terça-feira, 9 de junho de 2015

PERISPÍRITO E SUA NATUREZA - de O livro dos Médiuns , Allan kardec

                                 PERISPÍRITO E SUA NATUREZA

Durante a sua união com o corpo ou após a separação, a alma jamais se separa do seu perispírito.
 Já se disse que o Espírito é uma flama, uma centelha.(3) Isto se aplica ao Espírito propriamente dito, como princípio intelectual e moral, ao qual não saberíamos dar uma forma determinada. Mas, em qualquer de seus graus, ele está sempre revestido de um invólucro ou perispírito, cuja natureza se eteriza à medida que ele se purifica e se eleva na hierarquia. 
Dessa maneira, a ideia de forma é para nós inseparável da ideia de Espírito, a ponto de não concebermos este sem aquela. O perispírito, portanto, faz parte integrante do espírito, como o corpo faz parte integrante do homem. Mas o perispírito sozinho não é o homem, pois o perispírito não pensa. Ele é para o Espírito o que o corpo é para o Homem: o agente ou instrumento de sua atividade.
 A forma do perispírito é a forma humana, e quando ele nos aparece é geralmente a mesma sob a qual conhecemos o espírito na vida física. Poderíamos crer, por isso, que o perispírito, desligado de todas as partes do corpo, se modela de alguma maneira sobre ele e lhe conserva a forma. Mas não parece ser assim.
 A forma humana , com algumas diferenças de detalhes e as modificações orgânicas exigidas pelo meio em que o ser tem de viver, é a mesma em todos os globos. É pelo menos, o que dizem os Espíritos. E é também a forma de todos os Espíritos não encamados, que só possuem o perispírito. A mesma sob a qual em todos os tempos foram representados os anjos ou Espíritos puros. 
De onde devemos concluir que a forma humana é a forma típica de todos os seres humanos, em qualquer grau a que pertençam. Mas a matéria sutil do perispírito não tem a persistência e a rigidez da matéria compacta do corpo. Ela é, se assim podemos dizer, flexível e expansível. 
Por isso, a forma que ela toma, mesmo que decalcada do corpo, não é absoluta. Ela se molda à vontade do espírito, que pode lhe dar a aparência que quiser, enquanto o invólucro material lhe ofereceria uma resistência invencível.
Desembaraçado do corpo que o comprimia, o perispírito se distende ou se contrai, se transforma, em uma palavra: presta-se a todas as modificações, segundo a vontade que o dirige. É graças a essa propriedade do seu invólucro fluídico que o Espírito pode fazer-se reconhecer, quando necessário, tomando exatamente a aparência que tinha na vida física, e até mesmo com os defeitos que possam servir de sinais para o reconhecimento.
Os Espíritos, portanto, são seres semelhantes a nós, formando ao nosso redor toda uma população que é invisível no seu estado normal. E dizemos no estado normal porque, como veremos, essa invisibilidade não é absoluta.
Voltemos a tratar da natureza do perispírito, que é essencial . Dissemos que, embora fluídico, ele se constitui de uma espécie de matéria, e isso resulta dos casos de aparições tangíveis, aos quais voltaremos.
 Sob a influência de certos médiuns, verificou-se a aparição de mãos, com todas as propriedades das mãos vivas, dotadas de calor, podendo ser apalpada, oferecendo a resistência dos corpos sólidos, e que de repente se esvaeciam como sombras. 
A ação inteligente dessas mãos, que evidentemente obedecem a uma vontade ao executar certos movimentos, até mesmo ao tocar músicas num instrumento, prova que elas são parte visível de um ser inteligente invisível. 
Sua tangibilidade, sua temperatura, a impressão sensorial que produzem, chegando mesmo a deixar marcas na pele, a dar pancadas dolorosas, a acariciar delicadamente, provam que são materialmente constituídas. 
Sua desaparição instantânea prova, entretanto, que essa matéria é extremamente sutil e se comporta como algumas substâncias que podem, alternativamente, passar do estado sólido ao fluídico e vice-versa.
 A natureza íntima do espírito propriamente dita, ou seja, do ser pensante, é para nós inteiramente desconhecida. Ele se revela a nós pelos seus atos, e esses atos só podem tocar os nossos sentidos por um intermediário material.
 O Espírito precisa, pois, de matéria, para agir sobre a matéria. Seu instrumento direto é o perispírito, como o do homem é o corpo. O perispírito, como acabamos de ver, constitui-se de matéria. Vem a seguir o fluido universal, agente intermediário, espécie de veículo sobre o qual ele age como nós agimos sobre o ar para obter certos efeitos através da dilatação, da compreensão, da propulsão ou das vibrações.
Assim considerada, a ação do Espírito sobre a matéria é fácil de admitir-se. Compreendem-se então que os efeitos pertencem á ordem dos fatos naturais e nada tem de maravilhoso. Só pareciam sobrenaturais porque sua causa era desconhecida. Desde que a conhecemos, o maravilhoso desaparece, pois a causa se encontra inteiramente nas propriedades semimateriais do perispírito. Trata-se de uma nova ordem de coisas, que novas leis vêm explicar. Dentro em pouco ninguém mais se espantará com esses fatos, como ninguém hoje se espanta de poder comunicar-se à distância, em apenas alguns minutos, por meio da eletricidade.
 Talvez se pergunte como pode o Espírito, com a ajuda de uma matéria tão sutil, agir sobre corpos pesados e compactos, erguer mesas etc. Certamente não será um homem de ciências que fará essa objeção, porque, sem falar das propriedades desconhecidas que esse novo agente pode ter, não vimos com os próprios olhos exemplos semelhantes? Não é nos gases mais rarefeitos,nos fluidos imponderáveis, que a indústria encontra as mais poderosas forças motrizes? Quando vemos o ar derrubar edifícios, o vapor arrastar massas enormes, a pólvora gaseificada elevar rochedos, a eletricidade despedaçar árvores e perfurar muralhas, que há de estranho em admitir que o Espírito, servindo-se do perispírito, possa erguer uma mesa, sobretudo quando se sabe que esse perispírito pode tornar-se visível, tangível e comportar-se como um corpo sólido?

(1) Quem se reportar ao que dissemos em O Livro dos Espíritos sobre os sonhos e o estado do Espírito durante o sono (nº 400 a 418), compreenderá que os sonhos que quase todos tem, vendo-se transportados através do espaço e como que voando, são a lembrança da sensação do Espírito durante o seu desprendimento do corpo, levando o corpo fluídico, o mesmo que conservará após a morte. Esses sonhos podem pois nos dar a idéia do estado do Espírito quando se desembaraçar dos entraves que o retêm na Terra. (Nota de Kardec)
(2) O desenvolvimento da Psicoterapêutica, e mais recentemente da Medicina psicossomática, confirmam o acerto de Kardec nesta observação. (N. do T.)

(3) O Livro dos Espíritos, nº 88. Respondendo a uma pergunta de Kardec sobre a forma dos Espíritos, os seus instrutores espirituais disseram: “Eles são, se o quiserdes, uma flama, um clarão ou uma centelha etérea”. (N. do T.)

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