VOCÊ SABIA, QUE AS QUALIDADES MORAIS
DOS MÉDIUNS, NÃO DETERMINA
O TIPO DE COMUNICAÇÃO
QUE ELE DÁ?
Um
médium dotado de boas qualidades pode transmitir respostas falsas ou grosseiras
também. Não se conhece todos os
segredos da sua alma. Além disso, sem ser vicioso ele pode ser leviano e
frívolo. E pode também necessitar de uma lição, para que se mantenha vigilante.
Deve-se, portanto, questionar-se sobre o porquê de tais comunicações, de seu
propósito e finalidade.
Os Espíritos superiores permitem que pessoas dotadas
de grande mediunidade, e que poderiam fazer muito bem, se tornem instrumentos
do erro, porque eles procuram influenciá-las, mas
quando elas se deixam arrastar por um mau caminho, não as impedem devido ao
fato de que todos são dotados de Livre-Arbítrio e, portanto, escolhem o seu
próprio caminho. É por isso que delas se servem com repugnância, porque a
verdade não pode ser interpretada pela mentira.
8. É absolutamente impossível receber boas comunicações por um médium imperfeito?
— Um médium imperfeito pode às vezes obter boas coisas, porque, se tem uma boa faculdade, os bons Espíritos podem servir-se dele na falta de outro, em determinada circunstância. Mas não o fazem sempre, pois quando encontram outro que melhor lhes convém, lhe dão preferência.
Observação de Kardec: Deve-se notar que os Espíritos, ao considerarem que um médium deixa de ser bem assistido, tornando-se, por suas imperfeições, presa de Espíritos enganadores, quase sempre provocam circunstâncias que revelam os seus defeitos e o afastam das pessoas sérias, bem intencionadas, de cuja boa fé poderiam abusar. Nesse caso, sejam quais forem as suas faculdades, nada se tem a lamentar.
9. Qual seria o médium que poderíamos considerar perfeito?
— Perfeito? É pena, mas bem sabes que não há perfeição sobre a Terra. Se não fosse assim, não estarias nela. Digamos antes bom médium, e já é muito, pois são raros. O médium perfeito seria aquele que os maus Espíritos jamais ousassem fazer uma tentativa de enganar. O melhor é o que, simpatizando com os bons Espíritos, tem sido enganado menos vezes.
10. Se ele simpatiza apenas com os bons Espíritos, como estes permitem que seja enganado?(2)
— Os Espíritos bons permitem que os melhores médiuns sejam às vezes enganados, para que exercitem o seu julgamento e aprendam a discernir o verdadeiro do falso. Além disso, por melhor que seja um médium, jamais é tão perfeito que não tenha um lado fraco, pelo qual possa ser atacado. Isso deve servir-lhe de lição. As comunicações falsas que recebe de quando em quando são advertências para evitar que se julgue infalível e se torne orgulhoso. Porque o médium que recebe as mais notáveis comunicações não pode se vangloriar mais do que o tocador de realejo, que basta virar a manivela do seu instrumento para obter belas árias.
11. Quais as condições necessárias para que a palavra dos Espíritos superiores nos chegue sem qualquer alteração?
— Desejar o bem e repelir o egoísmo e o orgulho: ambos são necessários.
12. Se a palavra dos Espíritos superiores só nos chega pura em condições tão difíceis, isso não é um obstáculo à propagação da verdade?
— Não, porque a luz chega sempre ao que a deseja receber. Aquele que deseja esclarecer-se deve fugir das trevas, e as trevas estão na impureza do coração. Os Espíritos que consideras como personificações do bem não atendem de boa vontade aos que têm o coração manchado de orgulho, de cupidez e falta de caridade. Que se livrem, pois, de toda a vaidade humana, os que desejam esclarecer-se, e humilhem a sua razão ante o poder infinito do Criador. Será essa a melhor prova de sua sinceridade. E todos podem cumprir essa condição.
(3)
227. Se o médium, quanto à execução, é apenas um instrumento, no tocante à moral exerce grande influência. Porque o Espírito comunicante identifica-se com o Espírito do médium, e para essa identificação é necessário haver simpatia entre eles, e se assim podemos dizer, afinidade.
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A alma exerce sobre o Espírito comunicante uma espécie de atração ou de repulsão, segundo o grau de semelhança ou dessemelhança entre eles. Ora, os bons têm afinidade com os bons e os maus com os maus, de onde se segue que as qualidades morais do médium têm influência capital sobre a natureza dos Espíritos que se comunicam por seu intermédio.
