domingo, 31 de maio de 2015

ESPIRITISMO E MÉTODO - de O Livro dos Médiuns, Allan Kardec

 ESPIRITISMO E MÉTODO

O melhor método de ensino espírita é o que se dirige à RAZÃO e não aos olhos. É o que seguimos em nossas lições, do que só temos que nos felicitar. 
ESTUDO DA TEORIA/DOUTRINA
      32. O estudo prévio da teoria tem ainda a vantagem de mostrar imediatamente a grandeza do objetivo e o alcance desta Ciência. Aquele que se inicia vendo uma mesa girar ou bater pode inclinar-se à zombaria, porque dificilmente imaginaria que de uma mesa possa sair uma doutrina regeneradora da Humanidade. 
Acentuamos sempre que os que creem sem ter visto, porque leram e compreenderam, ao invés de superficiais são os mais ponderados. Ligando-se mais ao fundo que à forma, o aspecto filosófico é para eles o principal, e os fenômenos propriamente ditos são apenas o acessório. 
Chegam mesmo a dizer que se os fenômenos não existissem, nem por isso a filosofia deixaria de ser a única que resolve tantos problemas até hoje insolúveis; a única que oferece ao passado e ao futuro humano a teoria mais racional. Preferem, assim, uma doutrina que realmente explica, aquelas que nada explicam ou que explicam mal. Quem refletir a respeito compreenderá claramente que se pode fazer abstração das manifestações, sem que a doutrina tenha por isso de desaparecer. As manifestações corroboram, a confirmam, mas não constituem um fundamento essencial. O observador sério não as repele, mas espera as circunstâncias favoráveis para observá-las. A prova disso é que antes de ouvirem falar das manifestações muitas pessoas tiveram a intuição dessa doutrina, que veio apenas corporificar num conjunto as suas idéias.
   
  33. Aliás, não seria certo dizer que, aos que começam pela teoria, faltem às observações práticas. Eles as possuem, pelo contrário, e certamente mais valiosas aos seus olhos que as produzidas nas experiências: são os fatos numerosos demanifestações espontâneas, de que trataremos nos capítulos seguintes. 
São poucas as pessoas que não as conhecem, ao menos por ouvir dizer, e muitas as que as obtiveram, sem prestar-lhes a devida atenção. A teoria vem dar-lhes explicação, e consideramos esses fatos de grande importância, quando se apóiam em testemunhos irrecusáveis, porque não se pode atribuir-lhes qualquer preparação ou conivência.
 Se os fenômenos provocados não existissem, nem por isso os espontâneos deixariam de existir, e se o Espiritismo só servisse para lhes dar uma explicação racional, isto já seria bastante. Assim, a maioria dos que leem previamente referem os princípios  a esses fatos, que são para eles uma confirmação da teoria.
    34. Seria absurdo supor que aconselhamos a negligenciar os fatos, pois foi pelos fatos que chegamos à teoria. É verdade que isso nos custou um trabalho assíduo de muitos anos e milhares de observações. Mas desde que os fatos nos serviram e servem diariamente, seríamos incoerentes se lhes contestássemos a importância, sobretudo agora que fazemos um livro para ensinar como conhecê-los. Sustentamos apenas que, sem o raciocínio, eles não bastam para levar á convicção. Que uma explicação prévia, afastando as prevenções e mostrando que eles não são absurdos, predispõe a aceitá-los.
    Isso é tão certo que, de dez pessoas estranhas ao assunto, que assistam a uma sessão de experimentação, das mais satisfatórias para os adeptos, nove sairão sem convencer-se, e algumas delas ainda mais incrédulas do que antes, porque as experiências não corresponderam ao que esperavam. Acontecerá o contrário com as que puderam informar-se dos fatos por um conhecimento teórico antecipado. Para estas, esse conhecimento servirá de controle e nada as surpreenderá, nem mesmo o insucesso, pois saberão em que condições os fatos se produzem e que não se lhes deve pedir o que eles não podem dar. A compreensão prévia dos fatos torna-as capazes de perceber todas as dificuldades, mas também de captar uma infinidade de pormenores, de nuanças quase sempre muito sutis, que serão para elas elementos de convicção que escapam ao observador ignorante. São esses os motivos que nos levam a só admitir em nossas sessões experimentais pessoas suficientemente preparadas para compreender o que se passa, pois sabemos que as outras perderiam o seu tempo ou nos fariam perder o nosso.
     35. Para aqueles que desejarem adquirir esses conhecimentos preliminares através das nossas obras, aconselhamos a seguinte ordem:
1º) O que é o Espiritismo: Esta brochura, de apenas uma centena de páginas, apresenta uma exposição sumária dos princípios da Doutrina Espírita, uma visão geral que permite abranger o conjunto num quadro restrito. Em poucas palavras se percebe o seu objetivo e se pode julgar o seu alcance. Além disso, apresenta as principais perguntas ou objeções que as pessoas novatas costumam fazer. Essa primeira leitura, que exige pouco tempo, é uma introdução que facilita o estudo mais profundo.(3)
2º) O Livro dos Espíritos: contém a doutrina completa ditada pelos Espíritos, com toda a sua Filosofia e todas as suas conseqüências morais. É o destino do homem desvelado, a iniciação ao conhecimento da natureza dos Espíritos e os mistérios da vida de além túmulo. Lendo-o, compreende-se que o Espiritismo tem um objetivo sério e não é um passatempo frívolo.
3º) O Livros dos Médiuns: Destinado a orientar na prática das manifestações, proporcionando o conhecimento dos meios mais apropriados de nos comunicarmos com os Espíritos.É um guia para os médiuns e para os evocadores e o complemento de O Livro dos Espíritos.
4º) A Revista Espírita: Uma variada coletânea de fatos, de explicações teóricas e de trechos destacados que completam a exposição das duas obras precedentes, e que representa de alguma maneira a sua aplicação. Sua leitura pode ser feita ao mesmo tempo em que a daquelas obras, mas será mais proveitosa e mais compreensível sobretudo após a de O Livro dos Espíritos.
     Isso no que nos concerne. Mas os que desejam conhecer completamente uma ciência devem ler necessariamente tudo o que foi escrito a respeito, ou pelo menos o principal, não se limitando a um único autor. Devem mesmo ler os prós e os contras, as críticas e as apologias, iniciarem-se nos diferentes sistemas a fim de poder julgar pela comparação. Neste particular, não indicamos nem criticamos nenhuma obra, pois não queremos influir em nada na opinião que se possa formar. Levando nossa pedra ao edifício, tomamos apenas o nosso lugar. Não nos cabe ser ao mesmo tempo juiz e parte e não temos a pretensão ridícula de ser o único a dispensar a luz. Cabe ao leitor separar o bom do mau, o verdadeiro do falso.(4)















DEVE-SE CONVENCER ALGUÉM A TORNAR-SE ESPÍRITA? - de O Livro dos Médiuns, Allan kardec


DEVE-SE CONVENCER ALGUÉM 
A TORNAR-SE ESPIRITA?

