domingo, 14 de setembro de 2014

I- Caracteres da Lei Natural - LIVRO TERCEIRO - CAPÍTULO I - Lei Divina ou Natural

LIVRO TERCEIRO
AS LEIS MORAIS
CAPÍTULO I- A LEI DIVINA OU NATURAL

(Questão 614 a 618)

A lei natural é a lei de Deus; é a única necessária à felicidade do homem; ela lhe indica o que ele deve fazer ou não fazer e ele só se torna infeliz porque dela se afasta.

A lei de Deus é eterna e imutável, como o próprio Deus.

Jamais Deus teria prescrito aos homens, numa época, aquilo que lhes proibiria em outra, pois que Deus não se engana; os homens é que são obrigados a modificar as suas leis que são imperfeitas; mas as leis de Deus são perfeitas. A harmonia que regula o universo material e o universo moral se funda nas leis que Deus estabeleceu por toda a eternidade.

As Lei Divinas abrangem todas as leis da Natureza, pois Deus é o autor de todas as coisas. O sábio estuda as leis da matéria; o homem de bem, as da alma, e as segue.


É dado ao homem aprofundar umas e outras, mas uma só existência não lhe é suficiente para isso.

Comentário de Kardec: Que são de fato, alguns anos para se adquirir tudo o que constitui o ser perfeito embora não consideremos mais do que a distância que separa o selvagem do homem civilizado? A mais longa existência possível e insuficiente e com mais forte razão quando ela é abreviada, como acontece com um grande número.

Entre as leis divinas, umas regulam o movimento e as relações da matéria bruta: são as leis físicas; seu estudo pertence ao domínio da Ciência.

As outras concernem especialmente ao homem e às suas relações com Deus e com os seus semelhantes. Compreendem as regras da vida do corpo e as da vida da alma: são as leis morais.

As leis divinas à luz da razão, nos diz que elas devem ser apropriadas à natureza de cada mundo e proporcionais ao grau de adiantamento dos seres que os habitam.


Por este princípio: “a lei natural é a lei de Deus, eterna e imutável como Ele mesmo”, certos teólogos católicos e protestantes acusam o Espiritismo de doutrina panteísta. Os mesmos fizeram com Espinosa, para quem Deus, a substância única é a própria Natureza, mas não no seu aspecto material, e sim nas suas leis. Espinosa respondeu: 

“Afirmo-o com Paulo, e talvez com todos os antigos hebreus.” (Carta LXXIII, explicando a proposição XV da “Ética”: “Tudo o que existe em Deus, e nada pode existir nem ser concebido sem Deus”). Embora exista funda divergência entre a concepção espinosiana e a espírita de Deus, ambas concordam ao negar o antropomorfismo católico e protestante, ao reafirmar o princípio Paulino acima citado e ao estabelecer a identidade de origem e natureza divina para todas as leis do Universo. Por outro lado, assim como Espinosa não confundia a natureza material (Natura naturata) com Deus, mas apenas a natureza inteligente ( natura naturans) , assim também o Espiritismo não faz semelhante confusão, estabelecendo ainda que as leis de Deus são uma coisa e Deus mesmo é outra. 

Veja-se o capítulo primeiro do livro primeiro, sobre Deus. Não há possibilidades de confusão entre Espinosa e Panteísmo, a menos que se admita como panteísta a doutrina da imanência de Deus, por força mesmo de sua transcendência; e nesse caso, católicos e protestantes também seriam panteístas. As revoluções atuais no campo da Teologia, particularmente o movimento da Teologia Radical, mostram mais uma vez o acerto da concepção espírita de Deus. (N. do T.)

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