Valores no lar
Quais os valores que devem nortear a formação de um lar? Aqueles oriundos da religião? Os das tradições familiares vindos dos avós maternos ou paternos? Os do pai? Os da mãe? Os do meio social? Aqueles adquiridos nos livros e filmes televisivos?
Talvez devamos escutar mais o coração e perceber que ele contém uma mensagem divina, gravada pelo Criador da Vida ao nos fazer existir. Raramente conseguimos escutá-la por estarmos demasiadamente ligados ao mundo externo.
Ouvimos muitos sons, prestamos atenção ao mundo para poder dominá-lo, ouvimos as pessoas para compreendê-las, ouvimos nossos pensamentos para ordená-los, mas dificilmente aprendemos a escutar o que vem de nosso íntimo, do coração.
Dali partem as intuições que nos elevam e nos fazem divinos. É de lá que vem a mensagem e os valores que devem nortear nossa caminhada evolutiva. Foi dali que o Cristo retirou sua mensagem de amor.
Escutar esse canto divino pressupõe silêncio, humildade e confiança. A cada momento, em cada segundo de nossa vida ele envia um pulso que permite-nos enxergar melhor o mundo, nos fortalecendo para os desafios que ele promove.
Os valores que devem ser utilizados pelo espírito em suas experiências evolutivas devem conter aqueles que nos legaram nossos antepassados, os que adquirimos no convívio social, os que admitimos pelas relações que estabelecemos com alguém, mas devem receber, sobretudo, o que vem do coração como um recado direto de Deus ao ser humano individualmente.
As religiões nos oferecem importantes balizas orientadoras que nos auxiliam, sobretudo nos momentos de tempestades íntimas. São valiosas contribuições àqueles que necessitam vivenciar aquilo que lhe é sagrado.
Os que se pautam pelas diretrizes luminosas de uma religião devem, dia-a-dia, acrescentar-lhes aquelas que lhe vêm do coração para que se elevem ainda mais.
O maior valor que se deve vivenciar no lar e passar adiante aos filhos é a amorosidade para com os outros, para com a vida, para consigo mesmo e para com Deus.
A sociedade está sempre em mudança de costumes e de valores. Não é diferente na família. Ela passa por transformações mais sutis que aquelas que percebemos na sociedade, cujos meios de comunicação conseguem nos mostrar com mais evidência.
Evoluímos da sociedade tribal, na qual a família vivia para o grupo e não tinha sua identidade, para a urbana que também passa pelo desaparecimento de um status.
No período medieval europeu pode-se notar uma certa conquista de identidade em função da distinção entre nobres e plebeus, mas na idade moderna via-se o declínio da tradição calcada no nome e na riqueza.
A família hoje se constitui mais pela atração entre as pessoas do que pela necessidade de transmitir valores de um deter- minado clã para seus descendentes.
Os problemas de relacionamento, de afetividade, de poder e financeiros são a tônica do mundo moderno.
Os valores a serem passados aos filhos estão em segundo plano ou em nenhum.
A família é o campo de entrada do espírito pelas portas da reencarnação na vida material. Nela ele irá desempenhar papéis importantes para sua vida psíquica e para sua evolução.
Sua mente irá lembrar e consolidar estruturas psicológicas de relevância para sua existência no corpo físico. Com ela o espírito se insere na vida social o que o fará concorrer para o progresso da humanidade. Dessa forma ele se sentirá responsável pelo progresso que ele mesmo experimenta.
Na família o espírito evita o isolamento que contribui para o egoísmo e para a não utilidade da reencarnação, visto que o convívio social proporciona o progresso da humanidade e o aperfeiçoamento pessoal.
Para Deus não há sacrifício necessário que possa ser maior do que o espírito fazer o bem que esteja a seu alcance. O bem para si e para a sociedade.
É na família que o espírito inicia seu processo de auto-ajuda e de colaboração com o progresso social. É em família que o espírito recicla suas emoções e aprende a reconhecê-las como instrumento precioso para sua evolução. Evolui quem aprende a lidar com elas.
Não há um espírito igual a outro como não existe outro Deus se não a inteligência suprema do Universo. Somos singularidades de Deus, gerados pelo seu amor. Existimos para alcançarmos a perfeição. Até lá muitas etapas serão vencidas e muitos desafios ultrapassados. Todos eles através da internalização da capacidade de amar.
Nascemos para a própria glória e para a construção do amor no Universo como a Realização de Deus. Porém, essa glória não se encontra nos lugares de destaque da sociedade nem nos registros de imóveis dos cartórios, nem tampouco nos valores das contas bancárias. Ela se realiza na intimidade do lar que representará o troféu de vitória de quem o constrói.
Certos valores devem ser consolidados em cada pessoa e estabelecidos como normas de convivência para que se alcance o lar desejado.
Valores que não estarão escritos nem precisarão ser verbalizados, visto que se encontram no coração de cada um.
Existem princípios consagrados pela sociedade e inscritos nos códigos religiosos da humanidade que podem nos ser úteis para determinação de tais valores. Princípios como o amor, a caridade, a fé, a fraternidade e a paz são fundamentais e básicos para a compreensão dos reais valores.
