Um olhar amoroso sobre o mal do outro
O olhar moral enviesado sobre o mundo pode nos afastar da visão de totalidade e da percepção do significado espiritual pleno da vida.
Tanto quanto o viés permissivo sobre o mundo, assim como o olhar pesado e pecaminoso que se tenha, contribuem para o atraso moral do planeta.
Nem sempre nosso estado de espírito permite-nos a percepção desejada quando observamos as atitudes humanas.
Quando nos detemos na análise, por exemplo, de um vício de alguém e o fazemos numa perspectiva moralista, vendo-o como um mal em si, desconectado da totalidade existencial do indivíduo, poderemos atingir somente a superficialidade do problema.
Além da consideração do vício, que é considerado como um ‘mal’, há a qualidade evolutiva do espírito que a ele se escraviza e que sempre o faz por razões não alcançáveis imediatamente, por ele mesmo ou por qualquer pessoa que se debruce na reflexão do conflito, por mais especialista que seja em entender os problemas humanos.
Devemos lembrar que o ser humano é individual e coletivo ao mesmo tempo, isto é, ele age por seu livre arbítrio e motivação própria, mas também pelas influências que recebe, sejam de seu meio ambiente ou pelas interferências espirituais.
Suas ações não decorrem apenas do momento atual, tampouco apenas de seu passado reencarnatório.
Tudo se conecta, passado, presente e expectativas futuras para que um comportamento tão complexo como um vício se instale.
Nossa visão não se deve limitar a estabelecer o que é bem e o que é mal e a partir daí determinar qual o tratamento para o mal.
Nesse sentido, o Evangelho utilizado apenas com essa finalidade, isto é, de referendar um enquadramento do que é bem e do que é mal, estaria sendo utilizado com uma finalidade muito aquém de suas possibilidades transformadoras.
A claridade de sua essência estaria sendo de alguma forma depreciada. Quando enquadramos as atitudes humanas entre as extremas polaridades de bem e de mal, promovemos falsas sensações de felicidade e de culpa.
Essas sensações serão inevitavelmente atribuídas a Deus ou ao que se imagina opor-Lhe. O Evangelho, nesses casos, será utilizado como uma camisa de força. Os limites ao ser humano são necessários, mas não se devem constituir numa prisão que o impeça de avançar no conhecimento de si mesmo e na sua ascensão espiritual.
Aqueles que se constituem em intérpretes das claridades do Evangelho devem buscar evitar se transformarem em profetas do apocalipse para que não lhe embace a luminosidade que deve conduzir o ser humano à felicidade.
As advertências são válidas e preciosas, visto que alertam aos menos avisados quanto às conseqüências de seus equívocos, porém são igualmente necessárias propostas de aplicabilidade na vida material e em suas rotinas para que não se preguem atitudes exequíveis apenas num mundo imaginário ou que se situe no além.
O vício, o erro ou mesmo alguma atitude inadequada, devem ser considerados como parte de um contexto psíquico maior do que sua ocorrência.
O combate a eles não se deve limitar a advertências punitivas, mas também se estender a levar o indivíduo à reflexão sobre os motivos que levaram a que se instalassem em sua personalidade; que ele identifique o sistema de valores que o leva a classificar suas atitudes como erro.
A profilaxia dos desequilíbrios humanos ou daquilo que o torna infeliz e que gera a ausência de paz, inicia-se na medida que ele desperta para se questionar.
Propor medidas comportamentais para resolver aqueles desequilíbrios é como pular ou saltar um degrau importante da escada natural de crescimento espiritual do ser humano.
Que se curem os males, mas que se questione a si mesmo.
Nesse sentido, o conselho do Cristo no Evangelho de Mateus, capítulo 5, versículo 14, é fundamental ser repensado: – Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte.
Portanto, aquele que tem luz suficiente para iluminar os equívocos alheios deve possuí-la para apontar caminhos exequíveis com o fim de transformá-los em virtudes a partir de seu próprio exemplo.
...Médico, cura-te a ti mesmo;
A personalidade de quem veicula a mensagem do Evangelho sem sombra de dúvidas interfere na forma como esta é veiculada e na interpretação que se lhe dá.
Por mais que a pessoa se esforce em apresentar, através do exemplo pessoal, uma visão pura e límpida, a interpretação sempre conterá algo de particular.
Por esse motivo toda generalização será incompleta.
A interpretação genérica serve para situações típicas, as quais atingirão in- divíduos que passem por semelhante padrão cármico daquele que a expõe. O Cristo propõe que o curador se cure, isto é, que sua fala seja também, e principalmente, dirigida a si mesmo. Seu exemplo pessoal é a verdadeira mensagem que passa, tendo como base o que assimilou da original.
A partir do que entendeu da mensagem Lucas 4:23.que lhe inspira a vida, levará aos outros, de uma forma típica, aplicável aparentemente a todos, mas própria para aqueles que têm carma semelhante ao seu.
Numa família seus membros devem buscar aplicar o que pregam e aquilo que acreditam. Quando não se sintam em condições de fazê-lo devem pedir ajuda aos outros membros a fim de que todos compartilhem de problemas que pertencem a todos.
Omitir os problemas àqueles que podem ajudar é demonstração de insegurança. Em alguns casos é compreensível que certos problemas possam ser omitidos a fim de não expor terceiros, porém deve-se buscar a participação de todo o grupo na solução e discussão de problemas comuns, inclusive das crianças, para que comecem logo cedo a entender a vida.
A fala do Cristo demonstra segurança e autoconfiança em si mesmo. Ele se expôs diante da Sinagoga sem esconder suas capacidades e disse para que veio. Nós devemos colocar em família o que ali estamos fazendo. Devemos ter equilíbrio e auto- determinação suficientes para assumir nossas responsabilidades em família.
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