Se o médium é de baixa moral, os Espíritos inferiores se agrupam em torno dele e estão sempre prontos a tomar o lugar dos bons Espíritos a que ele apelou. As qualidades que atraem de preferência os Espíritos bons são: a bondade, a benevolência, a simplicidade de coração, o amor ao próximo, o desprendimento das coisas materiais. Os defeitos que os afastam são: o orgulho, o egoísmo, a inveja, o ciúme, o ódio, a cupidez, e sensualidade e todas as paixões pelas quais o homem se apega à matéria.
228. Todas as imperfeições morais são portas abertas aos Espíritos maus, mas a que eles exploram com mais habilidade é o orgulho, porque é essa a que menos a gente se confessa a si mesmo. O orgulho tem posto a perder numerosos médiuns dotados das mais belas faculdades, que, sem ele, seriam instrumentos excelentes e muito úteis.
Tornando-se presa de Espíritos mentirosos, suas faculdades foram primeiramente pervertidas, depois aniquiladas, e diversos se viram humilhados pelas mais amargas decepções.
O orgulho se manifesta, nos médiuns, por sinais inequívocos, para os quais é necessário chamar a atenção, porque é ele um dos elementos que mais devem despertar a desconfiança sobre a veracidade das suas comunicações. Começa por uma confiança cega na superioridade das comunicações recebidas e na infalibilidade do Espírito que as transmite. Disso resulta um certo desdém por tudo o que não procede deles, que julgam possuir o privilégio da verdade.
(5)
O prestígio dos grandes nomes com que se enfeitam os Espíritos que se dizem seus protetores os deslumbra. E como o seu amor próprio sofreria se tivessem de se confessar enganados, repelem toda espécie de conselhos e até mesmo os evitam, afastando-se dos amigos e de quem quer que lhes possam abrir os olhos. Se concordarem em ouvir essas pessoas, não dão nenhuma importância às suas advertências, porque duvidar da superioridade do Espírito que os guia seria quase uma profanação.
Chocam-se com a menor discordância, com a mais leve observação crítica, e chegam às vezes a odiar até mesmo as pessoas que lhes prestam serviços.
Favorecendo esse isolamento provocado pelos Espíritos que não querem ter contraditores esses mesmos Espíritos tudo fazem para os entreter nas suas ilusões, levando-os ingenuamente a considerar os maiores absurdos como coisas sublimes.
Assim: confiança absoluta na superioridade das comunicações obtidas, desprezo pelas que não vierem por seu intermédio, consideração irrefletida pelos grandes nomes, rejeição de conselhos, repulsa a qualquer crítica, afastamento dos que podem dar opiniões desinteressadas, confiança na própria habilidade apesar da falta de experiência – são essas as características dos médiuns orgulhos.
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Necessário lembrar ainda que o orgulho é quase sempre excitado no médium pelos que dele se servem. Se possui faculdades um pouco além do comum, é procurado e elogiado, julgando-se indispensável e logo afetando ares de importância e desdém, quando presta o seu concurso. Já tivemos de lamentar, várias vezes, os elogios feitos a alguns médiuns, com a intenção de encorajá-los.
229. Ao lado desse quadro,vejamos o do médium verdadeiramente bom, em que se pode confiar.
Suponhamos, primeiro, uma facilidade de execução suficientemente grande para permitir que os Espíritos se comuniquem livremente, sem o embaraço de qualquer dificuldade material. Isso posto, o que mais importa considerar é a natureza dos Espíritos que o assistem habitualmente, e para tanto o que mais nos deve interessar não são os nomes, mas a linguagem. Jamais ele deve esquecer-se de que a simpatia que conseguir entre os Espíritos bons estará na razão dos esforços para afastar os maus. Convicto de que a sua faculdade é um dom que lhe foi concedido, para o bem, não se prevalecerá dela de maneira alguma, nem se atribuirá qualquer mérito por possuí-la. Recebe como uma graça às boas comunicações, devendo esforçar-se por merecê-las através da sua bondade, da sua benevolência e da sua modéstia. O primeiro se orgulha de suas relações com os Espíritos superiores; este se humilha, por se considerar sempre indigno desse favor.
