CAPÍTULO XXVII
PEDI E OBTEREIS
Condição da Prece. – Eficácia da
Prece. – Ação da Prece. Transmissão do pensamento. – Preces inteligíveis. – Da
prece pelos mortos e pelos Espíritos sofredores. – Instruções dos Espíritos.
AÇÃO DA PRECE
TRANSMISSÃO DO PENSAMENTO
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A prece é
uma invocação: por ela nos pomos em relação mental com o ser a que nos
dirigimos.
·
Ela pode ter
por objeto um pedido, um agradecimento ou um louvor.
·
Podemos orar
por nós mesmos ou pelos outros, pelos vivos ou pelos mortos.
·
As preces dirigidas
a Deus são ouvidas pelos Espíritos encarregados da execução dos seus desígnios;
as que são dirigidas aos Bons Espíritos vão também para Deus.
·
Quando
oramos para outros seres, e não para Deus, aqueles nos servem apenas de
intermediários, de intercessores, porque nada pode ser feito sem à vontade de
De
O Espiritismo nos faz compreender a ação da prece, ao explicar a
forma de transmissão do pensamento, seja quando o ser a quem oramos atende ao
nosso apelo, seja quando o nosso pensamento eleva-se a ele. Para se compreender
o que ocorre nesse caso, é necessário imaginar os seres, encarnados e
desencarnados, mergulhados no fluido universal que preenche o espaço, assim
como na Terra estamos envolvidos pela atmosfera.
Esse fluido é impulsionado pela vontade, pois é o veículo do
pensamento, como o ar é o veículo do som, com a diferença de que as vibrações
do ar são circunscritas, enquanto as do fluido universal se ampliam ao
infinito. Quando, pois, o pensamento se dirige para algum ser, na terra ou no
espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se
estabelece de um a outro, transmitindo o pensamento, como o ar transmite o som.
A energia da corrente está na razão direta da energia do pensamento e da
vontade. É assim que a prece é ouvida pelos Espíritos, onde quer que eles se
encontrem, assim que os Espíritos se comunicam entre si, que nos transmitem as
suas inspirações, e que as relações se estabelecem à distância entre os
próprios encarnados.
Esta explicação se dirige sobretudo aos que não compreendem a utilidade da
prece puramente mística. Não tem por fim materializar a prece, mas tornar
compreensíveis os seus efeitos, ao mostrar que ela pode exercer ação direta e
positiva. Nem por isso está menos sujeita à vontade de Deus, juiz supremo em
todas as coisas, e único que pode dar eficácia à sua ação.
Pela prece...
·
O homem
atrai o concurso dos Bons Espíritos, que o vêm sustentar nas suas boas
resoluções e inspirar-lhe bons pensamentos.
·
Ele adquire
assim a força moral necessária para vencer as dificuldades e voltar ao caminho
reto, quando dele se afastou; e assim também podem desviar de si os males que
atrairia pelas suas próprias faltas.
·
Um homem,
por exemplo, sente a sua saúde arruinada pelos excessos que cometeu, e arrasta,
até o fim dos seus dias, uma vida de sofrimento. Tem o direito de queixar-se,
se não conseguir a cura? Não, porque poderia encontrar na prece a força para
resistir às tentações.
12 – Se
dividirmos os males da vida em duas categorias, sendo uma a dos que o homem não
pode evitar, e outra a das atribuições que ele mesmo provoca, por sua incúria e
pelos seus excessos. (Ver cap. V,
nº 4), veremos que esta última é muito mais numerosa que a
primeira. Torna-se pois evidente que o homem é o autor da maioria das suas
aflições, e que poderia poupar-se, se agisse sempre com sabedoria e prudência.
É certo, também, que essas misérias resultam das nossas infrações às leis de
Deus, e que, se as observássemos rigorosamente, seríamos perfeitamente felizes.
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Se não
ultrapassássemos os limites do necessário, na satisfação das nossas exigências
vitais, não sofreríamos as doenças que são provocadas pelos excessos, e as
vicissitudes decorrentes dessas doenças.
·
Se
limitássemos as nossas ambições, não temeríamos a ruína. Se não quiséssemos
subir mais alto do que podemos, não recearíamos a queda.
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Se fossemos
humildes, não sofreríamos as decepções do orgulho abatido.
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Se
praticássemos a lei de caridade, não seríamos maledicentes, nem invejosos, nem
ciumentos, e evitaríamos as querelas e as dissensões.
·
Se não
fizéssemos nenhum mal a ninguém, não teríamos de temer as vinganças, e assim
por diante.
