LIVRO
TERCEIRO
AS
LEIS MORAIS
CAPÍTULO
I- A LEI DIVINA OU NATURAL
A moral é a
regra da boa conduta e, portanto, da distinção entre o bem e o mal. Funda-se na
observação da lei de Deus.
O homem se conduz bem quando faz tudo tendo em vista o bem e para o bem de todos, porque então observa a lei de Deus.
O homem se conduz bem quando faz tudo tendo em vista o bem e para o bem de todos, porque então observa a lei de Deus.
Distingue-se o bem do mal, pois que o bem é tudo
o que está de acordo com a lei de Deus, e o mal é tudo o que dela se afasta.
Assim, fazer o bem é se conformar à lei de Deus; fazer o mal é infringir essa
lei.
O homem tem meios para distinguir por si mesmo o bem e o mal, quando
ele crê em Deus e quando o quer saber. Deus lhe deu a inteligência para
discernir um e outro.
O homem, que é sujeito a errar, pode enganar-se na apreciação do bem e do
mal e crer que faz o bem quando em realidade está fazendo o mal. Porém Jesus
vos disse: vede o que quereríeis que vos fizessem ou não; tudo se resume nisso.
Assim não vos encanareis.
A regra do bem e do mal, que se poderia chamar de reciprocidade ou
de solidariedade, não pode ser aplicada à conduta pessoal do homem para
consigo mesmo. Encontra ele, na lei natural, a regra desta conduta e um guia
seguro?
Quando
comeis demais, isso vos faz mal. Pois bem, é Deus que vos dá a medida do que
vos falta. Quando a ultrapassais, sois punidos. O mesmo se dá com tudo o mais.
A lei natural traça para o homem o limite das suas necessidades; quando ele o
ultrapassa, é punido pelo sofrimento. Se o homem escutasse, em todas as coisas,
essa voz que. diz: chega! evitaria a maior parte dos males de que acusa a
Natureza.
Deus criou
os Espíritos criados simples e ignorantes. Deus deixa ao homem a escolha do
caminho: tanto pior para ele se seguir o mal; sua peregrinação será mais longa.
Se não existissem montanhas, não poderia o homem compreender que se pode subir
e descer; e se não existissem rochas, não compreenderia que há corpos duros. E
necessário que o Espírito adquira a experiência, e para isto é necessário que
ele conheça o bem e o mal; eis porque existe a união do Espírito e do corpo.
As
diferentes condições sociais existem na Natureza e estão de acordo com a lei do
progresso.
Comentário de Kardec: As condições de existência do homem mudam
segundo as épocas e os lugares, e disso resultam para ele necessidades
diferentes e condições sociais correspondentes a essas necessidades. Desde que
essa diversidade está na ordem das coisas é conforme à lei de Deus, e essa lei,
por isso, não é menos una em seu princípio. Cabe à razão distinguir as
necessidades reais das necessidades fictícias ou convencionais.
O bem e o mal não são absolutos para todos os homens. A
lei de Deus é a mesma para todos; mas o mal depende, sobretudo, da vontade que
se tenha de fazê-lo. O bem é sempre bem e o mal sempre mal, qualquer que seja a
posição do homem; a diferença está no grau de responsabilidade.
O selvagem que cede ao seu instinto, comendo carne humana, é culpado,
pois que o mal depende da vontade. Pois bem, o homem é tanto mais
culpado quanto melhor sabe o que faz.
Comentário de Kardec: As circunstâncias dão ao bem e ao mal uma
gravidade relativa. O homem comete, frequentemente, faltas que, sendo embora
decorrentes da posição em que a sociedade o colocou, não são menos
repreensíveis; mas a responsabilidade está na razão dos meios que ele tiver
para compreender o bem e o mal. É assim que o homem esclarecido que comete uma
simples injustiça é mais culpável aos olhos de Deus que o selvagem que se
entrega aos instintos.
O mal parece, algumas vezes, ser consequente da força das circunstâncias.
