Senhor!
Entre aqueles que se confiam à Tua proteção, estou eu também, servidor humilde a quem mandaste
extinguir o flagelo da fome.
Partilhando o movimento daqueles que Te servem, fiz hoje igualmente o meu giro.
Vi-me frequentemente
detido, em lares faustosos, cooperando nas alegrias da mesa farta, mas vi pobres
mulheres que me estendiam, debalde, as mãos!...
Vi crianças esquálidas que me olhavam ansiosas, como se estivessem fitando um tesouro perdido.
Encontrei humanos tristes, transpirando suor, que me contemplavam agoniados, rogando em
silêncio para que lhes socorresse os filhinhos largados ao extremo infortúnio...
Escutei doentes que não precisavam tanto de remédio, mas de mim, para que pudessem atender
ao estômago torturado!...
Vi a penúria cansada de pranto e reparei, em muitos corações desvalidos, mudo desespero por
minha causa.
Entretanto, Senhor, quase sempre estou encarcerado por aquelas mesmas criaturas que Te dizem
honrar.
Falam em Teu nome, confortadas e distraídas na moldura do supérfluo, esquecendo que caminhaste
no mundo, sem reter uma pedra em que repousar a cabeça.
Elogiam-Te a bondade e exaltam-Te a glória, sem perceberem junto delas, seus próprios irmãos
fatigados e desnutridos.
E, muitas vezes, depois de formosas dissertações em torno de Teus ensinos, aprisionam-me em
gavetas e armários, quando não me trancam sob a tela colorida de vitrines custosas ou no recinto
escuro dos armazéns.
Ensina-lhes, Senhor, nas lições da caridade, a dividir-me por amor, para que eu não seja motivo à
delinquência.
E, se possível, multiplica-me, por misericórdia, outra vez, a fim de que eu possa aliviar todos os
famintos da Terra, porque um dia, Senhor, quando ensinavas o humano a orar, incluíste-me entre
as necessidades mais justas da vida:
“O pão nosso de cada dia dai-nos hoje”.
Espírito: MEIMEI
Médium: Francisco Cândido Xavier
Livro: "O Espírito da Verdade" EDIÇÃO FEB
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