29) Os meios de convicção variam extremamente, segundo os indivíduos. O que persuade a uns não impressiona a outros. Se um se convence por meio de certas manifestações materiais, outro por comunicações inteligentes, a maioria é pelo raciocínio. Podemos mesmo dizer que, para a maior parte dos que não estão em condições de apreciá-los pelo raciocínio, os fenômenos materiais são de pouca significação. Quanto mais extraordinários são esses fenômenos, afastando-se bastante das leis conhecidas, maior oposição encontram. E isso por um motivo muito simples: é que somos naturalmente levados a duvidar daquilo que não tem uma sansão racional. Cada qual o encara a seu modo e dá sua explicação particular: o materialista descobre uma causa física ou uma trapaça; o ignorante e o supersticioso, uma  causa diabólica ou sobrenatural. Entretanto, uma explicação antecipada tem o efeito de destruir as idéias preconcebidas e mostrar, se não a realidade, pelo menos a possibilidade do fato. Compreende-se antes de ver, pois desde que aceitamos a possibilidade, três quartos da convicção foram realizados.
   30. Será útil procurar convencer um incrédulo obstinado? Já dissemos que isso depende das causas e da natureza da sua incredulidade. Muitas vezes, nossa insistência em persuadi-lo o leva a crer na sua importância pessoal, que é uma razão para mais se obstinar. Aquele que não se convence pelo raciocínio nem pelos fatos, deve ainda sofrer a prova da incredulidade. Devemos deixar à Providência o cuidado de encaminhá-lo a circunstâncias mais favoráveis. 
Há muita gente que só deseja receber a luz, para estarmos perdendo tempo com os que a repelem. Dirigi-vos, pois, aos homens de boa vontade, cujo número é maior do que se pensa, e o exemplo destes, multiplicando-se, vencerá mais facilmente as resistências do que as palavras.
Ao verdadeiro espírita nunca faltará oportunidade de fazer o bem. Há corações aflitos a aliviar, consolações a dispensar, desesperos a acalmar, reformas morais a operar. Essa é a sua missão e nela encontrará a verdadeira satisfação. 
O Espiritismo impregna a atmosfera: expande-se pela própria força das circunstâncias e porque torna felizes aqueles que o professam. Quando os seus adversários sistemáticos o ouvirem ressoando ao seu redor, entre os seus próprios amigos, compreenderão o isolamento em que se encontram e serão forçados a calar ou a se renderem.
   31. Para se proceder, no ensino do Espiritismo, como se faz nas ciências ordinárias, seria necessário passar em revista toda a série de fenômenos que podem produzir-se, a começar dos mais simples até chegar, sucessivamente, aos mais complicados. Ora, isso é impossível, porque não se pode fazer um curso de Espiritismo experimental como se faz um curso de Física ou de Química. Nas Ciências Naturais opera-se sobre a matéria bruta, que se manipula a vontade e quase sempre se consegue determinar os efeitos. 
No Espiritismo, tem-se de lidar com inteligências dotadas de liberdade e que provam, a cada instante, não estarem sujeitas aos nossos caprichos. É necessário, pois observar, esperar os resultados e colhê-los na ocorrência.
     Por isso declaramos energicamente que: todo aquele que se vangloriar de obtê-los à vontade não passa de ignorante ou impostor. Eis porque o verdadeiro Espiritismo jamais servirá para exibições nem subirá jamais aos palcos. É mesmo ilógico supor que os Espíritos se entreguem a exibições e se submetam à pesquisa como objetos de curiosidade. Os fenômenos, por isso mesmo, podem não ocorrer quando mais os desejamos ou apresentar-se de maneira muito diversa da que pretendíamos. Acrescentemos ainda que, para obtê-los, necessitamos de pessoas dotadas de faculdades especiais, que variam ao infinito, segundo a aptidão de cada indivíduo. Ora, sendo extremamente raro que uma mesma pessoa tenha todas as aptidões, a dificuldade aumenta, pois, seria necessário dispormos sempre de uma verdadeira coleção de médiuns, o que não é possível.
            É muito simples o meio de evitar estes inconvenientes. Basta começar pela teoria. Nela, todos os fenômenos são passados em revista, são explicados e se pode conhecê-los e compreender a sua possibilidade, as condições em que podem ser produzidos e os obstáculos que podem encontrar. Dessa maneira, qualquer que seja a ordem em que as circunstâncias nos fizerem vê-los, nada terão que possa surpreender-nos. E há ainda outra vantagem: a de evitar muitas decepções ao experimentador. Prevenido quanto às dificuldades, pode manter-se vigilante e poupar-se das experiências à própria custa.
    Desde que nos ocupamos de Espiritismo foram tantas as pessoas que nos acompanharam, que seria difícil presenciar o seu número. Entre elas, quantas permaneceram indiferentes ou incrédulas diante dos fatos mais evidentes, só se convencendo mais tarde através de uma explicação racional. Quantas outras foram predispostas a aceitar por meio do raciocínio; e quantas, afinal, acreditaram sem nada terem visto, levados unicamente pela compreensão. Falamos, portanto, por experiência, e por isso afirmamos que o melhor método de ensino espírita é o que se dirige à razão e não aos olhos. É o que seguimos em nossas lições, do que só temos que nos felicitar. 
      