Tal é, por exemplo, em certos casos, a necessidade de destruição, até mesmo do
nosso semelhante. O mal não é menos mal por ser necessário; mas essa
necessidade desaparece à medida que a alma se depura passando de uma para outra
existência; então se torna mais culpável quando o comete, porque melhor o
compreende.
O mal recai sobre aquele que o causou. Assim,
o homem que é levado ao mal pela posição em que os outros o colocaram é menos
culpável que aqueles que o causaram, pois cada um sofrerá a pena não somente do
mal que tenha feito, mas também do que houver provocado.
Aquele que não faz o mal, mas aproveita o mal praticado por outro, é
culpável no mesmo grau, pois é como se o cometesse; ao aproveitá-lo, torna-se
participante dele. Talvez tivesse recuado diante da ação; mas, se ao
encontrá-la realizada, dela se serve, é porque a aprova e a teria praticado se
pudesse ou se tivesse ousado.
O desejo do mal é também repreensível quanto o mal. Há
virtude em resistir voluntariamente ao mal que se sente desejo de praticar,
sobretudo quando se tem a possibilidade de satisfazer esse desejo; mas se o que
faltou foi apenas a ocasião, o homem é culpável.
Não será suficiente não se fazer o mal para ser agradável a Deus e
assegurar uma situação futura; é preciso fazer o bem no limite das próprias
forças, pois cada um responderá por todo o mal que tiver ocorrido por causa do
bem que deixou de fazer.
Não há ninguém que, por sua posição, não tenham possibilidade de fazer o
bem; somente o egoísta não encontra jamais a ocasião de
praticá-lo. É suficiente estar em relação com outros homens para se fazer o
bem, e cada dia da vida oferece essa possibilidade a quem não estiver cego pelo
egoísmo, porque fazer o bem não é apenas ser caridoso mas ser útil na medida do
possível, sempre que o auxílio se faça necessário.
O meio em que certos homens vivem é para eles o motivo principal de
muitos vícios e crimes, mas ainda nisso há uma prova escolhida pelo
Espírito no estado de liberdade; ele quis se expor à tentação para ter o mérito
da resistência.
Quando o homem está mergulhado na atmosfera do vício, o mas se torna para
ele um arrastamento porém irresistível, não;
porque, no meio dessa atmosfera de vícios, podes encontrar grandes virtudes.
São Espíritos que tiveram a força de resistir e que tiveram, ao mesmo tempo, a
missão de exercer uma boa influência sobre os seus semelhantes.
O mérito do bem que se faz está na
dificuldade; não há nenhum em fazê-lo sem penas e quando nada custa. Deus leva
mais em conta o pobre que reparte o seu único pedaço de pão que o rico que só
dá do seu supérfluo. Jesus já o disse, a propósito do óbolo da viúva.
As pesquisas
sociológicas deram motivo a uma reavaliação, em nosso tempo, do conceito
tradicional de moral. Entendeu-se que a moral é variável, porque o bem de um
povo pode ser mal para outro e vice-versa. Renouvier, entretanto, em “Science
de Ia morale”, a compara às matemáticas: é uma ciência que deve fundar-se
em puros conceitos.
Os sociólogos confundiram moral e costumes, mas ultimamente já distinguiram, na confusão dos costumes, uma regra geral, que é a aspiração comum do bem Bergson, em “Lês deux sources de Ia morale et de Ia religion”, estabelece dois tipos de moral: a fechada, que decorre da coação social, e a aberta, que é individual e não se sujeita às convenções. A moral relativa é a convencional, enquanto a moral absoluta é a ditada pela aspiração universal do bem, pela Lei de Deus gravada nas consciências. (N. do T.)
Os sociólogos confundiram moral e costumes, mas ultimamente já distinguiram, na confusão dos costumes, uma regra geral, que é a aspiração comum do bem Bergson, em “Lês deux sources de Ia morale et de Ia religion”, estabelece dois tipos de moral: a fechada, que decorre da coação social, e a aberta, que é individual e não se sujeita às convenções. A moral relativa é a convencional, enquanto a moral absoluta é a ditada pela aspiração universal do bem, pela Lei de Deus gravada nas consciências. (N. do T.)
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