O olhar sobre o problema é algo que muda todo o entendimento sobre determinados fatos. Se pensarmos que para termos um inimigo, é preciso antes de tudo, que haja uma relação de afetividade, que por alguma razão, que muitas vezes desconhecemos, esse afeto foi ferido, seja lá por qual motivo for, e que, a partir daí, ganhamos um inimigo, entendemos que o inimigo pode realmente ser aquele amigo ferido em um dado momento.
Quando a gente consegue alcançar essa compreensão, passamos a ser mais indulgentes, sabendo que nem sempre o homem é todo mal, e nem sempre o homem é todo bem. Somos parte dessas duas realidades que se expressam motivadas por determinadas causas. E essas causas, residem no fato de sermos espíritos em processo de evolução, dotados de tamanhas imperfeições, mas que em algum momento, estaremos prontos a sair desses estágios mais primitivos de nossa existência.
Seja encarnado ou desencarnado, o Espírito em processo de evolução, caminha para o reconhecimento de suas imperfeições afim de se melhorar a cada dia, rumo ao seu destino. Entretanto, em se tratando de espíritos desencarnados, é preciso pensar que a morte não o livre senão, de seu envoltório corporal, mas que o espírito do desencarnado pode estar vinculado ao seu, mesmo depois de ter deixado a terra. Tudo depende de suas motivações junto aos seus desafetos.
Por essa razão, é que os encarnados, enquanto estiverem na oportunidade da vida na carne, devem procurar encontrar um meio de viver em harmonia com seus amigos, familiares, mas sobretudo, buscarem um entendimento com seus desafetos, no sentido de neutralizar os conflitos, e os consequentes sentimentos de ódio, raiva, desejo de vingança, etc. Para isso, é preciso que estejamos revestidos de sentimentos nobres do entendimento, pautados na humildade para reconhecer a sua participação no processo de conflito, e buscar o outro para esse entendimento fraterno e amigável; disponibilidade para o perdão verdadeiro, que traz para perto de si, aquele que um dia o ofendeu, sem mesmo lembrar da ofensa; amor para a busca e o acolhimento na medida de uma relação sadia, sem conflitos ou desconfiança, porque é preciso que atinjamos um nível de evolução espiritual que nos permita cumprir a máxima do Cristo: "amai os vossos inimigos".
Não há coração tão perverso que não seja tocado de bons procedimentos, mesmo inconscientemente (ALLAN KARDEC, 1864). Essa afirmativa nos remete a raciocinar sobre os nossos amigos feridos ou inimigos desencarnados sob a perspectiva do amor, do cuidar, e porque não, da caridade? Pois, mesmo diante de intensos conflitos, que muitas vezes, se estendem por diversas vidas, quando uma das partes, humildemente, reconhece a sua responsabilidade, ela consegue tocar o outro, redirecionando ou lançando um novo olhar para o problema, e da mesma forma que de um amigo, conseguimos fazer um inimigo com a nossa animosidade, também conseguimos fazer de um inimigo um amigo, com a nossa amorosidade.
Os inimigos desencarnados manifestam seu ódio, suas perseguições pelas obsessões e subjugações, ocasionando as grandes provas sobre as quais, as pessoas estão submetidas na vida. A partir daí, é que surgem as dificuldades e os obstáculos que a maioria das pessoas acabam por enfrentar em suas vidas, além é claro, daqueles ocasionados por elas mesmas, por meio de suas respectivas escolhas com o uso de seus livre-arbítrios. Viver implica em escolhas diárias e cotidianas, que nos direcionam e orientam em direção ao nosso destino. Em virtude, de não termos alcançado ainda, um patamar de evolução espiritual e moral ideal, nos perdemos na rota do amor e da caridade, e acabamos nos colocando entre vítimas e algozes, nos caminhos da vida.
RESIGNAÇÃO
Entretanto, essas provas devem ser vistas e aceitas com a RESIGNAÇÃO (aceitação daquilo que não pode ser mudado) e a RESILIÊNCIA (poder de recuperação, dar a volta por cima) necessárias ao enfrentamento dessas dificuldades. Quando compreender que os espíritos são pessoas desencarnados que já viveram na Terra como nós, e que por hora, orbitam em torno na Terra porque vibram na mesma sintonia dos encarnados dessa Terra de provas e expiações, aceitamos pelo entendimento e compreensão, que os espíritos desencarnados são os espíritos encarnados de outrora, e que nós, espíritos encarnados, somos os espíritos desencarnados de outrora também.
Passamos a compreender também que não há demônio , esse bicho cabeludo que andam pintando por aí, como se fosse de outra gênese, que não a do Espírito, ou que não a do homem. Assim como entre encarnados há homens animalizados, capazes das maiores atrocidades, sobre os quais ainda reinam um homem primitivo, possuído por instintos de agressividade constante, por não terem atingido um nível de esclarecimento e evolução que o tornasse capaz de amar, também há espíritos desencarnados ainda animalizados por essas mesmas características, de tal sorte, que o faz agir como bicho. Ambos nas fieiras da reencarnação, necessitando de oportunidades para encarnar, afim de evoluir, aprender, e se espiritualizar. "O Espiritismo vem provar que esses demônios não são outros senão as almas dos homens perversos, que não se despojaram ainda dos instintos materiais; que não se pode apaziguá-los senão pelo sacrifício de seu ódio, quer dizer, pela caridade..."(ALLAN KARDEC, 1864)
Então fica a dica para todos os que vivem em conflitos, brigando e lutando por coisas alheias ao ser, e voltadas para o ter, que é na vida de encarnado que temos as oportunidades de apaziguar nossos conflitos internos e externos, e nos entendermos com aqueles com os quais menos afinidades temos, mais conflitos causamos, mais dificuldades enfrentamos.
Cada ponto de dificuldade, conflito, desafeto que permeia nossas vidas, devem ser olhados, cuidadosamente sob o olhar da indulgência, humildade e caridade, mas sobretudo, sobre o olhar do amor, lembrando que esse desafeto hoje, pode ter sido, o maior de todos os seus afetos por diversas vidas.
Por Alessandra Uzêda
Reflexão Evangelho no Lar de 16/06/2019 21 hs
O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XII - Amai os vossos Inimigos - Os inimigos desencarnados.
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