CATEGORIAS DE CRENTES NO ESPIRITISMO - de O Livro dos Médiuns, allan kardec

CATEGORIAS DE CRENTES NO ESPIRITISMO

ESPÍRITAS SEM O SABER
27. Se lançarmos agora um olhar sobre as diversas categorias de crentes, encontraremos primeiro os espíritas sem o saber. São uma variedade ou uma subdivisão da classe dos vacilantes. Sem jamais terem ouvido falar da Doutrina Espírita, tem o sentimento inato dos seus grandes princípios e esse sentimento se reflete em algumas passagens de seus escritos ou de seus discursos, de tal maneira que, ouvindo-os, acredita-se que sejam verdadeiros iniciados. Encontram-se numerosos desses exemplos entre os escritores sacros e profanos, entre os poetas, os oradores, os moralistas, os filósofos antigos e modernos.
CONVENCIDOS PELOS ESTUDOS
  28. Entre os que se convenceram estudando diretamente os assuntos podemos distinguir:
1º) Os que acreditam pura e simplesmente nas manifestações.Consideram o Espiritismo como uma simples ciências de observação, apresentando uma série de fatos mais ou menos curiosos. Chamamo-los: espíritas experimentadores.
2º) Os que não se interessam apenas pelos fatos e compreendem o aspecto filosófico do Espiritismo, admitindo a moral que dele decorre, mas sem a praticarem. A influência da Doutrina sobre o seu caráter é insignificante ou nula. Não modificam em nada os seus hábitos e não se privariam de nenhum de seus prazeres. O avarento continua insensível, o orgulhoso cheio de amor próprio, o invejoso e os ciumentos sempre agressivos. Para eles, a caridade cristã não passa de uma bela máxima. São os espíritas imperfeitos.
3º) Os que não se contentam em admirar apenas a moral espírita, mas a praticam e aceitam todas as suas conseqüências. Convictos de que a existência terrena é uma prova passageira, tratam de aproveitar os seus breves instantes para avançar na senda do progresso, única que pode elevá-los de posição no Mundo dos Espíritos, esforçando-se para fazer o bem e reprimir as suas más tendências. Sua amizade é sempre segura, porque a sua firmeza de convicção os afasta de todo mau pensamento. A caridade é sempre a sua regra de conduta. São esses osverdadeiros espíritas, ou melhor os espíritas cristãos.(1)  
4º) Há, por fim, os espíritas exaltados. A espécie humana seria perfeita, se preferisse sempre o lado bom das coisas. O exagero é prejudicial em tudo. No Espiritismo ele produz uma confiança cega e freqüentemente pueril nas manifestações do mundo invisível, fazendo aceitar muito facilmente e sem controle aquilo que a reflexão e o exame demonstrariam ser absurdo ou impossível, pois o entusiasmo não esclarece, ofusca. Esta espécie de adeptos é mais nociva do que útil a causa do Espiritismo. São os menos capazes de convencer, porque se desconfia com razão do seu julgamento. São enganados facilmente por Espíritos mistificadores ou por pessoas que procuram explorar a sua credulidade. Se apenas eles tivessem de sofrer as conseqüências o mal seria melhor, mas o pior é que oferecem, embora sem querer, motivos aos incrédulos que mais procuram zombar do que se convencer e não deixam de imputar a todos o ridículo de alguns. Isso não é justo nem racional, sem dúvida, mas os adversários do Espiritismo, como se sabe, só reconhecem como boa a sua razão e pouco se importam de conhecer a fundo aquilo de que falam.
  

CATEGORIAS DE INCRÉDULOS E O ESPIRITISMO - de O Livro dos Médiuns, Allan Kardec


ESPIRITISMO ENQUANTO CIÊNCIA, 

FILOSOFIA E MÉTODO E 

SUAS CATEGORIAS DE INCRÉDULOS



            O Espiritismo é toda uma Ciência, toda uma Filosofia. Quem desejar conhecê-lo seriamente deve pois, como primeira condição, submeter-se a um estudo sério e persuadir-se de que, mais do que qualquer outra ciência, não se pode aprendê-lo brincando.

O Espiritismo, se relaciona com todos os problemas da Humanidade. Seu campo é imenso e devemos encará-lo sobretudo quanto às suas conseqüências. A crença nos Espíritos constitui sem dúvida a sua base, mas não basta para fazer um espírita esclarecido, como a crença em Deus não basta para fazer um teólogo. Vejamos, pois, de que maneira convém proceder no seu ensino, para levar-se com mais segurança à convicção.
                       No Espiritismo, a questão dos Espíritos está em segundo lugar, não constituindo o seu ponto de partida. E é esse, precisamente, o erro em que se cai e que acarreta o fracasso com certas pessoas. Sendo os Espíritos simplesmente as almas dos homens, o verdadeiro ponto de partida é então a existência da alma. Como pode o materialista admitir a existência de seres que vivem fora do mundo material, quando ele mesmo se considera apenas material? Como pode crer na existência de Espíritos ao seu redor, se não admite seu próprio Espírito? Em vão se amontoarão aos seus olhos as provas mais palpáveis. Ele contestará a todas elas, porque não admite o princípio.
            Todo ensino metódico deve participar do conhecido para o desconhecido. Para o materialista, o conhecido é a matéria. Parti, pois, da matéria e tratai de lhe demonstrar, antes de tudo, que há nele próprio alguma coisa que escapa às leis materiais. Numa palavra: antes de torná-lo espírita procurai fazê-lo ESPIRITUALISTA. Mas, para isso, é necessária outra ordem de fatos e se deve proceder, por outros meios, a uma forma especial de ensino. Falar-lhe de Espíritos antes que ele esteja convencido de ter uma alma é começar pelo fim, pois ele não pode admitir a conclusão se não aceita as premissas.
            Antes, pois, de tentar convencer um incrédulo, mesmo por meio dos fatos, convém assegurar-se de sua opinião sobre a alma, ou seja, se ele crê na sua existência, na sua sobrevivência ao corpo, na sua individualidade após a morte. Se a resposta for negativa, será tempo perdido falar-lhe dos Espíritos. Eis a regra. Não dizemos que não haja exceção. Mas nesse caso deve existir outra razão que o torne menos refratário.
INCRÉDULOS POR SISTEMA
       20. Devemos distinguir duas classes de materialistas: na primeira estão os que o são por sistema. Para eles não há dúvida, mas a negação absoluta, segundo a sua maneira de raciocinar. Aos seus olhos o homem não passa de uma máquina enquanto vivo, mas que se desarranja e depois da morte só deixa o esqueleto. Seu número é felizmente bastante restrito e em parte alguma representa uma escola abertamente declarada. Não precisamos acentuar os deploráveis efeitos que resultariam para a ordem social da vulgarização de semelhante doutrina. Estendemo-nos suficientemente a respeito em O LIVRO DOS ESPÍRITOS (nº 147 e parágrafo III da Conclusão).
     Quando dissemos que a dúvida dos incrédulos cessa diante de uma explicação racional, é necessário excetuar os materialistas radicais, que negam toda potência e qualquer princípio inteligente fora da matéria. A maioria se obstina nessa opinião por orgulho e acha que deve mantê-lo por amor próprio. Persistem nela apesar de todas as provas contrárias porque não querem ficar por baixo. Nada se tem a fazer com eles. Nem se deve acreditar na falsa expressão de sinceridade dos que dizem: Fazei-me ver e acreditarei. Há os que são mais francos e logo dizem: Mesmo se eu visse não acreditaria.
     
INCRÉDULOS POR INDIFERENÇA
21. A segunda classe de materialistas, muito mais numerosa, compreende os que o são por indiferença, e, podemos dizer, por falta de coisa melhor, já que o materialismo real é um sentimento antinatural. Não o são deliberadamente e o que mais desejam é crer, pois a incerteza os atormenta. Sentem uma vaga aspiração do futuro, mas esse futuro lhes foi apresentado de maneira que sua razão não pode aceitar, nascendo daí a dúvida, e como conseqüência da dúvida, a incredulidade. Para eles, pois, a incredulidade não se apóia num sistema. Tão logo lhes apresenteis alguma coisa de racional, eles a aceitarão com ardor. Esses podem nos compreender, porque estão mais próximos de nós do que poderiam supor.
     Com os primeiros, não faleis de revelação, nem de anjos ou do Paraíso, pois, não compreenderiam. Mas colocai-vos no seu próprio terreno e provai-lhes, primeiro, que as leis da Filosofia não podem explicar tudo: o resto virá depois. A situação é outra quando não se trata de incredulidade preconcebida, pois nesse caso a crença não foi totalmente anulada e permanece como germe latente, asfixiado pelas ervas daninhas, que uma centelha pode reanimar. É o cego a que se restitui à vista e que se alegra de rever a luz, é o náufrago a que se atira uma tábua de salvação.

