sábado, 11 de agosto de 2018

QUEM ERAM OS DEGREDADOS?

A situação, no Brasil, sob todos os pontos de vista, como  a da metrópole portuguesa, era dolorosa e cruel. A raça aborígine e a raça negra sofriam toda sorte de humilhações e vexames. Os índios procuravam o Norte, em busca dos seus amigos franceses, que, expulsos do Rio por Mem de Sá, concentravam suas atividades no Maranhão, onde pretendiam fundar  a França Equinocial, preocupando seriamente as autoridades da colônia. A situação geral era a mais deplorável. 

Ismael e seus abnegados colaboradores sofrem intensamente em seus trabalhos árduos e quase improfícuos, no sentido de organizar o Instituto sagrado da família nas florestas inóspitas, onde os brancos não dispensavam consideração às leis humanas ou divinas, na condição de superioridade que se atribuíam. 

Aos céus ascendem os aflitivos apelos dos obreiros invisíveis: — Senhor!
— exclama Ismael nas suas preocupações 
— Estendei até nós o  manto da vossa infinita misericórdia. 
Enviai-nos o socorro das vossas bênçãos divinas, para que as nossas vozes sejam ouvidas pelos espíritos que aqui procuram edificar uma pátria nova. Nosso coração se comove ante os quadros deploráveis que se deparam às nossas vistas. Por toda parte, vêem-se os infortúnios das raças flageladas e sofredoras

Uma voz suave e meiga lhe responde do Infinito: 
— Ismael, nas tuas obrigações e trabalhos, considera que a dor é a eterna lapidaria de todos os espíritos e que o Nosso  Pai não concede aos filhos fardo  superior às suas forças, nas lutas evolutivas. 

Abriga aí, na sagrada extensão dos territórios do país do Evangelho, todos os infortunados e todos os infelizes. 

No meu  coração ecoam as súplicas dolorosas de todos os seres sofredores, que se agrupam nas regiões inferiores dos espaços próximos da Terra. Agasalha-­os no solo bendito  que recebe as irradiações do símbolo  estrelado, alimentando-os com o  pão  substancioso dos sofrimentos depuradores e das lágrimas que lavam todas as manchas da alma. 

Leva a essas coletividades espirituais, SINCERAMENTE ARREPENDIDOS DO SEU PASSADO OBSCURO E DELITUOSO, a tua bandeira de PAZ e de ESPERANÇA; ensina­-lhes a ler os preceitos da minha doutrina, nos códigos dourados do sofrimento. 

Ismael sente que luzes compassivas e misericordiosas lhe visitam o coração  e parte com os seus companheiros, em busca dos planos da erraticidade mais próximos da Terra. 

Aí se encontram antigos BATALHADORES DAS CRUZADAS, SENHORES FEUDAIS da Idade Média, PADRES e INQUISIDORES ESPÍRITOS REBELDES E REVOLTADOS, perdidos nos caminhos cheios da treva das suas consciências polutas

O emissário do  Senhor  desdobra nessas grutas do sofrimento a sua bandeira de luz, como uma estrela d'alva, assinalando o fim de profunda noite. 

— Irmãos 
—  exorta ele comovido 
—, até ao  coração do  Divino Mestre chegaram os vossos apelos de socorro espiritual. Da sua esfera de brandos arrebóis cristalinos, ordena a sua misericórdia que as vossas lágrimas sejam enxugadas para sempre. 

Um ensejo novo de trabalho se apresenta para a redenção das vossas almas, desviadas nos desfiladeiros do remorso e do crime.

Há uma terra nova, onde Jesus implantará o seu  Evangelho de caridade, de perdão  e de amor  indefiníveis.

Nos séculos futuros, essa pátria generosa será a terra da promissão para todos os infelizes.

 Dos seus celeiros inesgotáveis sairá o pão de luz para todas as almas; mas, preciso se faz nos voltemos para o seu solo virgem e exuberante a construir-lhe as bases com os nossos sacrifícios e devotamentos. 

Ali encontrareis, nos carreiros aspérrimos da dor que depura e santifica, a porta estreita para o céu de que nos fala Jesus nas suas lições divinas. 

Aprendereis, no livro dos padecimentos salvadores, a gravar na consciência os sagrados parágrafos da virtude e do amor, na epopeia de luz da solidariedade, na expiação e no sofrimento. 

Sabei que todas as aquisições da filosofia e da ciência terrestres são flores sem perfume, ou luzes sem calor  e sem vida, quando não se tocam das claridades do  sentimento. 

Aqueles de vós que desejarem o supremo caminho venham para a nossa oficina de amor, de humildade e redenção. E aí, nas estradas escuras e tristes da angústia espiritual, viu-se, então, que falanges imensas, ansiosas e extasiadas, avançavam com fervorosa coragem para as clareiras abertas naquela mansão de dor e de sombras. 

Todos queriam, no seu  testemunho de agradecimento, beijar a bandeira sacrossanta do mensageiro divino. O seu  emblema
— Deus, Cristo e Caridade
— Refulgia agora nas penumbras, iluminando todas as coisas e clarificando todos os caminhos. 

As esperanças reunidas, daqueles seres infortunados e sofredores, faziam a vibração de luz que então aclarava todas as sendas e abria todos os entendimentos para a compreensão  das finalidades, das determinações sublimes do Alto.

 Essas ENTIDADES ENVOLVIDAS PELA CIÊNCIA, mas POBRES DE HUMILDADE E DE AMOR, ouviram os apelos de Ismael e vieram construir as bases da terra do Cruzeiro.

Foram elas que abriram os caminhos da terra virgem, sustentando nos ombros feridos o  peso de todos os trabalhos. 

Nesse filão de claridades interiores, buscaram as pérolas da humildade e do sentimento com que se apresentaram mais tarde a Jesus, no dia, que lhes raiou, de redenção e de glória. 

Foi por isso que os negros do Brasil se incorporaram à raça nova, constituindo um dos baluartes da nacionalidade, em todos os tempos. Com as suas abnegações santificantes e os seus prantos abençoados, fizeram brotar as alvoradas do trabalho, depois das noites primitivas. 

Na Pátria do Evangelho têm eles sido  estadistas, médicos, artistas, poetas e escritores, representando as personalidades mais eminentes. 

Em nenhuma outra parte do planeta alcançaram, ainda, a elevada e justa posição que lhes compete junto das outras raças do orbe, como acontece no  Brasil, onde vivem nos ambientes da mais pura fraternidade. 

É que o Senhor lhes assinalou o papel na formação da terra do Evangelho e foi por esse motivo que eles deram, desde o princípio de sua localização no país, os mais extraordinários exemplos de sacrifício à raça branca. 

Todos os grandes sentimentos que nobilitam as almas humanas eles os demonstraram e foi ainda o coração deles, dedicado ao ideal da solidariedade humana, que ensinou  aos europeus a lição do trabalho e da obediência, na comuna fraterna dos Palmares, onde não havia nem ricos nem pobres e onde resistiram com o seu esforço e a sua perseverança, por mais de setenta anos, escrevendo, com a morte pela liberdade, o mais belo poema dos seus martírios nas terras americanas.

Por toda parte, no país, há um ensinamento caricioso  do  seu resignado  heroísmo, e foi por essa razão  que a terra brasileira soube reconhecer-lhes as abnegações santificadas, incorporando-­os definitivamente à grande família, de cuja direção muitas vezes participam, sem jamais se esquecer o Brasil de que os seus maiores filhos se criaram para a grandeza da pátria, no generoso seio africano.


Um comentário:

  1. Brasil! A pátria do evangelho para os espíritos que fizeram a redenção.

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