Admitamos que o homem nada pudesse fazer contra os outros males;
que todas as preces fossem inúteis para livrar-se deles; já não seria muito,
poder afastar todos os que decorrem da sua própria conduta? Pois bem: neste
caso concebe-se facilmente a ação da prece, que tem por fim atrair a inspiração
salutar dos Bons Espíritos, pedir-lhes a força necessária para resistirmos aos
maus pensamentos, cuja execução pode nos ser funesta. E, para nos atenderem
nisto, não é o mal que eles afastam de
nós, mas é a nós que eles afastam do pensamento que nos pode causar o mal; não
embaraçam em nada os desígnios de Deus, nem suspendem o curso das leis
naturais, mas é a nós que impedem de infringirmos as leis, ao orientarem o
nosso livre arbítrio. Mas o fazem sem o perceberem, de maneira
oculta, para não prejudicarem a nossa vontade.
O homem se encontra então na posição de quem solicita bons
conselhos e os segue, mas conservando a liberdade de segui-los ou não. Deus
quer que assim seja, para que ele tenha a responsabilidade dos seus atos e para
lhe deixar o mérito da escolha entre o bem e o mal. É isso o que o homem sempre
receberá, se pedir com fervor, e ao que se podem sobretudo aplicar estas
palavras: “Pedi e obtereis”.
A eficácia da prece, mesmo reduzida a essas proporções, não daria imenso
resultado? Estava reservado ao Espiritismo provar a sua ação, pela revelação
das relações entre o mundo corpóreo e o mundo espiritual. Mas não se limitam a
isso os seus efeitos. A prece é recomendada por todos os Espíritos. Renunciar a
ela é ignorar a bondade de Deus; é rejeitar para si mesmo a sua assistência; e
para os outros, o bem que se poderia fazer.
13 – Ao atender o
pedido que lhe é dirigido, Deus tem frequentemente em vista recompensar a
intenção, o devotamento e a fé daquele que ora. Eis porque a prece do homem de
bem tem mais merecimento aos olhos de Deus, e sempre maior eficácia. Porque o
homem vicioso e mau não pode orar com o fervor e a confiança que só o
sentimento da verdadeira piedade pode dar. Do coração do egoísta, daquele que
só ora com os lábios, não poderiam sair mais do que palavras, e nunca os
impulsos da caridade, que dão à prece toda a sua força. Compreende-se isso tão
bem que, instintivamente, preferimos recomendar-nos às preces daquela cuja
conduta nos parece que deve agradar a Deus, pois que são melhores escutados.
14 – Se a prece
exerce uma espécie de ação magnética, podemos supor que o seu efeito estivesse
subordinado à potência fluídica. Entretanto, não é assim. Desde que os
Espíritos exercem esta ação sobre os homens, eles suprem, quando necessário, a
insuficiência daquele que ora, seja através de uma ação direta em seu nome, seja ao lhe
conferirem momentaneamente uma força excepcional, quando ele for julgado digno
desse benefício ou quando isso possa ser útil.
O homem que não se julga suficientemente bom para exercer uma influência
salutar, não deve deixar de orar por outro, por pensar que não é digno de ser
ouvido. A consciência de sua inferioridade é uma prova de humildade, sempre
agradável a Deus, que leva em conta a sua intenção caridosa. Seu fervor e sua
confiança em Deus constituem o primeiro passo do seu retorno ao bem, que os
Bons Espíritos se sentem felizes de estimular. A prece que é repelida é a do orgulhoso, que só tem fé no seu poder e nos
seus méritos, e julga poder substituir-se à vontade do Eterno.
15 – O poder da
prece está no pensamento, e não depende nem das palavras, nem do lugar, nem do
momento em que é feita. Pode-se, pois, orar em qualquer hora, a sós ou em
conjunto. A influência do lugar ou do tempo depende das circunstâncias que
possam favorecer o recolhimento. A prece em
comum tem ação mais poderosa, quando todos os que a fazem se associam de
coração num mesmo pensamento e têm a mesma finalidade, porque então
é como se muitos clamassem juntos e em uníssono. Mas que importaria estarem
reunidos em grande número, se cada qual agisse isoladamente e por sua própria
conta? Cem pessoas reunidas podem orar como egoístas, enquanto duas ou três,
ligadas por uma aspiração comum, orarão como verdadeiros irmãos em Deus, e sua
prece terá mais força do que a daquelas cem. (Ver cap.
XXVIII, nº 4 e 5 ).