INCRÉDULOS DE MÁ VONTADE

            22. Ao lado dos materialistas propriamente ditos há uma terceira classe de incrédulos que, embora espiritualistas, pelo menos no nome, não são menos refratários ao Espiritismo: são os incrédulos de má vontade. Esses não querem crer, porque isso lhes perturbaria o gozo dos prazeres materiais. Temem encontrar a condenação de sua ambição, do seu egoísmo e das vaidades humanas com que se deliciam. Fecham os olhos para não ver e tapam os ouvidos para não ouvir. Só podemos lamentá-los.

                    INCRÉDULOS INTERESSEIROS OU DE MÁ FÉ
     
23. Somente para lembrá-la, falaremos de uma quarta categoria a que chamaremos de incrédulos interesseiros ou de má fé. Estes sabem muito bem o que há de certo no Espiritismo, mas o condenam ostensivamente por motivos de interesse pessoal. Nada temos a dizer deles nem a fazer com eles. Se o materialista radical se engana, tem ao menos a desculpa da boa fé; podemos corrigi-lo, provando-lhe o erro. Neste último, há uma determinação contra a qual se esboroam todos os argumento. O tempo se encarregará de lhe abrir os olhos e lhe mostrar, talvez á sua própria custa, onde estavam os seus verdadeiros interesses. Porque, não podendo impedir a expansão da verdade, eles serão arrastados pela correnteza, juntamente com os interesses que pensavam salvaguardar.      

                                 INCRÉDULOS POR COVARDIA

    24. Além dessas categorias de opositores há uma infinidade de variações, entre as quais se podem contar os incrédulos por covardia, que terão coragem quando verificarem que os outros não foram prejudicados; os incrédulos por escrúpulo religioso, que um ensino esclarecido fará ver que o Espiritismo se apóia nos próprios fundamentos da Religião e respeita todas as crenças, tendo como um de seus efeitos despertar os sentimentos religiosos nos descrentes, fortalecendo-os nos vacilantes; os incrédulos por orgulho, por espírito de contradição, por negligência, por leviandade, etc. etc.

                                 INCRÉDULOS POR DECEPÇÃO
  25. Não podemos esquecer uma categoria que chamaremos de incrédulos por decepção. Abrange os que passaram de uma confiança exagerada à incredulidade, por terem sofrido desilusões. Assim, desencorajados, abandonaram tudo e tudo rejeitaram. São como aquele que negasse a boa fé por ter sido enganado. São ainda as conseqüências de um estudo incompleto do Espiritismo e da falta de experiência. Aquele que é mistificado por Espíritos, geralmente é porque lhes fez perguntas indevidas ou que eles não podiam responder, ou porque não estavam bastante esclarecidos para distinguir a verdade da impostura. Muitos, aliás, só vêem o Espiritismo como uma nova forma de adivinhação e pensam que os Espíritos existem para ler a buena-dicha. Ora, os Espíritos levianos e brincalhões não perdem a oportunidade de se divertirem á sua custa: é assim que anunciarão casamentos para as moças; honrarias, heranças e tesouros ocultos para os ambiciosos, e assim por diante. Disso resultam, freqüentemente, desagradáveis decepções, de que o homem sério e prudente sabe sempre se preservar.
                                                 VACILANTES                
   26. Uma classe muito numerosa, a mais numerosa de todas, mas que não poderia figurar entre os opositores, é a dos vacilantes. São geralmente espiritualistas por princípio. Na sua maioria tem uma vaga intuição das idéias espíritas e desejam alguma coisa que não podem definir. Falta-lhes apenas coordenar e formular os seus pensamentos. O Espiritismo aparece-lhes como um raio de luz: é a claridade que afugenta as névoas. Por isso o acolhem com sofreguidão, pois ele os liberta das angústias da incerteza.


    

sexta-feira, 29 de maio de 2015

PARA ONDE VAI A ALMA APÓS A MORTE? E OS SUPOSTOS DEMÔNIOS? - de O Livro dos Médiuns - Allan kardec.


ALMA E DEMÔNIO - PARA ONDE VÃO APÓS A MORTE DO CORPO FÍSICO?
Admitindo isso, é claro que a alma terá de ir para algum lugar. Mas para onde vai, e o que é feito dela? Segundo a crença comum, ela vai para o Céu ou para o Inferno. Mas onde estão o Céu e o Inferno? Dizia-se antigamente que o Céu estava no alto e o Inferno embaixo. Mas o que é o alto e o baixo no Universo desde que sabemos que a Terra é redonda; que os astros giram, de maneira que o alto e o baixo se revezam cada doze horas para nós; e conhecemos o infinito do espaço, no qual podemos mergulhar a distâncias incomensuráveis?
            É verdade que podemos entender por lugares baixos as profundezas da Terra. Mas o que são hoje essas profundezas, depois das escavações geológicas? O que são, também, essas esferas concêntricas chamadas céu de fogo, céu das estrelas, depois que aprendemos não ser o nosso planeta o centro do Universo, e que o nosso próprio Sol nada mais é do que um entre milhões de sóis que brilham no infinito, sendo cada qual o centro de um turbilhão planetário? Que foi feito da antiga importância da Terra agora perdida nessa imensidade? E por que estranho motivo este imperceptível de areia, que não se distingue pelo seu tamanho, nem pela sua posição, nem qualquer papel particular no cosmo, seria o único povoado de seres racionais? A razão se recusa a admitir essa inutilidade do infinito, e tudo nos diz que esses mundos também são habitados. E se assim é eles também fornecem os seus contingentes para o mundo das almas. Então, voltamos à pergunta: em que se tornam as almas, depois da morte do corpo, e para onde vão? A Astronomia e a Geologia destruíram as suas antigas moradas, e a teoria racional da pluralidade dos mundos habitados multiplicou-as ao infinito. Não havendo concordância entre a doutrina da localização das almas e os dados das ciências, temos de aceitar uma doutrina mais lógica, que não lhes marca este ou aquele lugar circunscrito, mas dá-lhes o espaço infinito: é todo um mundo invisível que nos envolve e no meio do qual vivemos, rodeados por elas.
            Há nisso alguma impossibilidade, qualquer coisa que repugne à razão? Nada, absolutamente. Tudo nos diz, pelo contrário, que não pode ser de outra maneira. Mas em que se transformam as penas e recompensas futuras, se as almas não vão para determinado lugar? Vê-se que a ideia dessas penas e recompensas é absurda e que dá motivo à incredulidade. Mas entendemos que as almas, em vez de penarem ou gozarem em determinado lugar, carregam em seu íntimo, a felicidade ou a desgraça, pois a sorte de cada uma depende de sua condição moral, e que a reunião das almas boas e afins é um motivo de felicidade, e tudo se tornará mais claro. Compreendamos que, segundo o seu grau de pureza, elas percebem e tem visões inacessíveis, às mais grosseiras; que somente pelos esforços que fazem para se melhorarem, e depois das provas necessárias, podem atingir os graus mais elevados;
que os anjos são as almas humanas que chegaram ao grau supremo e que todos podem chegar até lá, através da boa vontade; que os anjos são os mensageiros de Deus, incumbidos de zelar pela execução de seus desígnios em todo o universo, sendo felizes com essa missão gloriosa; e a felicidade de após morte será uma condição útil e aceitável, mais atraente que a inutilidade perpétua da contemplação eterna. 
E os demônios? Compreendamos que são almas das criaturas más, ainda não depuradas, mas que podem chegar, como as outras, ao estado de pureza, e a justiça e a bondade de Deus se tornarão racionais, ao contrário do que nos apresenta a doutrina dos seres criados para o mal de maneira irrevogável. Eis, afinal, o que a mais exigente razão, a lógica mais rigorosa, o bom-senso, numa palavra, podem admitir.
           

