LIVRO
TERCEIRO
AS
LEIS MORAIS
CAPÍTULO
II- LEI DE ADORAÇÃO
VI- Sacrifícios
(Questão 669 a 673)
A prática dos sacrifícios humanos remonta à mais alta Antiguidade. O
homem levado a crer que semelhantes coisas pudessem agradar a Deus, primeiro,
porque não compreendia Deus como sendo a fonte da bondade.
Entre os
povos primitivos, a matéria sobrepõe-se ao Espírito; eles se entregam aos
instintos animais e por isso são geralmente cruéis, pois o senso moral ainda
não se encontra desenvolvido.
Depois, os
homens primitivos deviam crer naturalmente que uma criatura animada teria muito
mais valor aos olhos de Deus que um corpo material.
Foi isso que
os levou a imolar primeiramente animais e mais tarde criaturas humanas, pois,
segundo sua falsa crença, pensavam que o valor do sacrifício estava em relação
com a importância da vítima.
Na vida
material, como geralmente a levais, se ofereceis um presente a alguém,
escolheis sempre o de um valor tanto maior, quanto mais amizade e consideração
quereis testemunhar à pessoa. O mesmo deviam fazer os homens ignorantes, com
relação a Deus.
Assim, sem dúvida, os sacrifícios de animais teriam precedido os humanos.
Segundo essa explicação, os sacrifícios humanos não se originaram de um
sentimento de crueldade, mas de uma falsa concepção do que seria agradável a
Deus.
Vede Abraão. Com o tempo, os homens passaram a cometer abusos, imolando
os inimigos, até mesmo os inimigos pessoais.
De resto, Deus jamais exigiu sacrifícios, nem de
animais, nem de homens. Ele não pode ser honrado com a destruição inútil de sua
própria criatura.
Não poderiam jamais, os sacrifícios humanos, realizados com intenções
piedosas, ter algumas vezes agradado a Deus; mas Deus
julga a intenção. Os homens, sendo ignorantes, podiam crer que faziam um ato
louvável ao imolar um de seus semelhantes. Nesse caso, Deus atentaria para o
pensamento e não para o fato.
Os homens,
ao se melhorarem, deviam reconhecer o erro e reprovar esses sacrifícios, que
não mais seriam admissíveis para espíritos esclarecidos; eu digo esclarecidos
porque os Espíritos estavam então envolvidos pelo véu material.
Mas pelo
livre-arbítrio poderiam ter uma percepção de sua origem e sua finalidade.
Muitos já compreendiam por intuição o mal que faziam, e só o praticavam para
satisfazer suas paixões.
Devemos pensar sobre as chamadas guerras santas e o sentimento que leva
os povos fanáticos a exterminar o mais possível os que não partilham de suas
crenças, com o fim de agradar a Deus, que esses povos são
impulsionados pelos maus Espíritos.
Fazendo
a guerra aos seus semelhantes, vão contra Deus, que manda o homem
amar ao próximo como a si mesmo.
Todas as
religiões, ou antes, todos os povos adoram um mesmo Deus, quer sob este ou
aquele nome. Como promover uma guerra de exterminação, porque a religião de um
outro é diferente ou não atingiu ainda o progresso religioso dos povos
esclarecidos?
Os povos são
escusáveis por não crerem na palavra daquele que estava animado pelo Espírito
de Deus e fora enviado por ele, sobretudo quando não o viram e não
testemunharam os seus atos; e como quereis que eles creiam nessa palavra de paz
quando os procurais de espada em punho?
Eles devem esclarecer-se e devemos procurar
fazê-los conhecer a sua doutrina pela persuasão e a doçura, e não pela força e
o sangue.
A maioria de
vós não acreditais nas nossas comunicações com certos
mortais; por que quereis então que os estranho acreditem nas vossas palavras,
quando os vossos atos desmentem a doutrina que pregais ?
A oferenda dos frutos da terra teria mais mérito aos olhos de Deus que o
sacrifício dos animais. Já vos respondi ao dizer que Deus julgaria a
intenção, e que o fato em si teria pouca importância para ele.
Seria evidentemente mais agradável a Deus a
oferenda de frutos da terra que a de sangue das vítimas.
Como vos
dissemos e repetimos sempre, a prece dita do fundo do coração é cem vezes mais
agradável a Deus que todas as oferendas que lhe pudésseis fazer. Repito que a intenção é tudo e o fato,
nada.
Deus abençoa
sempre os que praticam o bem; amparar os pobres e os aflitos é o melhor meio de
homenageá-lo.
Já vos
disse, por isso mesmo, que Deus desaprova as cerimônias que fazeis para as
vossas preces, pois há muito dinheiro que poderia ser empregado mais utilmente.
O homem que
se prende à exterioridade e não ao coração é um espírito de vista estreita;
julgai se Deus deve importar-se mais com a forma do que o fundo.
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