado
entre um superior que o guia e aperfeiçoa e um inferior perante o qual tem
deveres iguais a cumprir.
Sede,
portanto, caridosos, não somente dessa caridade que vos leva a tirar do
bolso o óbolo que friamente atirais ao que ousa pedir-vos, mas ide ao
encontro das misérias ocultas. Sede indulgentes para com os erros dos
vossos semelhantes. Em lugar de desprezar a ignorância e o vício, instruí-os
e moralizai-os. Sede afáveis e benevolentes para com todos os que vos são
inferiores; sede-o mesmo para com os mais ínfimos seres da Criação, e
tereis obedecido à lei de Deus. (São Vicente de Paulo.)
Os homens reduzidos à mendicidade o são por sua
própria culpa. Mas se uma boa educação moral lhes
tivesse ensinado a lei de Deus, não teriam caído nos excessos que os
levaram à perda. E é disso, sobretudo, que depende o melhoramento do vosso
globo.
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