230. A instrução, sobre este assunto, nos foi dada por um Espírito de que já reproduzimos muitas comunicações:
Já o dissemos: os médiuns, como médiuns, exercem influência secundária nas comunicações dos Espíritos. Sua tarefa é a de uma máquina elétrica de transmissão telegráfica entre dois lugares distantes da Terra. Assim, quando queremos ditar uma comunicação, agimos sobre o médium como o telegrafista sobre o aparelho. Quer dizer, da mesma maneira que o tique do telégrafo vai traçando, a milhares de léguas, numa tira de papel, os sinais reprodutores do despacho, nós também nos comunicamos através das distâncias imensuráveis que separam o mundo visível do mundo invisível, o mundo imaterial do mundo encarnado, aquilo que desejamos vos ensinar por meio do aparelho mediúnico.
Mas, assim também como as influências atmosféricas freqüentemente atuam sobe as transmissões telegráficas e as perturbam, a influência moral do médium age algumas vezes sobre a transmissão dos nossos despachos de além túmulo e os perturbam, por que somos obrigados a fazê-los atravessar um meio contrário. Entretanto, na maioria das vezes essa influência é anulada pela nossa energia e a nossa vontade, e nenhuma perturbação se verifica. Com efeito, os ditados de elevado alcance filosófico, as comunicações de moralidade perfeita são transmitidas às vezes por médiuns pouco apropriados a essa função superior, enquanto de outro lado, comunicações pouco edificantes chegam às vezes por médiuns que se envergonham de lhes servir de condutores.
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De maneira geral, pode-se afirmar que os Espíritos similares se atraem, e que raramente os Espíritos das plêiades elevadas se comunicam por mal condutores, quando podem dispor de bons aparelhos mediúnicos, de bons médiuns, numa palavra.
Os médiuns levianos, pouco sérios, chamam, pois, os Espíritos da mesma natureza. É por isso que as suas comunicações se caracterizam pela banalidade,a frivolidade, as idéias truncadas e quase sempre muito heterodoxas, falando-se espiritualmente.
(8) Certamente eles podem dizer e dizem às vezes boas coisas, mas é precisamente nesse caso que é preciso submetê-las a um exame severo e escrupuloso. Porque, no meio das boas coisas, certos Espíritos hipócritas insinuam com habilidade e calculada perfídia fatos imaginados, asserções mentirosas, como fim de enganar os ouvintes de boa fé.
Deve-se então eliminar sem piedade toda palavra e toda frase equívocas, conservando no ditado somente o que a lógica aprova ou o que a Doutrina já ensinou.
As comunicações dessa natureza só são perigosas para os espíritas que agem isolados, os grupos recentes ou pouco esclarecidos, porque, nas reuniões de adeptos mais adiantadas e experientes, é inútil a gralha
de se adornar com penas de pavão, pois será sempre impiedosamente descoberta.
(9)
Não falarei dos médiuns que se comprazem em solicitar e receber comunicações obscenas. Deixá-los que se comprazam na sociedade dos Espíritos cínicos. Aliás, as comunicações dessa espécie exigem por si mesmas a solidão e o isolamento. Não poderiam, em qualquer circunstância, senão provocar o desdém e a repugnância entre os membros de grupos filosóficos e sérios.
Mas onde a influência moral do médium se faz realmente sentir é quando este substitui pelas suas pessoas aquelas que os Espíritos se esforçam por lhe sugerir. É ainda quando ele tira, da sua própria imaginação, as teorias fantásticas que ele mesmo julga, de boa fé, resultar de uma comunicação intuitiva. Nesse caso, há mil possibilidades contra uma de que isso não passe de reflexo do Espírito pessoal do médium.
Acontece mesmo este fato: a mão do médium se movimenta às vezes quase mecanicamente, impulsionada por um Espírito secundário e zombeteiro.
(10)
É essa a pedra de toque das imaginações ardentes. Porque, levados pelo ardor das suas próprias idéias, pelos artifícios dos seus conhecimentos literários, os médiuns desprezam o ditado modesto de um Espírito prudente e, deixando a presa pela sombra, os substituem por uma paráfrase empolada. Contra esse temível escolho se chocam também as personalidades ambiciosas que, na falta das comunicações que os Espíritos bons lhe recusam, apresentam as suas próprias obras como sendo deles. Eis porque é necessário que os dirigentes de grupos sejam dotados de tato apurado e de rara sagacidade, para discernir as comunicações autênticas e ao mesmo tempo não ferir os que se deixam iludir.