EXISTEM ESPÍRITOS? - de O Livro dos Médiuns - Allan Kardec

1. A causa principal da dúvida sobre a existência dos Espíritos é a ignorância da sua verdadeira natureza. Imaginam-se os Espíritos como seres à parte na Criação, sem nenhuma prova da sua necessidade. Muitas pessoas só concedem os Espíritos através das estórias fantasiosas que ouviram em crianças, mais ou menos como as que conhecem História pelos romances. Não procuram saber se essas estórias, desprovidas do pitoresco,podem revelar um fundo verdadeiro, ao lado do absurdo que as choca. Não se dão ao trabalho de quebrar a casca da noz para descobrir a amêndoa. Assim, rejeitam a estória, como fazem os religiosos que, chocados por alguns abusos, afastam-se da religião.
Seja qual for à ideia que se faça dos Espíritos, a crença na sua existência decorre necessariamente do fato de haver um princípio inteligente no Universo, além da matéria. Essa crença é incompatível com a negação absoluta do referido princípio. Partimos, pois, da aceitação da existência, sobrevivência e individualidade da alma, de que o Espiritualismo em geral nos oferece a demonstração teórica dogmática, e o Espiritismo a demonstração experimental. Mas façamos, por um instante, abstrações das manifestações propriamente ditas, e raciocinemos por indução. Vejamos a que conseqüências chegaremos.
            2. Admitimos a existência da alma e da sua individualidade após a morte, é necessário admitir também:
                    1º) Que a sua natureza é diferente da corpórea, pois ao separar-se do corpo ela não conserva as propriedades materiais;
                    2º) Que ela possuía consciência própria, pois lhe atribuímos a capacidade de ser feliz ou sofredora, e que tem de ser assim, pois do contrário ela seria um ser inerte e de nada nos valeria a sua existência.

Introdução - de O livro dos Médiuns - Allan kardec

            Diariamente a experiência confirma a nossa opinião de que as dificuldades e desilusões encontradas na prática espírita decorrem da ignorância dos princípios doutrinários: Sentimo-nos felizes ao verificar que foi eficiente o nosso trabalho para prevenir os adeptos para os perigos do aprendizado, e que muitos puderam evitá-los, com a leitura atenta desta obra.
            Muito natural o desejo dos que se dedicam ao Espiritismo, de entrarem pessoalmente em comunicação com os Espíritos. Esta obra destina-se a facilitar-lhes  isso, permitindo-lhes aproveitar os frutos de nossos longos e laboriosos estudos. Pois bem errado andaria quem julgasse que, para tornar-se perito no assunto, bastaria aprender a pôr os dedos numa mesa para fazê-la girar ou pegar um lápis para escrever.
            Igualmente se enganaria quem pensasse encontrar nesta obra uma receita universal infalível para fazer médiuns. Embora cada qual já traga em si mesmo os germes das qualidades necessárias, essas qualidades se apresentam em graus diversos, e o seu desenvolvimento depende de causas estranhas à vontade humana. Não fazemos poetas, nem pintores ou músicos com as regras dessas artes, que servem apenas para orientar os dons de quem possui os respectivos talentos. Sua finalidade é indicar os meios de desenvolvimento da mediunidade em que a possui, segundo as possibilidades de cada um, e sobretudo orientar o seu emprego de maneira proveitosa. Mas não é esse o nosso único objetivo.
Aumenta todos os dias, ao lado dos médiuns, o número de pessoas que se dedica a manifestações espíritas. Orientá-las nas suas observações, apontar-lhes as dificuldades que certamente encontrarão, ensinar-lhes a maneira de se comunicarem com os Espíritos, obtendo boas comunicações, é o que também devemos fazer para completar o nosso trabalho. Ninguém estranhe, pois, se encontrar ensinamentos que poderão parecer descabidos. A experiência mostrará que são úteis. O estudo atencioso deste livro facilitará a compreensão dos fatos a observar. A linguagem de certos Espíritos parecerá menos estranha. Como instrução prática ele não se dirige exclusivamente aos médiuns, mas a todos que querem observar os fenômenos espíritas.
            Desejariam alguns que publicássemos um manual prático mais sucinto, indicando em poucas palavras como entrar em comunicação com os Espíritos. Entendem que um livrinho assim, mais barato podendo ser difundido com mais profusão, seria poderoso meio de propaganda, multiplicando o número de médiuns. Pensamos que isso seria mais nocivo do que útil, pelo menos no momento. A prática  espírita é difícil, apresentando escolhos que somente um estudo sério e completo pode prevenir. Uma exposição sucinta poderia facilitar experiências levianas, que levariam a decepções. São coisas com as quais não se deve brincar, e acreditamos que seria inconveniente pô-las ao alcance de qualquer estouvado que inventasse conversar com os mortos. Dirigimo-nos aos que vêem no Espiritismo um objetivo sério, compreendendo toda a sua gravidade e não pretendem brincar com as comunicações do outro mundo.
            Chegamos a publicar uma Instrução Prática para os médiuns que se encontra esgotada. Fizemo-la com objetivo sério e grave mas apesar disso não a reimprimiríamos, pois já não corresponde à necessidade de esclarecimento completo das dificuldades que podem ser encontradas. Preferimos substituí-la por esta, em que reunimos todos os dados de uma longa experiência e de um estudo consciencioso. Ela contribuirá, esperamos, para mostrar o caráter sério do Espiritismo, que é a sua essência, e para afastar a idéia de frivolidade e divertimento.
            Acrescentaremos uma importante consideração: a de que as experiências feitas com leviandade, sem conhecimento de causa, provocam péssimas impressões nos principiantes ou pessoas mal preparadas, tendo o inconveniente de dar uma idéia bastante falsa do mundo dos Espíritos, favorecendo a zombaria e dando motivos a críticas quase sempre bem fundadas. É por isso que os incrédulos saem dessas reuniões raramente convencidos e pouco dispostos a reconhecerem o aspecto sério do Espiritismo. A ignorância e a leviandade de certos médiuns têm causado maiores prejuízos do   que se pensa na opinião de muita gente.
            Vem progredindo bastante o Espiritismo, desde alguns anos, mas o seu maior progresso se verifica depois que entrou no rumo filosófico, porque despertou a atenção de pessoas esclarecidas. Hoje não é mais uma diversão, mas uma doutrina de que não riem os que zombavam das mesas-girantes. Esforçando-nos por sustentá-lo nesse terreno, estamos certos de conquistar adeptos mais úteis do que através de manifestações levianas. Temos a prova disso todos os dias, pelo número de adeptos resultantes da simples leitura de O LIVRO DOS ESPÍRITOS.
            Depois da exposição do aspecto filosófico da ciência espírita em O LIVRO DOS ESPÍRITOS, damos nesta obra a sua parte prática, para aqueles que desejarem ocupar-se das manifestações, seja pessoalmente, seja pela observação de experiências alheias. Verão aqui os escolhos que poderão encontrar e estarão em condições de evitá-los. Essas duas obras, embora se completem, são até certo ponto independentes uma da outra. Mas a quem quiser tratar seriamente do assunto, recomendamos primeiramente a leitura de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, porque contém os princípios fundamentais, sem o quais talvez seja difícil a compreensão de algumas partes desta obra.
            Esta segunda edição foi bem melhorada, apresentando-se mais completa do que a primeira. Foi corrigida com especial cuidado pelos Espíritos, que lhe acrescentaram grande número de observações e instruções do mais alto interesse. Como eles reviram tudo, aprovando ou modificando a vontade, podemos dizer que ela é, em grande parte, obra deles. Mesmo porque não se limitaram a intervir em algumas comunicações assinadas. Só indicamos os nomes, quando isso nos pareceu necessário para caracterizar algumas exposições mais extensas, como feitas textualmente por eles. De outra maneira, teríamos de mencioná-los quase em cada página, particularmente nas respostas dadas às nossas perguntas, o que nos pareceu inútil. Os nomes pouco importam, como se sabe, neste assunto. O essencial é que o trabalho corresponda, no seu conjunto, aos objetivos propostos. Esperamos assim que esta edição, mais perfeita que a primeira, seja tão bem recebida como aquela.
            Como acrescentamos muitas coisas, e muitos capítulos inteiros, assim também suprimimos alguns trechos repetidos, como o da ESCALA ESPÍRITA, que já se encontra em O LIVRO DOS ESPÍRITOS.
            Suprimimos ainda do vocabulário o que não se refere propriamente a esta obra, substituindo-o por coisas mais úteis. Esse vocabulário, aliás, não está completo, pretendemos publicá-lo mais tarde, em separado, na forma de um pequeno dicionário da filosofia espírita. Conservamos nesta obra, tão somente, as palavras novas específicas, relativas ao assunto de que nos ocupamos.(1)

