domingo, 1 de abril de 2018

EXIGE A MORAL ESPÍRITA UMA CONDUTA ESPONTÂNEA

Há uma tendência bastante forte, no meio espírita, para um tipo de moral religiosa que se caracteriza pelo artificialismo. 

Compreende-se que grande número de pessoas, em conseqüência das heranças do passado e dos exemplos de presente, não consigam adotar outra forma de conduta. Mas não é justo que os espíritas mais esclarecidos, de mente suficientemente aberta para as novas perspectivas que a doutrina abre sobre o mundo, continuem a formalizar-se na vida social. 

O Espiritismo, ensina Kardec: "é uma questão de fundo e não de forma". De nada vale o exagero nas boas maneiras, a voz macia e os extremos de pureza formal, — não comer carne, não fumar, não tomar bebidas alcoólicas, não frequentar festas mundanas, não contar nem ouvir anedotas picantes, — se o coração não estiver limpo. 

A pureza que o Espiritismo nos ensina é interior. Deve, por isso mesmo, reger a nossa conduta, em vez de esperarmos que uma conduta artificial nos purifique. 

Quando o Espiritismo ensina que os formalismos do culto exterior são inúteis, ensina também que toda exterioridade sem raízes no coração é igualmente inútil. 

E é o mesmo que Jesus ensinava, ao repelir os formalismos da hipocrisia farisaica. Veja-se o caso do ascetismo, da fuga ao mundo, às responsabilidades. pesadas da vida em sociedade, que o Espiritismo condena como produto do egoísmo. 

Se a encarnação é a nossa possibilidade de relações com pessoas e meios sociais, a que estamos ligados em virtude do passado, é claro que devemos aproveitar essa oportunidade e não inutilizá-la. Estamos, agora, no lugar certo, como diz uma recente mensagem mediúnica, e seria prejudicial fugirmos a ele. 

O espírita não tem motivo algum para retornar às práticas da moral farisaica. 

A doutrina lhe ensina a espontaneidade, a naturalidade, e a correção dos seus erros e dos seus defeitos na própria relação com os semelhantes. É na vida de relação que podemos evoluir. 

Querer forçar a evolução com abstenções e atitudes falsas, seria iludir-nos a nós mesmos e também aos outros, o que é ainda mais grave. 

Ninguém vira santo por meio de fórmulas. Não é o que entra pela boca o que contamina o homem, como Jesus ensinou, mas o que sai da boca. 

Nossa conduta deve refletir o que somos, e por isso devemos cuidar muito mais do nosso coração do que das nossas aparências. 

Livro: O homem novo
Autor: José Herculano Pires

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