QUE TIPO DE LINGUAGEM DEVE-SE USAR COM OS ESPÍRITOS?
O grau de superioridade ou de inferioridade dos Espíritos indica naturalmente o tom em que se lhes deve falar.
É evidente que quanto mais elevados, mais merecem o nosso respeito, a nossa consideração e a nossa submissão. Não devemos tratá-los com menos deferência do que o faríamos se estivessem vivos, mas por outros motivos: na vida terrena consideraríamos o seu cargo e a sua posição social; no mundo dos Espíritos só temos de respeitar a sua superioridade moral. Essa própria elevação os coloca acima das puerilidades das nossas formas bajulatórias.
Não é com palavras que podemos conquistar-lhes a benevolência, mas pela sinceridade dos sentimentos. Seria ridículo, portanto, dar-lhes os títulos que usamos na distinção das posições e que em vida poderiam agradar-lhes a vaidade. Se forem realmente superiores, não somente não ligam a isso mas até se desagradam. Um bom pensamento os agrada mais do que os títulos mais lisonjeiros. De outra maneira eles não estariam acima da Humanidade. O Espírito de um venerável sacerdote, que foi na Terra um príncipe da Igreja, homem de bem, praticante do ensino de Jesus, respondeu a quem o evocava pelo título de monsenhor. “Devias pelo menos dizer ex-monsenhor, pois aqui só há um Senhor que é Deus. É bom saber que vejo aqui os que se ajoelhavam diante de mim na Terra e diante deles me inclino”.(6)
No tocante aos Espíritos inferiores, seu próprio caráter determina a linguagem que devemos empregar. Há entre eles os que, embora inofensivos e até mesmo benévolos, são levianos, ignorantes, estouvados. Tratá-los igual aos Espíritos sérios, como o fazem algumas pessoas, seria o mesmo que nos inclinarmos diante de um escolar ou perante um asno com barrete de doutor. O tom familiar não lhes causa estranheza e nem os melindra; pelo contrário, é o que lhes agrada.
Entre os Espíritos inferiores há os que são infelizes. Sejam quais forem às faltas que expiam, seus sofrimentos merecem tanto mais a nossa piedade, quanto ninguém escapa a estas palavras do Cristo. “Aquele que está sem pecado atire a primeira pedra”. A benevolência com que os tratamos é um consolo para eles. Na falta de simpatia, que encontrem em nós a indulgência que desejaríamos para nós mesmos.
Os Espíritos que demonstram a sua inferioridade pelo cinismo da linguagem, pelas mentiras, pelos sentimentos baixos e os conselhos pérfidos são certamente menos dignos do nosso interesse do que aqueles cujas palavras atestam o seu arrependimento, mas devemos tratá-los pelo menos com a piedade que nos inspiram os grandes criminosos. O meio de os reduzir ao silêncio é nos mostrarmos superiores a eles, pois só estabelecem intimidade com pessoas de que nada tenham a temer. Porque os Espíritos perversos reconhecem a superioridade dos homens de bem, como reconhecem a dos Espíritos superiores.
Em resumo: seria irreverente tratarmos os Espíritos superiores de igual para igual, como seria ridículo dispensarmos a todos, sem exceção, a mesma deferência.
Tenhamos veneração pelos que a merecem, reconhecimento pelos que nos protegem e assistem, e para todos os outros a benevolência de que talvez nós mesmos necessitemos um dia. Descobrindo o mundo incorpóreo aprendemos a conhecê-lo e esse conhecimento deve regular as nossas relações com os seus habitantes. Os Antigos, na sua ignorância, levantaram altares a eles. Para nós, não passam de criaturas mais ou menos perfeitas e só elevamos altares a Deus.
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