(1) A segunda edição, que serviu para esta tradução, constitui o texto definitivo do livro. As características que se notam entre este final do prefácio e o das nossas demais traduções de O LIVRO DOS MÉDIUNS decorrentes de modificações nas edições francesas posteriores à morte de Kardec. É de particular interesse doutrinário a referência do Codificador ao seu desejo de publicar um Pequeno Dicionário da Filosofia Espírita, obra que continua a fazer falta na bibliografia doutrinária. (N. do

EXPLICAÇÃO - De O Livro dos Médiuns - Allan kardec - Tadução José Herculano Pires.

            Este é o segundo volume da Codificação do Espiritismo. Logo após a publicação de O Livro dos Espíritos, obra básica da doutrina, em 1857, Kardec lançou, em 58, um livrinho intitulado Instruções Práticas Sobre as Manifestações Espíritas. Era um ensaio para elaboração de O Livro dos Médiuns, que só pode aparecer em 1861. Publicado este, Kardec suprimiu aquele. Apesar disso, 65 anos mais tarde, em 1923, Jean Meyer, então diretor da Casa dos Espíritas, resolveu reeditar o Instruções, para circular juntamente com este livro, por considerar aquele livrinho útil à iniciação nas questões mediúnicas. No Brasil, Cairbar Schutel, em sua gráfica de Matão, lançou também o Instruções em nossa língua.
            A finalidade deste livro é desenvolver a parte prática da doutrina, em seqüência à exposição teórica do livro básico. Por isso Kardec o considerou “continuação de O Livro dos Espíritos”, como se vê no frontispício. Mesmo porque, segundo declara na Introdução, este livro também pertence aos Espíritos. Foram eles que o orientaram na sua elaboração, eles que o reviram e modificaram inteiramente para a segunda edição de 1862, que ficou sendo a definitiva e que serviu para esta tradução.
            Apesar de escrito há mais de cem anos. O livro dos Médiuns é atualismo. Nenhuma outra obra, espírita ou não, sobre a fenomenologia mediúnica conseguiu superá-lo. É um tratado que tem por fundamento a pesquisa científica e a experiência, além da contribuição teórica dos Espíritos na explicação de vários problemas ainda inacessíveis à pesquisa científica. Essas explicações só eram aceitas por Kardec na medida da sua racionalidade, de acordo com o método de controle rigoroso que estabeleceu para o seu trabalho. Esse método é explicado neste livro e pode ser examinado em minúcias nos relatórios e registros de sessões publicadas na Revista Espírita.
            As teorias explicativas dos fenômenos, formuladas por Kardec com os dados de sua investigação e a contribuição dos Espíritos, permanecem ainda como as mais viáveis. Basta um confronto entre essas teorias e as formuladas pelos parapsicólogos atuais para se verificar a solidez das primeiras, até hoje nunca desmentidas, e a fragilidade das segundas. Um exemplo típico é a teoria das aparições, que na atual Parapsicologia constitui um emaranhado de suposições curiosas e nada mais, enquanto neste livro se apresenta fundada em pesquisas, observações, deduções rigorosas e explicações dada por numerosas entidades espirituais em ocasiões diversas, por meios diversos e com todas as provas de seriedade e coerência exigidas pelo método kardeciano.
            Kardec e os Espíritos insistem numa posição ainda pouco compreendida pelos próprios espíritas: a Ciência Espírita teve como vestíbulo as manifestações físicas, mas sua finalidade é moral e suas pesquisas devem desenvolver-se nesse sentido. Provada a sobrevivência espiritual e a comunicabilidade, o Espiritismo deve aprofundar-se na investigação dos processos de comunicação, da situação dos Espíritos após a morte, das leis que regulam as relações permanentes entre os Espíritos e os homens e suas conseqüências nesta vida, e assim por diante.
            O leitor deve encarar este livro, portanto, como um tratado superior de fenomenologia paranormal, em que a fase metapsíquica e parapsicológica de pesquisa material está superada. O Livro dos Médiuns apresenta solução dos problemas em que ainda se enredam as pesquisas atuais e convida os estudiosos a avançarem além. Mas tudo isso com critério e métodos científicos, segundo o próprio Richet o reconheceu ao se referir a Kardec no Tratado de Metapsíquica.
            O problema está assim colocado: as pesquisas espíritas não se prendem aos fenômenos em si, ao mundo fenomênico ou material, e por isso mesmo exigem métodos diferentes dos utilizados nas ciências físicas. Kardec compreendeu isso em pleno século XIX e elaborou o método especial que lhe permitiu avançar sobre seu tempo. A prova disso é que toda a pesquisa metapsíquica e parapsicológica nada mais conseguiu, até agora, no tocante aos resultados positivos, do que referendar as teorias deste livro. Para ajudar o leitor e o estudante a verificarem isso, o presente volume apresenta grande quantidade de notas de pé de página com indicações bibliográficas.
José Herculano Pires,
Tradutor