Do amor podemos alcançar o sentimento de respeito ao outro. Toda pessoa que se sente respeitada por alguém tem consciência de pertencimento e identidade. Quanto mais respeitamos as pessoas como filhos de Deus, por mais imerecedoras que possam parecer, estaremos contribuindo para o fortalecimento do amor.
Da caridade podemos estabelecer o valor da doação que será fundamental para a conquista da amizade do outro. Quanto mais pudermos renunciar em favor de alguém mais conquistaremos essa pessoa.
Ceder é o princípio que permite a conquista de alguém. Todo ser humano é grato a outro quando percebe neste outro um ato de renúncia em favor de sua felicidade, pois assim a gratidão é despertada.
Da fé podemos extrair a crença no ser humano como capaz de superar seus limites e vencer desafios. Acreditar na capacidade das pessoas auxilia a que elas confiem em si mesmas. As pessoas precisam ser acreditadas, pois assim estimulam o potencial de realização que naturalmente têm.
Da fraternidade extraímos a aproximação e o maior contato com o mundo do outro, no sentido de auxiliar sua compreensão da Vida. Quanto mais nos aproximamos das pessoas, respeitando sua privacidade, mais podemos nos mostrar filhos de um mesmo Pai, irmãos em humanidade.
Da paz extraímos a capacidade de ouvir o outro. Ouvir as pessoas significa dar-lhes o direito de se mostrarem e de fazer parte de nosso mundo. Cada vez mais as pessoas querem falar, porém cada vez menos encontramos escutadores. Escutar é sair de si e destinar a atenção ao outro.
Além dos valores que a sociedade nos oferece devemos cultivar o respeito, a doação, a crença no outro, a aproximação e a audição ao próximo.
Os valores que passamos àqueles que convivem conosco na família não se transmitem apenas pelas palavras que lhes dirigimos ou atos que praticamos, mas principalmente, pelo que não falamos e pelo que não fazemos.
O que sentimos e pensamos das pessoas à nossa volta, e que não traduzimos em palavras, manifesta-se pelas expressões corporais e, invisivelmente, pelas conexões que se estabelecem mente a mente, não obedecendo às barreiras condicionadas pela matéria e pelo ego.
Portanto, o que falamos, fazemos e sentimos, alcança aqueles com quem nos relacionamos, mas os sentimentos se tornam mais relevantes por serem transmitidos de forma inconsciente, em virtude de nos ligarmos uns aos outros pelas imperceptíveis e sutis vibrações do Espírito.
Emitir bons pensamentos, desejar paz e equilíbrio para alguém não é apenas um exercício para o ego que deseja seu próprio bem estar, mas uma emissão psíquica que alcança a outra pessoa onde quer que se encontre. Da mesma forma, a oração sentida alcança seu objetivo quando se destina em favor de alguém. Neste caso, o benefício é duplo, pois enriquece quem a faz e a pessoa para qual foi destinada.
Cada transformação no indivíduo, que implique em aquisição de valores espirituais profundos, promove uma melhoria em sua vibração pessoal.
Essa vibração mental pessoal se constitui numa marca individual que se torna automaticamente perceptível aos espíritos desencarnados e, sutilmente, às pessoas em geral.
O que se passa dentro das quatro paredes onde vive uma família a ela pertence. Quando algum assunto necessite extrapolar seus limites, o motivo deve ser para o equilíbrio e a manutenção do lar.
Todas as vezes que deixamos que entrem ou saiam assuntos que não levem em consideração a harmonia do lar estaremos abrindo flancos perigosos para os ataques psíquicos.
Um lar é um campo de amor onde devem vibrar os sentimentos de seus indivíduos. Ali deve se tornar um lugar sagrado no qual a entrada de outras vibrações deve ser examinada para que nada possa contaminar o equilíbrio do conjunto.
A maledicência, a revolta, o ódio, bem com as lembranças de experiências que tragam sentimentos aversivos e contrários aos valores do lar devem ser tidos como danosos. Precisam ser tratados com cuidado e com o necessário equilíbrio para não se tornar lugar comum na família.
O campo do lar é pouso e, às vezes, morada de bons espíritos que encontram um refúgio para que possam proporcionar o bem entre os encarnados.
Valorizá-lo como uma importante célula no organismo social é dever de quem o constituiu. Quanto mais assim o fizermos, mais estaremos seguros e no caminho adequado à nossa evolução espiritual.
Cada um de nós sempre encontra justificativas para evitarmos assumir responsabilidades quando o desequilíbrio se instala numa família.
No ambiente familiar, quando alguém se apresenta doente ou em desequilíbrio, todos aqueles que convivem com aquela pessoa, de alguma forma, tornam-se co-responsáveis pelo encontro de soluções que visem restabelecer a paz e a harmonia ao conjunto.
Manter psiquicamente um lar é tarefa que exige esforço, renúncia e abnegação. Não há vitória possível sem luta interna, sem esforço pessoal e sem doação de amor.
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