LIVRO
TERCEIRO
AS
LEIS MORAIS
CAPÍTULO
V- LEI DE CONSERVAÇÃO
II-
Meios de Conservação
(Questão 704 a 710)
Deus, dando ao homem a necessidade de viver, sempre
lhe forneceu os meios para isso,
e se ele não os encontra é por falta de compreensão. Deus não podia dar ao
homem a necessidade de viver sem lhe dar também os meios. É por isso que
faz a terra produzir de maneira a fornecer o necessário a todos os seus
habitantes, pois só o necessário é útil; o supérfluo jamais o é.
Não é a terra que nem sempre produz bastante para
fornecer o necessário ao homem, mas o
homem que a negligencia, o ingrato, e no entanto ela é uma excelente mãe.
Frequentemente ele ainda acusa a Natureza pelas consequências da sua
imperícia ou da sua imprevidência. A terra produziria sempre o necessário,
se o homem soubesse contentar-se. Se ela não supre a todas as necessidades
é porque o homem emprega no supérfluo o que se destina ao necessário.
Vede
o árabe no deserto como encontra sempre do que viver, porque não cria
necessidades fictícias. Mas quando metade dos produtos é desperdiçada na
satisfação de fantasias, deve o homem se admirar de nada encontrar no dia
seguinte e tem razão de se lastimar por se achar desprevenido quando
chega o tempo de escassez. Na verdade, eu vos digo que não é a Natureza a
imprevidente, é o homem que não sabe regular-se.
O
solo é a fonte primeira de que decorrem todos os outros recursos, porque esses
recursos, em, última instância, são apenas uma transformação dos produtos
do solo. É por isso que devemos entender pelos bens da terra tudo quanto o
homem pode gozar nesse mundo.
Os meios de subsistência faltam frequentemente a
certos indivíduos, mesmo em meio da abundância que os cerca por causa do egoísmo dos homens que nem sempre fazem o que devem; em seguida, e o
mais frequentemente, a eles mesmos.
Buscai
e achareis; estas palavras não querem dizer que seja suficiente olhar para a
terra a fim de encontrar o que se deseja, mas que é necessário procurar com
ardor e perseverança, e não com displicência, sem se deixar desanimar
pelos obstáculos que muito frequentemente não passam de meios de pôr à
prova a vossa constância, a vossa paciência e a vossa firmeza. (Ver
item 534.)
Comentário
de Kardec: Se a civilização multiplica
as necessidades, também multiplica as fontes de trabalho e os meios de vida;
mas é preciso convir que nesse sentido ainda muito lhe resta a fazer. Quando
ela tiver realizado a sua obra ninguém poderá dizer que lhe falte o necessário,
a menos que o falte por sua própria culpa. O mal, para muitos, é viverem uma
vida que não é a que a Natureza lhes traçou; é então que lhes falta a
inteligência para vencerem. Há para todos um lugar ao sol, mas com a condição
de cada qual tomar o seu e não o dos outros. A Natureza não poderia ser
responsável pelos vícios da organização social e pelas consequências da ambição
e do
amor-próprio.
Seria
preciso ser cego, entretanto, para não se reconhecer o progresso que nesse sentido
têm realizado os povos mais adiantados.
Graças
aos louváveis esforços que a Filantropia e a Ciência, reunidas, não cessam de
fazer para a melhoria da condição material dos homens, e malgrado o crescimento
incessante das populações, a insuficiência da produção é atenuada, pelo menos
em grande parte, e os anos mais calamitosos nada têm de comparável aos de há
bem pouco tempo.
A
higiene pública, esse elemento tão essencial da energia e da saúde,
desconhecido por nossos pais, é objeto de uma solicitude esclarecida; o
infortúnio e o sofrimento encontram lugares de refúgio; por toda parte a
Ciência é posta em ação, contribuindo para o acréscimo do bem-estar.
Certamente,
não se pode dizer que atingimos a perfeição. Oh!, certamente que não. Mas o que
já se fez dá-nos a medida do que pode ser feito, com perseverança, se o homem
for bastante sensato para procurar a sua felicidade nas coisas positivas e
sérias e não nas utopias que o fazem recuar em vez de avançar.
As situações em que os
meios de subsistência não dependem absolutamente da vontade do homem e a
privação do necessário, até o mais imperioso, não é uma consequência das
circunstâncias, mas uma prova frequentemente cruel que o
homem deve sofrer e à qual sabia que seria exposto; seu mérito está na
submissão à vontade de Deus, se a sua inteligência não lhe fornecer algum
meio de sair da dificuldade. Se a morte deve atingi-lo, ele deverá
submeter-se sem lamentar, pensando que a hora da verdadeira liberdade
chegou e que o desespero do momento final pode fazê-lo perder o fruto de
sua resignação.
Aqueles que em situações críticas se viram obrigados
a sacrificar os semelhantes para matar a fome, cometeram com isso um crime,
pois há homicídio e crime de lesa-natureza, que
devem ser duplamente punidos. Há
mais mérito em sofrer todas as provas da vida com abnegação e coragem. Há.
Nos mundos onde a organização é mais apurada, os
seres vivos têm necessidade de alimentação,
mas os seus alimentos estão em relação com a sua natureza. Esses alimentos não seriam tão substanciais
para os vossos estômagos grosseiros; da mesma maneira, eles não poderiam
digerir os vossos.
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