LIVRO
TERCEIRO
AS
LEIS MORAIS
CAPÍTULO I -A LEI DIVINA OU NATURAL
II-
Conhecimento das Leis Naturais
(Questão 619 a 628)
Deus proporcionou a todos os homens os meios de conhecerem a sua lei,
mas nem todos a compreendem; os que melhor a compreendem são os homens de bem e
os que desejam pesquisá-la. Não obstante, todos um dia a compreenderão, porque
é necessário que o progresso se realize.
Comentário de Kardec: A justiça da multiplicidade de encarnações do homem
decorre deste princípio. Pois a cada nova existência sua inteligência se torna
mais desenvolvida e ele compreende melhor o que é o bem e o que é o mal. Se
tudo tivesse de se realizar numa só existência, qual seria a sorte de tantos
milhões de seres que morrem diariamente no embrutecimento da selvageria ou nas
trevas da ignorância, sem que deles dependa o próprio esclarecimento?
A alma, antes de sua união com o corpo, compreende melhor a lei de Deus segundo
o grau de perfeição a que tenha chegado e conserva a sua lembrança intuitiva
após a união com o corpo; mas os maus instintos do homem frequentemente fazem
que ele a esqueça.
A Lei de Deus está escrita na
consciência.
O Homem
havia esquecido e desprezado a Lei Divina que está em sua consciência. A
necessidade que o homem tem de a revelar fundamenta-se na vontade de Deus, que quis
que ela lhe fosse lembrada.
Certamente, Deus outorgou a alguns homens a missão de revelar a sua lei; em
todos os tempos houve homens que receberam essa missão. São Espíritos
superiores, encarnados com o fim de fazer progredir a Humanidade.
Esses homens inspirados por Deus, que pretenderam instruir os homens na
lei de Deus jamais se enganaram e não os fizeram transviar-se, através de
falsos princípios. Os que não eram inspirados por Deus e que se
atribuíram a si mesmos, por ambição, uma missão que não tinham certamente os
fizeram extraviar; não obstante, como eram homens de gênio, em meio aos
próprios erros ensinaram frequentemente grandes verdades.
O caráter do verdadeiro profeta está em que o
verdadeiro profeta é um homem de bem, inspirado por Deus. Podemos reconhecê-lo
por suas palavras e por suas ações. Deus não se serve da boca do mentiroso para
ensinar a verdade.
O tipo mais perfeito que Deus ofereceu ao homem para lhe servir de guia e
de modelo foi Jesus Cristo.
Comentário de Kardec: Jesus é para o homem o tipo de perfeição moral
a que pode aspirar a Humanidade na Terra. Deus o ofereceu como o mais perfeito
modelo e a doutrina que ele ensinou é a mais pura expressão de sua lei, porque
ele estava animado do espírito divino e foi o ser mais puro que já apareceu na
Terra.
Se alguns
dos que pretenderam instruir os homens na lei de Deus algumas vezes se
desviaram para falsos princípios, foi por se deixarem dominar por sentimentos
demasiado terrenos e por terem confundido as leis que regem as condições da
vida da alma com as que regem a vida do corpo. Muitos deles apresentaram como
leis divinas o que era apenas leis humanas, instruídas para servir às paixões e
dominar os homens.
As leis
divinas e naturais estão escritas por toda a parte. Todos os homens que
meditaram sobre a sabedoria puderam compreendê-las e ensiná-las desde os
séculos mais distantes. Por seus ensinamentos, mesmo incompletos, eles
prepararam o terreno para receber a semente. Estando as leis divinas escritas
no livro da Natureza, o homem pôde conhecê-las sempre que desejou procurá-las.
Eis porque os seus princípios foram proclamados em todos os tempos pelos homens
de bem, e também porque encontramos os seus elementos na doutrina moral de
todos os povos saídos da barbárie, mas incompletos ou alterados pela ignorância
e a superstição.