terça-feira, 26 de maio de 2015

Intolerância - Grupo Espírita Allan kardec

Intolerância: não embarque nessa onda!



Por que somos tão intolerantes? Por que sentimos tanto prazer em comentar o lado desagradável de pessoas e situações? Por que enxergamos tão bem o cisco no olho do nosso vizinho e não enxergamos a trave no nosso? Por que exigimos perfeição dos que nos rodeiam e somos complacentes com nossos abusos?
Sentiu dificuldade em responder a essas questões? Não se impressione! Isso não acontece somente com você! E sabe por que ainda somos assim? Porque ainda predomina em nós o orgulho, que nos leva a dissimular nossos próprios defeitos! E a vaidade, que os disfarça de mil modos!
Estamos vivendo um momento delicadíssimo no que diz respeito a intolerância. Mas quando tratamos desse assunto, não estamos nos referindo apenas a intolerância social, política, religiosa, entre povos e nações. Estamos falando da intolerância que sai de nós mesmos em direção aos nosso semelhante, ao nosso próximo mais próximo, em todo e qualquer momento, seja onde for que estejamos.
Allan Kardec, que atuou como professor dos 19 aos 50 anos de idade, tinha uma preocupação enorme com as atitudes dos pais e educadores, das pessoas em geral, em relação aos jovens e crianças. Dizia ele que, uma palavra mal colocada por causa de um gesto de intolerância poderia por a perder todo o processo de regeneração de um ser.
No sermão da montanha, Jesus encorajou, enfaticamente, os mansos e pacíficos, isto é, os cultivadores da serenidade e da paciência; encorajou igualmente os pacificadores, ou seja, aqueles que promovem a paz. Encorajou-os para que continuassem com aquela postura, para que não desanimassem diante da dureza do coração humano e das dificuldades da vida, pois se assim fizessem, sairiam vitoriosos, dignos de merecerem o "Reino dos Céus".
Paciência significa "paz em nós". Se não conseguimos cultivar e promover essa paz em nós mesmos, dificilmente a aplicaremos em relação aos outros.
Estamos vivendo uma onda de intolerância, em todos os setores da atividade humana: no lar, no ambiente de trabalho, no trânsito, nas filas de bancos e supermercados, no meio social...
Não embarque nessa onda! Se a situação estiver extremamente complexa e perturbadora, ao invés de se render a qualquer gesto de intolerância, ligue o alerta:
S.O.S. = Silêncio. Oração. Serviço.
Se a intolerância tem sido uma prática constante em sua vida, faça algo em favor de si mesmo para não se deixar arrastar por ela! Quando puder e se quiser, assista o vídeo abaixo, sobre a mensagem  "Calma" do Espírito André Luis, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier. Que ela possa lhe proporcionar conforto e bem estar!

terça-feira, 19 de maio de 2015

Oração à Jesus - por Alessandra Uzêda

Oração à Jesus

Senhor Jesus, estejais conosco nos momentos difíceis!

Conforta os corações apertados e apreensivos pelas coisas da vida de encarnado. 

Como a vida é difícil e sobretudo como nós a dificultamos ainda mais por não a compreender sempre, a luz da razão.

Senhor Jesus, olhai por nós que buscamos a paz. A paz interior, a paz edificante, a paz do Amor Divino.

Senhor Jesus, conforta esses corações aflitos, atormentados pelas provações da vida, mesmo que estas provações sejam ou tenha sido escolhida por cada um de nós.

Senhor Jesus, que a sua infinita bondade derrame sobre os corações tomados pelos sentimentos negativos, o seu Manto de Amor e Misericórdia para com todos.

Senhor Jesus, ilumina a consciência desses seres encarnados a fim de que não desperdicem as suas últimas oportunidades de fazerem parte de um novo mundo.

Senhor Jesus, tende misericórdia desses espíritos desencarnados que ainda com a venda nos olhos, estão cegos pelo orgulho, pelo ódio, pela mágoa.

Concede-lhes Senhor, uma nova chance para que possam despertar para os dias de hoje em que se começa a regeneração.

Que a misericórdia Divina possa abrir-lhes os olhos e o coração para o entendimento e despertar de suas consciências.

Os olhos, para se utilizarem da razão para reconhecerem que os princípios elementares da formação moral do ser jamais devem ser feridos.

E o coração, para sentirem a emoção de serem amados como filhos do Pai que somos.

Abrir-lhes os olhos para perceberem que o seu limite termina quando o do outro começa e que não deves fazer aos outros aquilo que não gostaria que fizessem contigo.

Abrir-lhes o coração para que as emoções aflorem no sentimento que nutre entre aqueles que amam a fim de se permitirem colocar-se sem no lugar do outro.

Senhor Jesus, que essas palavras possam iluminar as mentes e corações daqueles que aqui estão e que ainda terão a oportunidade de escutar essas mensagens como bálsamo para suas feridas.

Obrigado Senhor Jesus, por permitir que as minúsculas faíscas da Tua luz possam clarear os caminhos de todos nós.

Que a paz de Deus esteja com todos!

Por Alessandra Uzêda
18/05/2015


sábado, 16 de maio de 2015

INQUISIÇÃO e DESOBSESSÃO - Relatos de uma Mediúnica

Relatos de uma Mediúnica
Inquisição e Desobsessão

Nas Mediúnicas de Desobsessão temos contado com a presença de entidades que se dizem inquisidoras, detentoras de um poder que acreditam que ainda têm. 

