LIVRO
PRIMEIRO
AS
CAUSAS PRIMÁRIAS
CAPÍTULO
I - DEUS
IV – Panteísmo
Deus não pode ser considerado um ser distinto, ou seria, segundo a
opinião de alguns, a resultante de todas as forças e de todas as inteligências
do Universo reunidas, pois, se assim fosse, Deus não existiria, porque seria
efeito e não a causa; ele não pode ser, ao mesmo tempo, uma e outra.

Sobre a opinião segundo a qual todos os corpos da Natureza, todos os
seres, todos os globos do Universo seriam partes da Divindade e constituiriam,
pelo seu conjunto, a própria Divindade; ou seja, sobre doutrina panteísta,
pode-se dizer que não podemos ser Deus, o
homem quer pelo menos ser uma parte de Deus.
Os que professam essa doutrina pretendem nela encontrar a demonstração de
alguns dos atributos de Deus. Sendo os mundos infinitos, Deus é, por isso
mesmo, infinito; o vácuo ou o nada não existindo em parte alguma, Deus está em
toda a parte; Deus estando em toda parte, pois que tudo é parte integrante de
Deus, dá a todos os fenômenos da Natureza uma razão de ser inteligente. Em
oposição a este raciocínio, tem-se a razão.
Refleti maduramente e não vos será difícil reconhecer-lhe o absurdo.
Comentário
de Kardec:
“Esta
doutrina faz de Deus um ser material que, embora dotado de inteligência
suprema, seria em ponto grande aquilo que somos em ponto pequeno. Ora, a
matéria se transformando sem cessar. Deus, nesse caso, não teria nenhuma
estabilidade e estaria sujeito a todas as vicissitudes e mesmo a todas
necessidades da Humanidade; faltar-lhe-ia um dos atributos essenciais da
Divindade: a imutabilidade.
As propriedades da matéria não podem ligar-se
à ideia de Deus, sem que o rebaixemos em nosso pensamento, e todas as sutilezas
do sofisma não conseguirão resolver o problema da sua natureza íntima. Não
sabemos tudo o que ele é, mas sabemos aquilo que não pode ser, e este sistema
está em contradição com as suas propriedades mais essenciais, pois confunde o
criador com a criatura, precisamente como se quiséssemos que uma máquina
engenhosa fosse parte integrante do mecânico que a concebeu.
A
inteligência de Deus se revela nas suas obras, como a de um pintor no seu
quadro; mas as obras de Deus não são o próprio Deus, como o quadro não é o
pintor que o concebeu e executou. ”
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