Jesus tendo ensinado as verdadeiras leis de Deus, o faça frequentemente
alegórico em forma de parábolas, porque falava de acordo com a época e os
lugares. A utilidade do ensinamento dado pelos Espíritos
está na necessidade de que a verdade seja inteligível para todos. E preciso,
pois explicar e desenvolver essas leis, tão poucos são os que as compreendem e
ainda menos os que as praticam. Nossa
missão é a de espertar os olhos e os ouvidos para confundir os orgulhosos e
desmascarar os hipócritas: os que afetam exteriormente a virtude e a
religião para ocultar as suas torpezas. O ensinamento dos Espíritos deve ser
claro e sem equívocos afim de que ninguém possa pretextar ignorância e cada um
possa julgá-lo e apreciá-lo com sua própria razão. Estamos encarregados de
preparar o Reino de Deus anunciado por Jesus, e por isso é necessário que
ninguém possa interpretar a lei de Deus ao sabor de suas paixões, nem falsear o
sentido de uma lei que é toda amor e caridade.
A verdade não esteve sempre ao alcance de todos pois que é necessário
que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz: é preciso que nos
habituemos a ela pouco a pouco, pois de outra maneira nos ofuscaria.
Jamais houve
um tempo em que Deus permitisse ao homem receber comunicações tão completas e
tão instrutivas como as que hoje lhe são dadas.
Havia na
Antiguidade, como sabeis, alguns indivíduos que estavam de posse daquilo que
consideravam uma ciência sagrada e da qual faziam mistério para os que
consideravam profanos.
Deveis
compreender, com o que conheceis das leis que regem esses fenômenos, que eles
recebiam apenas verdades esparsas no meio de um conjunto equívoco e na maioria
das vezes alegórico.
Não há,
entretanto, para o homem de estudo, nenhum antigo sistema filosófico, nenhuma
tradição, nenhuma religião a negligenciar, porque todos encerram os germes de
grandes verdades, que, embora pareçam contraditórias entre si, espalhadas que
se acham entre acessórios sem fundamento, são hoje muito fáceis de coordenar,
graças à chave que vos dá o Espiritismo de uma infinidade de coisas que até
aqui vos pareciam sem razão, e cuja realidade vos é agora demonstrada de
maneira irrecusável. Não deixeis de tirar temas de estudo desses materiais. São
eles muito ricos e podem contribuir poderosamente para a vossa instrução.
Descartes,
na terceira de suas “Meditações Metafísicas”, declarou que a ideia de
Deus está impressa no homem “como a marca impressa na sua obra.” Essa ideia de
Deus é inata no homem e o impele à perfeição. Embora as escolas modernas de
Psicologia neguem a existência de ideias inatas, o Espiritismo sustenta essa
existência, através do princípio da reencarnação. Por outro lado, as ideias de
Deus, da sobrevivência, do bem e do mal existem e existiram sempre entre todos
os povos. A lei de Deus está escrita na consciência do homem como a assinatura
do artista na sua obra. (N. do T.)
Comparar esta resposta
com a mensagem do Espírito de Verdade colocada por Kardec como prefácio de “O
Evangelho Segundo o Espiritismo”. Como se vê, desde os primeiros momentos, os
Espíritos anunciaram que a finalidade da doutrina era o restabelecimento do Cristianismo.
(N. do T.)
Os textos sagrados das
grandes religiões, como a Bíblia e os Vedas, os sistemas de antigos filósofos,
as doutrinas de velhas ordens ocultas ou esotéricas, todos encerram grandes
verdades nas suas contradições aparentes. Os espíritas não devem recuar diante
desses sistemas ou ver-lhes apenas as contradições, quando possuem a chave do
Espiritismo, com a qual estão aptos a decifrar-lhes os enigmas, descobrindo
seus poderosos motivos de esclarecimento. Também nos sistemas modernos de filosofia
ou de ciência, por mais contrários que pareçam aos espíritas, uma análise
verdadeiramente espírita poderá revelar a existência de grandes verdades. (N.
do T.)
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