LIVRO
QUARTO
ESPERANÇAS
E CONSOLAÇÕES
CAPÍTULO
I- PENAS E GOZOS TERRENOS
IV- Uniões Antipáticas
(Questão 939 a 940)
Desde que os Espíritos simpáticos são levados a se
unir, pode-se explicar que entre os encarnados a afeição frequentemente
exista apenas de um lado e o amor sincero seja recebido com indiferença e mesmo
com repulsa.
Não
compreendes, então, que seja uma punição, embora passageira? Além disso,
quantos há que pensam amar perdidamente porque julgam apenas as aparências, e,
quando são obrigados a viver em comum, não tardam a reconhecer que se tratava
somente de uma paixão material! Não é suficiente estar enamorado de uma pessoa
que vos agrada e que supondes dotada de belas qualidades; é vivendo realmente
com ela que a podereis apreciar. Quantas uniões, por outro lado, que a
princípio pareciam incompatíveis e com o correr do tempo, quando ambos se
conheceram melhor, se transformaram num amor terno e durável porque baseado na
estima recíproca! É necessário não esquecer que o Espírito é quem ama, e não o
corpo, e que, dissipada a ilusão material, o Espírito vê a realidade.
Há
duas espécies de afeição: a do corpo e a da alma, e freqüentemente se toma uma
pela outra. A afeição da alma, quando pura e simpática, é duradoura; a do corpo
é perecível; eis porque os que se julgam amar com um amor eterno acabam se
odiando, quando passa a ilusão.
A falta de simpatia entre os seres destinados a
viver juntos é igualmente uma fonte de sofrimentos, tanto mais amarga quando
envenena toda a existência. Muito amarga, de fato; mas é
uma dessas infelicidades de que, na maioria das vezes, sois a primeira causa.
Em primeiro lugar, as vossas leis são erradas, pois acreditais vós que Deus vos
obriga a viver com aqueles que vos desagradam? Depois, nessas uniões procurais
quase sempre mais a satisfação do vosso orgulho e da vossa ambição do que a
felicidade de uma afeição mútua. E sofreis, então, apenas a consequência dos
vossos preconceitos.
Nesse caso haverá quase sempre uma vítima inocente, e isso é para ela uma dura expiação, mas a responsabilidade de sua
infelicidade recairá sobre os que a causaram. Se a luz da verdade tiver
penetrado em sua alma, ela se consolará com a fé no futuro. De resto, à medida
que os preconceitos se enfraquecerem, desaparecerão também as causas das
infelicidades íntimas.
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