sábado, 15 de novembro de 2014

I- Justiça e Direito Natural - O Livro dos Espíritos, Allan Kardec-LIVRO TERCEIRO -CAPÍTULO XI -LEI DE JUSTIÇA, AMOR E CARIDADE

LIVRO TERCEIRO
AS LEIS MORAIS
CAPÍTULO XI -  LEI DE JUSTIÇA, AMOR E CARIDADE

(Questões 873 à 879)

O sentimento de justiça é de tal modo que vos revoltais com o pensamento de uma injustiça. O progresso moral desenvolve sem dúvida esse sentimento, mas não o dá: Deus o pôs no coração do homem. Eis porque encontrais frequentemente, entre os homens simples e primitivos, noções mais exatas de justiça do que entre pessoas de muito saber.

Sendo a justiça uma lei natural, quando os homens a entendam de maneiras tão diferentes, que um considere justo o que a outro parece injusto, isso se explica porque em geral se misturam paixões ao julgamento, alterando esse sentimento, como acontece com a maioria dos outros sentimentos naturais e fazendo ver as coisas sob um falso ponto de vista.

A justiça consiste no respeito aos direitos de cada um. Os direitos de cada um são determinados por duas coisas: a lei humana e a lei natural. Tendo os homens feito leis apropriadas aos seus costumes e ao seu caráter, essas leis estabeleceram direitos que podem variar com o progresso.

Vede se as vossas leis de hoje, sem serem perfeitas, consagram os mesmos direitos que as da Idade Média. Esses direitos superados, que vos parecem monstruosos, pareciam justos e naturais naquela época. O direito dos homens, portanto, nem sempre é conforme à justiça. Só regula algumas relações sociais, enquanto na vida privada há uma infinidade de atos que. São de competência exclusiva do tribunal da consciência.

Fora do direito consagrado pela lei humana, a base da justiça fundada sobre a lei natural está nas palavras do Cristo:

 “Querer para os outros o que quereis para vós mesmos”. Deus pôs no coração do homem a regra de toda a verdadeira justiça, pelo desejo que tem cada um de ver os seus direitos respeitados. Na incerteza do que deve fazer para o semelhante, em dada circunstância, que o homem pergunte a si mesmo como desejaria que agissem com ele. Deus não poderia dar um guia mais seguro que a sua própria consciência.

Comentário de Kardec:  O critério da verdadeira justiça é de fato o de se querer para os outros aquilo que se quer para si mesmo, e não de querer para si o que se deseja para os outros, o que não é a mesma coisa. Como não é natural que se queira o próprio mal, se tomarmos o desejo pessoal por norma ou ponto de partida, podemos estar certos de jamais desejar ao próximo senão o bem. Desde todos os tempos e em todas as crenças, o homem procurou sempre fazer prevalecer o seu direito pessoal. O sublime da religião crista foi tomar o direito pessoal por base do direito do próximo.

A necessidade de viver em sociedade acarreta para o homem obrigações particulares, e a primeira de todas é a de respeitar os direitos dos semelhantes; aquele que respeitar esses direitos será sempre justo.

No vosso mundo, onde tantos homens não praticam a lei de justiça, cada um usa de represálias e vem daí a perturbação e a confusão da vossa sociedade. A vida social dá direitos e impõe deveres recíprocos.

O homem pode iludir-se quanto à extensão do seu direito, porém, o que pode fazer que ele conheça os seus limites são próprios limites do direito que reconhece para o seu semelhante em relação a ele, na mesma circunstância e de maneira recíproca.

Os direitos naturais são os mesmos para todos os homens, desde o menor até o maior. Deus não fez uns de limo mais puro que outros e todos são iguais perante ele. Esses direitos são eternos; os estabelecidos pelos homens perecem com as instituições. De resto, cada qual sente bem a sua força ou a sua fraqueza, e saberá ter sempre uma certa deferência para aquele que o merecer, por sua virtude e seu saber. E importante assinalar isto, para que os que se julgam superiores conheçam os seus deveres e possam merecer essas deferências. A subordinação não estará comprometida, quando a autoridade for conferida à sabedoria.
    
O caráter do homem que praticasse a justiça em toda a sua pureza seria o do verdadeiro, justo, a exemplo de Jesus; porque praticaria também o amor ao próximo e a caridade, sem os quais não há a verdadeira justiça.


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