Não podemos menosprezar a sua inteligência e capacidade de articular e dominar hordas de Espíritos ainda dominados pelo poder religioso, que temem libertar-se das Imposições e torturas aplicadas a eles pelos Inquisidores da Idade Média, e que ainda sentem em sua constituição perispiritual as sensações sofridas pelas torturas e morte na Fogueira Santa. 

Pelos relatos de entidades dominadas por eles (Inquisidores), demonstram claramente  medo de sofrerem represálias e de contrariarem os seus interesses que não passam de um falso domínio que ainda acreditam ter criando as chamadas hordas espirituais, governadas por uma espécie de hipnose coletiva do psiquê de entidades sofredoras, subserviente e condenadas pelo seu próprio medo.

Entidades nessa condição do domínio inquisidor querem a qualquer custo atrapalhar e destruir todo e qualquer trabalho que se realiza no caminho do bem e do amor de Jesus Cristo. Portanto, tudo aquilo que se constrói de bom, de generoso, de instrutivo levando seres encarnados e desencarnados ao esclarecimento e despertar de sua consciência para o caminho do bem e do amor, os contrariam, e por isso mesmo, tentam destruir, interferir, obsedando aqueles envolvidos nos trabalhos de desarticulação dessas hordas espirituais maléficas, inclusive aqueles que os cercam. 

Àqueles que o cercam tentam a qualquer custo intervir em seus pensamentos, e por consequência em suas atitudes.  Agem pelo pensamento, influenciando-os a intervir nos compromissos espirituais daqueles que estão a trabalho da Espiritualidade Maior, destituindo o mal e fortalecendo o bem para que eles mesmos, ligados ao trabalhador, possam impedir a realização de seus trabalhos.

Essas entidades estão sendo doutrinadas para perceberem que ainda vivem num passado distante e precisam acordar para o momento espiritual da atualidade, a fim de evoluírem moralmente, pois intelectualmente são bem evoluídos, capazes de articular os planos mais mirabolantes.

Precisam se despir de seu orgulho e vaidade para perceberem que não são mais autoridades, mais que são apenas espíritos presos ao passados, incapazes de evoluir moralmente  porque estão dominados por um poder religioso que ainda acreditam ter mas que de nada vale no momento espiritual em que vive o Planeta Terra. 

Para estes Espíritos que vivem num estado de ignorância moral e ética, absolutamente, não há outra coisa a fazer do que VIGIAR as suas interferências e ORAR a Deus pela sua Misericórdia e Compaixão por esses espíritos ignorantes que ainda não compreenderam os ensinamentos de Jesus Cristo.

E para compreendermos ainda o que foi a Santa Inquisição, vejamos uma publicação feita pelo  CEFAK (Centro Espírita Fraternidade Allan Kardec, que nos dá um norte sobre esse acontecimento que ainda atua nos dias atuais.

 INQUISIÇÃO

Rodeada de uma auréola de fanatismo e intransigência, a Inquisição constituiu, na verdade uma instituição complexa, que variou notavelmente de forma segundo os lugares e épocas históricas. 

Inquisição, ou Santo Ofício, foi a designação dada a um tribunal eclesiástico, vigente na Idade Média e começo da modernidade, que julgava os hereges e as pessoas suspeitas de se desviarem da ortodoxia católica. 

Sua origem remonta ao século IV, mas atingiu o auge no século XIII, no combate às heresias e a outras práticas contra a fé e a unidade do cristianismo.

Depois entrou em declínio, até ressurgir em novos moldes na Espanha, onde alcançou enorme poderio, e em Roma. 

                          INQUISIÇÃO EM PORTUGAL

 Assim como na Espanha, a Inquisição em Portugal representava as camadas dominantes - a nobreza e o alto clero. 

Também julgava os hereges e as pessoas suspeitas de se desviarem da ortodoxia católicaO primeiro auto-de-fé realizou-se em Lisboa em 1540. 

No fim do século XVIII a Inquisição, tanto em Portugal como na Espanha, transferiu suas perseguições aos maçons e partidários das idéias dos enciclopedistas e Iluministas (Movimento filosófico, a partir do século XVIII, que se caracterizava pela confiança no progresso e na razão, pelo desafio à tradição e à autoridade e pelo incentivo à liberdade de pensamento). 

Até ser abolida, em 31 de março de 1821, vitimou um número de pessoas estimado em quarenta mil, das quais 1.175 foram queimadas. 

Com a expansão colonial, e porque muitos cristãos-novos fugiram para as colônias, também para lá a Inquisição emigrou.

INQUISIÇÃO NO BRASIL 

O Santo Ofício da Inquisição nunca estabeleceu oficialmente um tribunal no Brasil, embora tenha sempre agido sobre terras brasileiras por intermédio das autoridades eclesiásticas locais e visitadores.

Os bispos tinham poderes para efetuar prisões, confiscar bens de suspeitos e enviar prisioneiros ou seus processos para a Inquisição de Lisboa - Portugal, que tratava dos casos relativos ao Brasil e as demais colônias. 

Na última década do século XVI, o arquiduque Alberto da Áustria, inquisidor-mor de Portugal e colônias, mandou o visitador Heitor Furtado de Mendonça a São Tome, Cabo Verde e Brasil. 

A primeira "visitação" do Santo Ofício ocorreu em 09 de Junho de 1591, na Bahia, e estendeu-se até 1593, quando seguiu para Pernambuco, onde permaneceu por dois anos. 

Após a partida do visitador, o bispo da Bahia ficou incumbido da fiscalização. Além de realizar visitações anuais, enviava os processos para Lisboa, prendia, punia e confiscava os bens dos condenados.

Os jesuítas, assim como os vigários locais, ajudavam na busca dos culpados e suspeitos. 

Em 1618 chegou à Bahia o segundo visitador oficial, Marcos Teixeira, que organizou uma comissão inquisitorial e ali permaneceu até 1619. 

A partir de 1623, os negócios da Inquisição no Brasil ficaram entregues a um homônimo do visitador, o bispo Marcos Teixeira. 

De 1591 a 1624 foram processados 245 cristãos-novos, acusados de judaísmo. 

Durante as invasões holandesas, a Inquisição recebia denúncias contra cristãos-novos, mas estas eram mais dirigidas contra o inimigo político que contra o herege. 

Foram ouvidas mais de 120 testemunhas e denunciada mais de 100 pessoas, entre cristãos-novos, blasfemos, hereges e feiticeiros.

Em três séculos (XVI a XVIII), 29 brasileiros foram condenados à morte pela Inquisição de Lisboa. Crime praticado por eles: Prática do judaísmo. 

No Brasil, segundo atestam os registros históricos, nunca houve uma pena de morte pela fogueira. 

Dos 29 brasileiros condenados a morte, todos foram sentenciados pela Inquisição de Portugal. Sete foram mortos e depois queimados. Os outros 22 foram queimados vivos. (Enciclopédia Britânica do Brasil )