LIVRO
TERCEIRO
AS
LEIS MORAIS
CAPÍTULO
I- A LEI DIVINA OU NATURAL
(Questão 614 a 618)
A lei natural é a lei de Deus; é a única necessária à felicidade
do homem; ela lhe indica o que ele deve fazer ou não fazer e ele só se torna
infeliz porque dela se afasta.
A lei de Deus é eterna e imutável, como o próprio Deus.
Jamais Deus teria prescrito aos homens, numa época, aquilo que lhes
proibiria em outra, pois que Deus não se engana; os homens é que são obrigados a
modificar as suas leis que são imperfeitas; mas as leis de Deus são perfeitas.
A harmonia que regula o universo material e o universo moral se funda nas leis
que Deus estabeleceu por toda a eternidade.
As Lei Divinas abrangem todas as leis da Natureza, pois Deus é o autor de
todas as coisas. O sábio estuda as leis da matéria; o homem de bem, as da alma,
e as segue.
É dado ao homem aprofundar umas e outras, mas uma só
existência não lhe é suficiente para isso.
Comentário de Kardec: Que são de fato, alguns anos para se adquirir
tudo o que constitui o ser perfeito embora não consideremos mais do que a
distância que separa o selvagem do homem civilizado? A mais longa existência
possível e insuficiente e com mais forte razão quando ela é abreviada, como
acontece com um grande número.
Entre as
leis divinas, umas regulam o movimento e as relações da matéria bruta: são as
leis físicas; seu estudo pertence ao domínio da Ciência.
As outras
concernem especialmente ao homem e às suas relações com Deus e com os seus
semelhantes. Compreendem as regras da vida do corpo e as da vida da alma: são
as leis morais.
As leis divinas à luz da razão, nos diz que
elas devem ser apropriadas à natureza de cada mundo e proporcionais ao grau de
adiantamento dos seres que os habitam.
Por este princípio: “a
lei natural é a lei de Deus, eterna e imutável como Ele mesmo”, certos teólogos
católicos e protestantes acusam o Espiritismo de doutrina panteísta. Os mesmos
fizeram com Espinosa, para quem Deus, a substância única é a própria Natureza,
mas não no seu aspecto material, e sim nas suas leis. Espinosa respondeu:
“Afirmo-o com Paulo, e talvez com todos os antigos hebreus.” (Carta LXXIII,
explicando a proposição XV da “Ética”: “Tudo o que existe em Deus, e nada pode
existir nem ser concebido sem Deus”). Embora exista funda divergência entre a
concepção espinosiana e a espírita de Deus, ambas concordam ao negar o
antropomorfismo católico e protestante, ao reafirmar o princípio Paulino acima
citado e ao estabelecer a identidade de origem e natureza divina para todas as
leis do Universo. Por outro lado, assim como Espinosa não confundia a natureza
material (Natura naturata) com Deus, mas apenas a natureza inteligente ( natura
naturans) , assim também o Espiritismo não faz semelhante confusão,
estabelecendo ainda que as leis de Deus são uma coisa e Deus mesmo é outra.
Veja-se o capítulo primeiro do livro primeiro, sobre Deus. Não há
possibilidades de confusão entre Espinosa e Panteísmo, a menos que se admita
como panteísta a doutrina da imanência de Deus, por força mesmo de sua
transcendência; e nesse caso, católicos e protestantes também seriam
panteístas. As revoluções atuais no campo da Teologia, particularmente o
movimento da Teologia Radical, mostram mais uma vez o acerto da concepção
espírita de Deus. (N. do T.)
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