LIVRO
TERCEIRO
AS
LEIS MORAIS
CAPÍTULO
II- LEI DE ADORAÇÃO
IV- Da Prece
(Questão 658
a 666)
A prece sempre é agradável a Deus quando
ditada pelo coração, porque a intenção é tudo para ele.
A prece do
coração é preferível à que podes ler, por mais bela que seja, se a leres mais
com os lábios do que com o pensamento.
A prece é
agradável a Deus quando é proferida com fé, com fervor e sinceridade.
Não creias,
pois, que Deus seja tocado pelo homem vão, orgulhoso e egoísta, a menos que a
sua prece represente um ato de sincero arrependimento e de verdadeira
humildade.
O caráter geral da prece está no fato de que a esta
é um ato de adoração. Fazer preces a Deus é pensar nele, aproximar-se dele, pôr-se
em comunicação com ele.
Pela prece
podemos fazer três coisas: louvar, pedir e agradecer.
A prece torna o homem melhor, porque
aquele que faz preces com fervor e confiança se torna mais forte contra as
tentações do mal, e Deus lhe envia bons Espíritos para o assistir. É um socorro
jamais recusado, quando o pedimos com sinceridade.
A explicação de que certas pessoas que oram muito sejam, apesar disso, de
muito mau caráter, ciumentas, invejosas, implicantes, faltas de benevolência e
de indulgência; que sejam até mesmo viciosas está no fato de que o essencial
não é orar muito, mas orar bem.
Essas
pessoas julgam que todo o mérito está na extensão da prece e fecham, os olhos
para os seus próprios defeitos. A prece é para elas uma ocupação, um emprego do
tempo, mas não um estudo de si mesmas. Não é o remédio que é ineficaz, neste
caso, mas a maneira de aplicá-lo.
Deus sabe
discernir o bem e o mal; a prece não oculta as faltas. Aquele que pede a Deus o
perdão de suas faltas não o obtém se não mudar de conduta.
As boas
ações são a melhor prece, porque os atos valem mais do que as palavras.
Comentário
de Kardec: Possuímos em nós mesmos, pelo pensamento e a
vontade, um poder de ação que se estende muito além dos limites de nossa esfera
corpórea. A prece por outros é um ato dessa vontade. Se for ardente e sincera,
pode chamar os bons Espíritos em auxílio daquele por quem pedimos, a fim de lhe
sugerirem bons pensamentos e lhe darem a força necessária para o corpo e a
alma. Mas ainda nesse caso a prece do coração é tudo e a dos lábios não é nada.
Vossas
provas estão nas mãos de Deus e há as que devem ser suportadas até o fim, mas
Deus leva sempre em conta a resignação.
A prece atrai a vós os bons Espíritos que vos
dão a força de as suportar com coragem. Então elas vos parecem menos duras.
Já o
dissemos: a prece nunca é inútil, quando bem feita, porque dá força, o que já é
um grande resultado. Ajuda-te a ti mesmo e o céu te ajudará; tu sabes disso.
Aliás, Deus
não pode mudar a ordem da Natureza ao sabor de cada um, porque aquilo que é um
grande mal do vosso ponto de vista mesquinho, para vossa vida efêmera, muitas
vezes é um grande bem na ordem geral do Universo. Além disso, de quantos males
o homem é o próprio autor por sua imprevidência ou por suas faltas.
Ele é punido
no que pecou. Não obstante, os vossos justos pedidos são em geral mais
escutados do que julgais. Pensais que Deus não vos ouviu porque não fez um
milagre em vosso favor, quando, entretanto, vos assiste por meios tão naturais
que vos parecem o efeito do acaso ou da força das circunstâncias. Frequentemente,
ou o mais frequentemente, ele vos suscita o pensamento necessário para sairdes
por vós mesmos do embaraço.
É útil orar pelos mortos e pelos Espíritos sofredores, e nesse caso as
nossas preces lhes proporcionam consolo e abrevia-lhes os sofrimentos, porém,
não têm elas o poder de fazer dobrar-se a justiça de Deus.
A prece não
pode ter o efeito de mudar os desígnios de Deus, mas a alma pela qual se ora
experimenta alívio, porque é um testemunho de interesse que se lhe dá e porque
o infeliz, é sempre consolado, quando encontra almas caridosas que compartilham
as suas dores.
De outro
lado, pela prece provoca-se o arrependimento, desperta-se o desejo de fazer o
necessário para se tornar feliz. É nesse sentido que se pode abreviar a
sua pena, se do seu lado ele contribui com a sua boa vontade.
Esse desejo
de melhora, excitado pela prece, atrai para o Espírito sofredor os Espíritos
melhores que vêm esclarecê-lo, consolá-lo e dar-lhe esperanças.
Jesus orava
pelas ovelhas transviadas. Com isso vos mostrava que sereis culpados se nada
fizerdes pelos que mais necessitam.
O Cristo
disse aos homens: amai-vos uns aos outros. Essa recomendação implica a de
empregar todos os meios possíveis de testemunhar afeição aos outros, sem
entrar, por isso mesmo, em nenhum detalhe sobre a maneira de atingir o
objetivo.
Se é verdade
que nada pode desviar o Criador de aplicar a justiça, inerente a ele mesmo, a
todas as ações do Espírito, não é menos verdade que a prece que lhe dirigis, em
favor daquele que vos inspira afeição, é para este um testemunho de recordação
que não pode deixar de contribuir para aliviar os seus sofrimentos e o
consolar.
Desde que
ele revele o mais leve arrependimento, e somente então, será socorrido; mas
isso não o deixará jamais esquecer que uma alma simpática se ocupou dele e lhe
dará a doce crença de que a sua intercessão lhe foi útil. Disso resulta
necessariamente, de sua parte, um sentimento de afeição por aquele que lhe deu
essa prova de interesse e de piedade.
Por
conseguinte, o amor recomendado aos homens pelo Cristo não fez mais do que
aumentar entre eles, e ambos obedeceram à lei de amor e de união de todos os
seres, lei divina que deve conduzirá unidade, objetivo e fim do Espírito.
Podemos orar
aos bons Espíritos como sendo os mensageiros de Deus e os executores de
seus desígnios, mas o seu poder está na razão da sua superioridade e decorre
sempre do Senhor de todas as coisas, sem cuja permissão nada se faz; eis
porque as preces que lhes dirigimos só são eficazes se forem agradáveis a Deus.
Espinosa
dizia que “Deus age segundo unicamente as leis de sua natureza, sem ser
constrangido por ninguém” (Proposição XVII da “Ética”), e afirmava a
impossibilidade do milagre, por ser uma violação das leis de Deus. Também no
tocante aos males individuais, alegava que eles não existiam na ordem geral do
Universo. (N. do T.)
Resposta dada pelo
Espírito do Sr. Monod, pastor protestante de Paris, falecido em abril de 1856.
A resposta precedente, número 664, é do Espírito de São Luís.
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