Há uma tendência bastante forte, no meio espírita, para um tipo de moral religiosa que se
caracteriza pelo artificialismo.
Compreende-se que grande número de pessoas, em conseqüência das
heranças do passado e dos exemplos de presente, não consigam adotar outra forma de conduta. Mas não é
justo que os espíritas mais esclarecidos, de mente suficientemente aberta para as novas perspectivas que a
doutrina abre sobre o mundo, continuem a formalizar-se na vida social.
O Espiritismo, ensina Kardec: "é uma questão de fundo e não de forma". De nada vale o exagero
nas boas maneiras, a voz macia e os extremos de pureza formal, — não comer carne, não fumar, não
tomar bebidas alcoólicas, não frequentar festas mundanas, não contar nem ouvir anedotas picantes, — se
o coração não estiver limpo.
A pureza que o Espiritismo nos ensina é interior. Deve, por isso mesmo,
reger a nossa conduta, em vez de esperarmos que uma conduta artificial nos purifique.
Quando o Espiritismo ensina que os formalismos do culto exterior são inúteis, ensina também que
toda exterioridade sem raízes no coração é igualmente inútil.
E é o mesmo que Jesus ensinava, ao repelir
os formalismos da hipocrisia farisaica. Veja-se o caso do ascetismo, da fuga ao mundo, às responsabilidades.
pesadas da vida em sociedade, que o Espiritismo condena como produto do egoísmo.
Se a
encarnação é a nossa possibilidade de relações com pessoas e meios sociais, a que estamos ligados em
virtude do passado, é claro que devemos aproveitar essa oportunidade e não inutilizá-la. Estamos, agora,
no lugar certo, como diz uma recente mensagem mediúnica, e seria prejudicial fugirmos a ele.
O espírita não tem motivo algum para retornar às práticas da moral farisaica.
A doutrina lhe ensina
a espontaneidade, a naturalidade, e a correção dos seus erros e dos seus defeitos na própria relação com
os semelhantes. É na vida de relação que podemos evoluir.
Querer forçar a evolução com abstenções e
atitudes falsas, seria iludir-nos a nós mesmos e também aos outros, o que é ainda mais grave.
Ninguém
vira santo por meio de fórmulas. Não é o que entra pela boca o que contamina o homem, como Jesus
ensinou, mas o que sai da boca.
Nossa conduta deve refletir o que somos, e por isso devemos cuidar
muito mais do nosso coração do que das nossas aparências.
Livro: O homem novo
Autor: José Herculano Pires
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