LIVRO
TERCEIRO
AS
LEIS MORAIS
CAPÍTULO
VI- LEI DE DESTRUIÇÃO
II-
Flagelos Destruidores
(Questão 737 a 741)
Deus castiga a Humanidade com flagelos destruidores
com a finalidade de fazê-la avançar mais depressa. Não
dissemos que a destruição é necessária para a regeneração moral dos
Espíritos, que adquirem em cada nova existência um novo grau de perfeição?
E necessário ver o fim para apreciaras resultados. Só julgais essas coisas
do vosso ponto de vista pessoal, e as chamais de flagelos por causa dos
prejuízos que vos causam; mas esses transtornos são frequentemente
necessários para fazer com que as coisas cheguem mais prontamente a uma
ordem melhor, realizando-se em alguns anos o que necessitaria de muitos
séculos(1).
Deus também emprega diariamente, para melhorar a
Humanidade, outros meios que não os flagelos destruidores, pois deu a cada um os meios de progredir pelo conhecimento do bem e
do mal. E o homem que não os aproveita; então, é necessário castigá-lo em
seu orgulho e fazê-lo sentir a própria fraqueza.
Durante
a vida, o homem relaciona tudo a seu corpo, mas, após a morte, pensa de
outra maneira. Como já dissemos, a vida do corpo é um quase nada; um
século de vosso mundo é um relâmpago na
Eternidade. Os sofrimentos que duram alguns dos vossos meses ou dias,
nada são. Apenas um ensinamento que vos servirá no futuro. Os Espíritos que
preexistem e sobrevivem a tudo, eis o mundo real. São eles os filhos
de Deus e o objeto de sua solicitude. Os corpos não são mais que disfarces
sob os quais aparecem no mundo. Nas grandes calamidades que dizimam os
homens, eles são como um exército que, durante a guerra, vê os seus
uniformes estragados, rotos ou perdidos. O general tem mais cuidado com os
soldados do que com as vestes.
Se
considerássemos a vida no que ela é, e quanto é insignificante em relação ao
infinito, menos importância lhe daríamos. Essas vítimas desses flagelos,
terão noutra existência uma larga compensação para os seus sofrimentos,
se souberem suportá-los sem lamentar.
Comentário
de Kardec: Quer a morte se verifique por um flagelo ou por uma causa
ordinária, não se pode escapar a ela quando soa a hora da partida: a única
diferença é que no primeiro caso parte um grande número ao mesmo tempo.
Se
pudéssemos elevar-nos pelo pensamento de maneira a abranger toda a Humanidade
numa visão única, esses flagelos tão terríveis não nos pareceriam mais do que tempestades
passageiras no destino do mundo.
Esses flagelos destruidores têm utilidade do ponto
de vista físico, malgrado os males que ocasionam, pois que eles modificam algumas vezes o estado de uma região; mas o bem que
deles resulta só é geralmente sentido pelas gerações futuras.
Os
flagelos são provas que proporcionam ao homem a ocasião de exercitar a
inteligência, de mostrar a sua paciência e a sua resignação ante a vontade
de Deus, ao mesmo tempo que lhe permitem desenvolver os sentimentos de abnegação,
de desinteresse próprio e de amor ao próximo, se ele não for dominado pelo
egoísmo.
Em parte, é dado ao homem conjurar os flagelos que o
afligem, mas não como geralmente se pensa.
Muitos flagelos são as consequências de sua própria imprevidência. Á
medida que ele adquire conhecimentos e experiências, pode conjurá-los, quer
dizer, preveni-los, se souber pesquisar-lhes as causas. Mas entre os males que
afligem a Humanidade, há os que são de natureza geral e pertencem aos
desígnios da Providência. Desses, cada indivíduo recebe, em menor ou maior
proporção, a parte que lhe cabe, não lhe sendo possível opor nada mais que
a resignação à vontade de Deus. Mas ainda esses males são geralmente
agravados pela indolência do homem.
Comentário
de Kardec: Entre os flagelos
destruidores, naturais e independentes do homem, devem ser colocados em
primeira linha a peste, a fome, as inundações, as intempéries fatais à produção
da terra. Mas o homem não achou na Ciência, nos trabalhos de arte, no
aperfeiçoamento da agricultura, nos afolhamentos e nas irrigações, no estudo
das condições higiênicas, os meios de neutralizar ou pelo menos de atenuar
tantos desastres? Algumas regiões antigamente devastadas por terríveis flagelos
não estão hoje resguardadas? Que não fará o homem, portanto, pelo seu bem-estar
material, quando souber aproveitar todos os recursos da sua inteligência e
quando, ao cuidado da sua preservação pessoal, souber aliar o sentimento de uma
verdadeira caridade para com os semelhantes?
(1) Esta resposta coloca de
maneira bem clara o problema dos “saltos” da Natureza, de que tratamos em nota
anterior. “O salto qualitativo” a que se refere a dialética marxista, e que
para alguns contradiz a ordem evolutiva da doutrina espírita, é exatamente essa
espécie de “transtornos” que apressam o desenvolvimento. Como se vê, o
Espiritismo reconhece a existência e a necessidade desses “transtornos”, mas
integrados no processo geral da evolução, não os admitindo como quebra desse
processo. (N. do T.)
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