IV- Desigualdades das Riquezas - AS LEIS MORAIS CAPÍTULO IX- LEI DE IGUALDADE

LIVRO TERCEIRO
AS LEIS MORAIS
CAPÍTULO IX- LEI DE IGUALDADE
IV- Desigualdades das Riquezas
(Questão 806 a 807)

A desigualdade das riquezas nem sempre tem sua origem na desigualdade das faculdades, que dão a uns mais meios de adquirir do que a outros, se considerarmos que existe a astúcia e o roubo.
 
A riqueza hereditária, entretanto, pode ser fruto das más paixões. É preciso remontar à origem para ver se é sempre pura. Sabes se no princípio não foi o fruto de uma espoliação ou de uma injustiça?

Mas sem falar em origem, que pode ser má, crês que a cobiça de bens, mesmo os melhor adquiridos, e os desejos secretos que se concebem de possuir o mais cedo possível, sejam sentimentos louváveis? Isso é o que Deus julga, e te asseguro que o seu julgamento é mais severo que o dos homens.

Se uma fortuna foi mal adquirida, os herdeiros não serão responsáveis  pelo mal que outros tenham feito, tanto mais que o podem ignorar, mas fica sabendo que, muitas vezes, uma fortuna se destina a um homem para lhe dar ocasião de reparar uma injustiça. Feliz dele se o compreender! E se o fizer em nome daquele que cometeu a injustiça, a reparação será levada em conta para ambos, porque quase sempre é este último quem a provoca.

Sem fraudar a legalidade, podemos dispor dos nossos bens de maneira mais ou menos equitativa. Quem assim o faz é responsável, depois da morte, pelas disposições testamentárias pois toda ação traz os seus frutos; os das boas ações são doces e os das outras são sempre amargos; sempre, entendei bem isso.

A igualdade absoluta das riquezas não é possível pois a diversidade das faculdades e dos caracteres se opõe a isso.

Os homens, entretanto, que creem estar nisso o remédio para os males sociais são sistemáticos ou ambiciosos e invejosos. Não compreendem que a igualdade seria logo rompida pela própria força das coisas. Combatei o egoísmo, pois essa é a vossa chaga social, e não corrais atrás de quimeras.

Se a igualdade das riquezas não é possível, não quer dizer que acontece o mesmo com o bem-estar; mas o bem-estar é relativo e cada um poderia gozá-lo, se todos se entendessem bem…

Porque o verdadeiro bem-estar consiste no emprego do tempo de acordo com a vontade, e não em trabalhos pelos quais não se tem nenhum gosto.

Como cada um tem aptidões diferentes, nenhum trabalho útil ficaria por fazer. O equilíbrio existe em tudo e é o homem quem o perturba.

Somente será possível que todos os homens se entendam quando praticarem a lei da justiça.

Há pessoas que caem nas privações e na miséria por sua própria culpa; a sociedade pode ser responsabilizada por isso pois ela é sempre a causa primeira dessas faltas; pois não lhe cabe velar pela educação moral de seus membros?

É frequentemente a má educação que falseia o critério dessas pessoas, em lugar de aniquilar lhes as tendências perniciosas. 



(1) No mundo de hoje, este problema já vem provocando tentativas de solução. Trata-se do aproveitamento das vocações, cujo desperdício sistemático acarreta perdas consideráveis à economia social e profundo desequilíbrio na estrutura das sociedades (N. do T.)



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