Na dúvida, abstém-te, diz um dos vossos antigos provérbios. Não admitais, pois, o que não for para vós de evidência inegável. Ao aparecer uma nova opinião, por menos que vos pareça duvidosa, passai-a pelo crivo da razão e da lógica. O que a razão e o bom senso reprovam, rejeitai corajosamente. Mais vale rejeitar dez verdades do que admitir uma única mentira, uma única teoria falsa
(11).
Com efeito, sobre essa teoria podereis edificar todo um sistema que desmoronaria ao primeiro sopro da verdade, como um monumento construído sobre a areia movediça. Entretanto, se rejeitais hoje certas verdades, porque não estão para vós clara e logicamente demonstradas, logo um fato chocante ou uma demonstração irrefutável virá vos afirmar a sua autenticidade.
Lembrai-vos, entretanto, ó espíritas! De que nada é impossível para Deus e para os Espíritos bons, senão a injustiça e a iniqüidade.
O Espiritismo já está hoje bastante divulgado entre os homens, e já moralizou suficientemente os adeptos sinceros da sua doutrina, para que os Espíritos não se vejam mais obrigados a utilizar maus instrumentos, médiuns imperfeitos. Se agora, portanto, um médium, seja qual for, por sua conduta ou seus costumes, por seu orgulho, por sua falta de amor e de caridade, der um motivo legítimo de suspeição, rejeitai, rejeitai as suas comunicações, porque há uma serpente oculta na relva. Eis a minha conclusão sobre a influência moral dos médiuns. – ERASTO.
O verbo simpatizar é aplicado neste caso com o sentido de ter afinidade, ou como diríamos hoje, de sintonizar. (N. do T.)
Numerosos exemplos dessa fascinação podem ser observados entre nós com o aparecimento de médiuns que se arrogam missões renovadoras, servindo de instrumento a Espíritos mistificadores, lançando mensagens e livros que confundem o público, e até mesmo atirando-se à crítica leviana da Codificação. Os principiantes devem ler com a maior atenção este capítulo, que lhes servirá de escudo contra os embustes dessa espécie, permitindo-lhes perceber facilmente as características aqui indicadas, nos casos concretos com que se defrontem. (N. do T.)
Notar a expressão: idéias heterodoxas falando espiriticamente, que se refere à necessidade de preservar a ortodoxia doutrinária, ou seja, a opinião certa, contra asopiniões estranhas que os Espíritos perturbadores procuram introduzir no meio espírita. (N. do T.)
As comunicações dessa natureza fazem escola em nosso país e na América, inteiramente infestada de doutrinas imaginosas e portanto pessoais, formuladas por um Espírito através de determinado médium ou por um pretenso profeta que lhe serve de instrumento. Só a falta de estudo deste livro, como se vê, pode justificar essa aberração no meio espírita, onde as instruções aqui dadas deviam ser suficientes para afastar essas mistificações. (N. do T.)
As experiências psicológicas de escrita automática provaram que inconsciente dos sujeitos pode movimentar-lhes a mão se ela fosse impulsionada por um Espírito. Esse caso é conhecido nos estudos espíritas como anímico. O Espírito do médium, portanto a sua alma, pode comunicar-se como qualquer outro Espírito. Da mesma maneira, um Espírito zombeteiro pode agir livremente sobre o médium, ou em conjugação com a sua própria vontade, para escrever o que ele deseja, como se fosse ditado por um Espírito elevado. Os espíritas experientes sabem discernir com facilidade a comunicação anímica da espírita. No caso acima tratado, o médium se julga intuído e portanto está consciente do que escreve, mas a sua mão é impulsionada pelo Espírito zombeteiro que se diverte ao fazê-lo acreditar que está sob a ação de um Espírito elevado. Como se vê, a prática mediúnica exige o estudo sistemático deste livro. (N. do T.)
Essa regra de ouro do Espiritismo, dada, como se vê, pelo Espírito Erasto, discípulo do apóstolo Paulo, espalhou-se como sendo o próprio Kardec e em forma diferente, ou seja: Mais vale rejeitar noventa e nove verdades do que aceitar uma mentira. Foi por esse motivo que a grifamos no texto. Trata-se, realmente, de uma regra que deve ser constantemente observada nos trabalhos e nos estudos espíritas. (N. do T.)