terça-feira, 23 de setembro de 2014

IV- DA PRECE - LIVRO TERCEIRO - CAPÍTULO II - Lei de Adoração, O Livro dos Espíritos, Allan Kardec

LIVRO TERCEIRO
AS LEIS MORAIS
CAPÍTULO II- LEI DE ADORAÇÃO

IV- Da Prece
 (Questão 658 a 666)

A prece sempre é agradável a Deus quando ditada pelo coração, porque a intenção é tudo para ele.

A prece do coração é preferível à que podes ler, por mais bela que seja, se a leres mais com os lábios do que com o pensamento.

A prece é agradável a Deus quando é proferida com fé, com fervor e sinceridade.

Não creias, pois, que Deus seja tocado pelo homem vão, orgulhoso e egoísta, a menos que a sua prece represente um ato de sincero arrependimento e de verdadeira humildade.

O caráter geral da prece está no fato de que a esta é um ato de adoração. Fazer preces a Deus é pensar nele, aproximar-se dele, pôr-se em comunicação com ele.

Pela prece podemos fazer três coisas: louvar, pedir e agradecer.

A prece torna o homem melhor, porque aquele que faz preces com fervor e confiança se torna mais forte contra as tentações do mal, e Deus lhe envia bons Espíritos para o assistir. É um socorro jamais recusado, quando o pedimos com sinceridade.

A explicação de que certas pessoas que oram muito sejam, apesar disso, de muito mau caráter, ciumentas, invejosas, implicantes, faltas de benevolência e de indulgência; que sejam até mesmo viciosas está no fato de que o essencial não é orar muito, mas orar bem.
Essas pessoas julgam que todo o mérito está na extensão da prece e fecham, os olhos para os seus próprios defeitos. A prece é para elas uma ocupação, um emprego do tempo, mas não um estudo de si mesmas. Não é o remédio que é ineficaz, neste caso, mas a maneira de aplicá-lo.

Deus sabe discernir o bem e o mal; a prece não oculta as faltas. Aquele que pede a Deus o perdão de suas faltas não o obtém se não mudar de conduta.

As boas ações são a melhor prece, porque os atos valem mais do que as palavras.

e pelos outros pois que o Espírito daquele que ora está agindo pela vontade de fazer o bem. Pela prece atrai a ele os bons Espíritos que se associam ao bem que deseja fazer.

Comentário de Kardec: Possuímos em nós mesmos, pelo pensamento e a vontade, um poder de ação que se estende muito além dos limites de nossa esfera corpórea. A prece por outros é um ato dessa vontade. Se for ardente e sincera, pode chamar os bons Espíritos em auxílio daquele por quem pedimos, a fim de lhe sugerirem bons pensamentos e lhe darem a força necessária para o corpo e a alma. Mas ainda nesse caso a prece do coração é tudo e a dos lábios não é nada.

Vossas provas estão nas mãos de Deus e há as que devem ser suportadas até o fim, mas Deus leva sempre em conta a resignação.
 A prece atrai a vós os bons Espíritos que vos dão a força de as suportar com coragem. Então elas vos parecem menos duras.

Já o dissemos: a prece nunca é inútil, quando bem feita, porque dá força, o que já é um grande resultado. Ajuda-te a ti mesmo e o céu te ajudará; tu sabes disso.

Aliás, Deus não pode mudar a ordem da Natureza ao sabor de cada um, porque aquilo que é um grande mal do vosso ponto de vista mesquinho, para vossa vida efêmera, muitas vezes é um grande bem na ordem geral do Universo. Além disso, de quantos males o homem é o próprio autor por sua imprevidência ou por suas faltas.
Ele é punido no que pecou. Não obstante, os vossos justos pedidos são em geral mais escutados do que julgais. Pensais que Deus não vos ouviu porque não fez um milagre em vosso favor, quando, entretanto, vos assiste por meios tão naturais que vos parecem o efeito do acaso ou da força das circunstâncias. Frequentemente, ou o mais frequentemente, ele vos suscita o pensamento necessário para sairdes por vós mesmos do embaraço.

É útil orar pelos mortos e pelos Espíritos sofredores, e nesse caso as nossas preces lhes proporcionam consolo e abrevia-lhes os sofrimentos, porém, não têm elas o poder de fazer dobrar-se a justiça de Deus.

A prece não pode ter o efeito de mudar os desígnios de Deus, mas a alma pela qual se ora experimenta alívio, porque é um testemunho de interesse que se lhe dá e porque o infeliz, é sempre consolado, quando encontra almas caridosas que compartilham as suas dores.
De outro lado, pela prece provoca-se o arrependimento, desperta-se o desejo de fazer o necessário para se tornar feliz.  É nesse sentido que se pode abreviar a sua pena, se do seu lado ele contribui com a sua boa vontade.

Esse desejo de melhora, excitado pela prece, atrai para o Espírito sofredor os Espíritos melhores que vêm esclarecê-lo, consolá-lo e dar-lhe esperanças.

Jesus orava pelas ovelhas transviadas. Com isso vos mostrava que sereis culpados se nada fizerdes pelos que mais necessitam.

O Cristo disse aos homens: amai-vos uns aos outros. Essa recomendação implica a de empregar todos os meios possíveis de testemunhar afeição aos outros, sem entrar, por isso mesmo, em nenhum detalhe sobre a maneira de atingir o objetivo.

Se é verdade que nada pode desviar o Criador de aplicar a justiça, inerente a ele mesmo, a todas as ações do Espírito, não é menos verdade que a prece que lhe dirigis, em favor daquele que vos inspira afeição, é para este um testemunho de recordação que não pode deixar de contribuir para aliviar os seus sofrimentos e o consolar.

Desde que ele revele o mais leve arrependimento, e somente então, será socorrido; mas isso não o deixará jamais esquecer que uma alma simpática se ocupou dele e lhe dará a doce crença de que a sua intercessão lhe foi útil. Disso resulta necessariamente, de sua parte, um sentimento de afeição por aquele que lhe deu essa prova de interesse e de piedade.

Por conseguinte, o amor recomendado aos homens pelo Cristo não fez mais do que aumentar entre eles, e ambos obedeceram à lei de amor e de união de todos os seres, lei divina que deve conduzirá unidade, objetivo e fim do Espírito.

Podemos orar aos bons Espíritos como sendo os mensageiros de  Deus e os executores de seus desígnios, mas o seu poder está na razão da sua superioridade e decorre sempre do Senhor de todas as coisas, sem cuja  permissão nada se faz; eis porque as preces que lhes dirigimos só são eficazes se forem agradáveis a Deus.

 Espinosa dizia que “Deus age segundo unicamente as leis de sua natureza, sem ser constrangido por ninguém” (Proposição XVII da “Ética”), e afirmava a impossibilidade do milagre, por ser uma violação das leis de Deus. Também no tocante aos males individuais, alegava que eles não existiam na ordem geral do Universo. (N. do T.)

Resposta dada pelo Espírito do Sr. Monod, pastor protestante de Paris, falecido em abril de 1856. A resposta precedente, número 664, é do Espírito de São Luís.


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