CAPÍTULO XVI
NÃO SE PODE SERVIR A
DEUS E A MAMON
Salvação dos ricos. – Guardar-se da avareza. - Jesus na casa
de Zaqueu. – Parábola do mau rico. – Parábola dos talentos. – Utilidade
providencial da fortuna. – Provas da riqueza e da miséria. – Desigualdade das
riquezas. – Instruções dos Espíritos: A verdadeira propriedade. – Emprego da
fortuna. – Desprendimento dos bens terrenos. – transmissão da fortuna.
INSTRUÇÕES DOS
ESPÍRITOS
A VERDADEIRA
PROPRIEDADE
9 – O homem não possui como seu senão aquilo que pode levar deste
mundo. O que ele encontra ao chegar e o que deixa ao partir, goza durante sua
permanência na Terra; mas, desde que é forçado a deixá-los, é claro que só tem
o usufruto, e não a posse real.
O que é, então, que ele possui? Nada do que se destina ao uso do corpo, e
tudo o que se refere ao uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as
qualidades morais. Eis o que ele traz e leva consigo, o que ninguém tem o poder
de tirar-lhe, e o que ainda mais lhe servirá no outro mundo do que neste.
Deste depende estar mais rico ao partir do que ao chegar neste
mundo, porque a sua posição futura depende do que ele houver adquirido no bem.
Quando um homem parte para
um país longínquo, arruma a sua bagagem com objetos de uso nesse país e não se
carrega de coisas que lhe seriam inúteis.
Fazei, pois, o mesmo, em relação à vida futura, aprovisionando-vos de tudo o
que nela vos poderá servir.
Ao viajante que chega a uma estalagem, se ele pode pagar, é dado um bom
alojamento; ao que pode menos, é dado um pior; e ao que nada tem, é deixado ao
relento. Assim acontece com o homem, quando chega ao mundo dos Espíritos: sua
posição depende de suas posses, com a diferença de que não pode pagar em ouro.
Não se lhe perguntará: Quanto tínheis na Terra? Que posição
ocupáveis? Éreis príncipe ou operário?
Mas lhe será perguntado: O que trazeis? Não será computado o valor
de seus bens, nem dos seus títulos, mas serão contadas as suas virtudes, e
nesse cálculo o operário talvez seja considerado mais rico do que o príncipe.
Em vão alegará o homem que,
antes de partir, pagou em ouro a sua entrada no céu, pois terá como resposta: as posições daqui não são compradas, mas
ganhas pela prática do bem; com o dinheiro podeis comprar terras, casas,
palácios; mas aqui só valem a qualidades do coração.
Sois rico dessas qualidades? Então, sejas bem-vindo, e teu é o primeiro
lugar, onde todas as venturas vos esperam.
Sois pobre? Ide para o último, onde sereis tratado na
razão de vossas posses.
M., Espírito
Protetor, Bruxelas, 1861
10
– Os bens da Terra pertencem a Deus, que os dispensa de acordo com a sua
vontade. O homem é apenas o seu usufrutuário, o administrador mais ou menos
íntegro e inteligente. Pertencem tão pouco ao homem, como propriedade
individual, que Deus frequentemente frustra todas as suas previsões, fazendo a
fortuna escapar daqueles mesmos que julgam possuí-la com os melhores títulos.
Direis talvez que isso se compreende em relação à fortuna
hereditária, mas não aquela que o homem adquiriu pelo seu trabalho. Não há
dúvida que, se há uma fortuna legítima, é a que foi adquirida honestamente,
porque uma propriedade só é legitimamente adquirida quando, para conquistá-la,
não se prejudicou a ninguém. Pedir-se-á conta de um centavo mal adquirido, em
prejuízo de alguém.
Mas por que
um homem conquistou por si mesmo a sua fortuna, terá alguma vantagem ao morrer?
Não são frequentemente inúteis os cuidados que ele toma para transmiti-la aos
descendentes? Pois se Deus não quiser que estes a recebam, nada prevalecerá
sobre a sua vontade. Poderá ele usar e abusar de sua fortuna, impunemente,
durante a vida, sem ter de prestar contas?
Não, pois ao
lhe permitir adquiri-la, Deus pode ter querido recompensar, durante esta vida,
os seus esforços, a sua coragem, a sua perseverança; mas se ele somente a
empregou para a satisfação dos seus sentidos e do seu orgulho, se ela se tornou
para ele uma causa de queda, melhor seria não a ter possuído.
Nesse caso,
ele perde de um lado o que ganhou de outro, anulando por si mesmo o mérito do
seu trabalho, e quando deixar a Terra, Deus lhe dirá que já recebeu a sua
recompensa.
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