LIVRO
TERCEIRO
AS
LEIS MORAIS
CAPÍTULO
III- LEI DO TRABALHO
II-
Limites do Trabalho
(Questão 682 a 685)
Sendo o repouso uma necessidade após o trabalho, é
uma lei da natureza, pois sem dúvida o repouso serve para reparar
as forças do corpo. E também necessário para deixar um pouco mais de
liberdade à inteligência, que deve elevar-se acima da matéria.
O limite do
trabalho é o limite das forças; não obstante, Deus dá
liberdade ao homem.
Os abusam da autoridade para impor aos
seus inferiores um excesso de trabalho praticam uma das piores ações. Todo homem que tem o poder de dirigir é responsável pelo
excesso de trabalho que impõe aos seus inferiores, porque transgride a lei
de Deus.
O homem tem direito ao repouso na sua velhice, pois não está obrigado a nada, senão na proporção de suas forças.
Ao velho que precisa trabalhar para viver e não
pode, o forte deve trabalhar para o fraco: na falta da família, a
sociedade deve ampará-lo: é a lei da caridade.
Comentário de Kardec: Não basta dizer ao homem que ele deve trabalhar, é necessário
também que o que vive do seu trabalho encontre ocupação, e isso nem sempre
acontece. Quando a falta de trabalho se generaliza, toma as proporções de um
flagelo, como a escassez. A ciência econômica procura o remédio no equilíbrio
entre a produção e o consumo, mas esse equilíbrio, supondo-se que seja
possível, sofrerá sempre intermitências e durante essas fases o trabalhador tem
necessidade de viver. Há um elemento que não se ponderou bastante, e sem o qual
a ciência econômica não passa de teoria: a educação. Não a
educação intelectual, mas a moral, e nem ainda a educação moral pelos livros,
mas a que consiste na arte de formar caracteres, aquela que cria
os hábitos, porque educação é conjunto de hábitos adquiridos.
Quando
se pensa na massa de indivíduos diariamente lançados na corrente da população,
sem princípios, sem freios, entregues aos próprios instintos, deve-se admirar
das consequências desastrosas desse fato? Quando essa arte for conhecida,
compreendida e praticada, o homem seguirá no mundo os hábitos de ordem
e previdência para si mesmo e para os seus, de respeito pelo que
é respeitável, hábitos que lhe permitirão atravessar de maneira menos
penosa os maus dias inevitáveis. A desordem e a imprevidência são duas chagas
que somente uma educação bem compreendida pode curar. Nisso está
o ponto de partida, o elemento real do bem- estar, a garantia da segurança de
todos(1).
(1) A concepção espírita do
trabalho como lei natural, determinante ao mesmo tempo da evolução do homem e
da Natureza, coincide com o princípio marxista segundo o qual, nas próprias
palavras de Marx: “Agindo sobre a natureza, que está fora dele, e transformando-a
por meio da ação, o homem se transforma também a si mesmo”. Vemos, no item 676,
que “sem o trabalho o homem permaneceria na infância intelectual”. O
Espiritismo não encara, pois, o trabalho como “uma condenação”, segundo dizem
alguns marxistas, mas como uma necessidade da evolução humana e da evolução
terrena. Trabalhar não é sofrer, mas progredir, desenvolver-se, conquistar a
felicidade. A diferença está em que para os marxistas a felicidade se encontra
nos produtos materiais do trabalho na Terra, enquanto para os espíritas, além
dos proventos imediatos na Terra, o trabalho proporciona também os da evolução
espiritual. Por isso não basta dar trabalho ao homem, sendo também necessário
dar-lhe educação moral, ou seja, orientação espiritual para que ele possa tirar
do trabalho todos os proventos que este lhe pode dar. Um mundo socialista, de
trabalho e abundância para todos, mas sem perspectivas espirituais, seria tão
vazio e aborrecido como um mundo espiritual de ociosidade, segundo o prometido
pelas religiões. O paraíso terrestre do marxismo equivaleria ao paraíso
celeste dos beatos. O Espiritismo não aceita um extremo nem outro, colocando as
coisas em seu devido lugar. (N. do T.)
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